Os dados são de uma pesquisa realizada pela Neon em parceria com o fundo de venture capital americano Flourish Ventures, com a ajuda da empresa 60 Decibels, com base em entrevistas junto a cerca de 1.600 microempreendedores individuais em todo o Brasil que são clientes da fintech.
Iniciado em maio, o estudo irá acompanhar parte desses MEIs ao longo de seis meses para observar a evolução de seu comportamento e de suas finanças durante a pandemia.
“Nosso objetivo é entender como os microempreendedores individuais foram afetados pela crise do coronavírus para, assim, descobrir de que forma a Neon e outras empresas podem dar o apoio que esses mais de 10 milhões de MEIs precisam”, comentou Marcelo Moraes, diretor da área de pessoa jurídica da Neon.
A primeira fase do estudo no Brasil revelou que, antes do coronavírus, 2% dos MEIs recebiam menos de R$ 500 por mês, número que chegou a 37% após a chegada do vírus ao país. Na outra ponta, a parcela dos MEIs que faturavam mais de R$ 3.000 ao mês caiu de 24% para 3%. Entre as categorias mais afetadas estão os motoristas de aplicativo, profissionais de beleza e vendedores que trabalham na rua.
As principais causas da queda de renda foram a diminuição nas vendas, ao encontro do medo generalizado de contaminação e da menor quantidade de pessoas nas ruas, apontada por 48% dos MEIs. Outros motivos bastante citados foram perda de emprego (31%) e fechamento do negócio (19%).
Essa redução de renda foi acompanhada por uma piora na qualidade de vida. Para 38%, a vida piorou muito e para 39%, piorou um pouco. Entre aqueles para quem a vida piorou, 21% disseram ter dificuldades em pagar as contas e 8% têm passado por episódios de ansiedade.
Além disso, com a crise econômica, a redução de renda e a perda de empregos, 32% dos MEIs precisaram passar a sustentar mais pessoas do que antes da pandemia.
Para sobreviver, os microempreendedores estão apostando principalmente em adaptar seus serviços às limitações impostas pela pandemia. Há exemplos como o de motoristas de aplicativo que fazem máscaras para vender aos passageiros, ou profissionais de beleza que agora atendem em casa em vez de no salão.
Para 53%, por outro lado, a saída foi tirar dinheiro da poupança que não tinham a intenção de gastar, enquanto 50% cortaram os gastos da casa. Outras formas apontadas para lidar com as perdas foram pedir dinheiro emprestado (39%), deixar de pagar prestações (26%), vender um bem (18%), arrumar um trabalho novo (14%) e reduzir o pagamento de empréstimos contraídos anteriormente (6%).
Com relação aos cortes de custos pessoais, mais da metade dos MEIs (53%) reduziu gastos com comida, enquanto 29% reduziram as despesas com contas da casa – lavar roupas com menos frequência, tomar banhos frios e esquentar comida só em uma refeição do dia foram mencionados.
Entre os MEIs que buscaram uma fonte de renda extra, a atividade mais comum é a de vendas, adotada por 37% dos entrevistados. Já 18% agora fazem entregas, 12% fazem trabalhos domésticos, 8% oferecem serviços de reparos e 6% entraram em aplicativos de transporte.
As perspectivas, porém, não são positivas entre os microempreendedores. Quase metade (42%) diz não ter nenhuma fonte de esperança, número bastante mais alto do que a média observada em outros países em que a pesquisa foi feita (16%). Pouco mais da metade dos MEIs (52%) recebeu ajuda do governo até agora e 75% destes usaram o dinheiro para comprar comida.
Apenas 3% desses empreendedores se dizem tranquilos com o cenário atual. Para 88% desses mais otimistas, a situação é muito preocupante, enquanto para 9%, é um pouco preocupante. Os principais motivos de apreensão citados foram saúde, capacidade de trabalhar e gerar renda, acesso a comida e a serviços básicos e os efeitos da covid-19 na economia brasileira.
“A comparação entre o número de brasileiros que dizem não ter nenhuma fonte de esperança com microempreendedores de outros países mostra que a situação do Brasil é particularmente desafiadora. Mas vemos também que os MEIs têm encontrado apoio em sua comunidade e que um tem ajudado o outro para atravessar essa crise”, diz Moraes.
Para ele, o setor tem potencial para promover uma retomada após a crise, mas isso dependerá de ajudas mais efetivas de governo e sistema financeiro. “A boa notícia é que os próprios empreendedores já sinalizaram suas maiores dores, principalmente o acesso a crédito e a informação de qualidade”, completa Moraes.
Fonte: Valor