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A bola fora do J.P. Morgan e dos grandes clubes da Europa mostra que o futebol precisa mudar

Nos últimos 4 anos, uma série de reuniões secretas gestou o que parecia ser uma das maiores revoluções da história do esporte: a Superliga de clubes da Europa. Mas o anúncio espalhafatoso da criação do torneio, feito no domingo 18 pelos doze integrantes fixos do movimento, acabaria gerando, poucas horas depois, uma goleada de indignação entre dirigentes, treinadores, atletas e torcedores.

A ideia de criar uma liga de futebol para se contrapor à tradicional Champions League, o campeonato de clubes mais importante e rentável da Europa, acompanhado por fãs de futebol no mundo todo, morreria apenas três dias depois de nascer. A Superliga virou um superfiasco.

Por que isso ocorreu se por trás da iniciativa estavam gigantes do futebol mundial? Integravam o projeto times como Barcelona, Real Madrid, Juventus, Manchester City, Manchester United, Liverpool e Milan, para citar apenas alguns. Não é difícil, imaginar, portanto, a excelência de um torneio com presenças tão ilustres.

A Superliga naufragou por uma razão aparentemente simples, mas que tem tremendo significado no mundo do futebol: sob diversos aspectos, ela daria um bico no mérito esportivo, reservando a um círculo de poucos eleitos a possibilidade de brilhar nos gramados.

O campeonato seria formado por quinze equipes fixas, que de lá nunca sairiam qualquer que fosse o seu desempenho, e mais cinco convidadas, sem que se soubesse quais seriam os critérios para selecioná-las.

Ou seja, a Superliga fere os princípios que regem o futebol no mundo há mais de um século: graças a eles, equipes menos poderosas podem medir forças com um gigante e, quem sabe, vencer campeonatos. Na Superliga, confrontos épicos entre Davi e Golias jamais ocorreriam.

“Não é esporte quando não há relação entre o esforço e o sucesso”, alfinetou Pep Guardiola, o magistral técnico do Manchester City – time que, ressalte-se, estava entre os integrantes da nova liga. “A Superliga esqueceu de ouvir a parte mais interessada: os torcedores”, disse Karl-Heinz Rummenigge, um dos maiores jogadores da história da Alemanha e presidente do Bayern de Munique, time que se recusou a participar do projeto.

Em um protesto realizado em frente ao estádio Old Trafford, do Manchester United, um cartaz dizia “não roubem a nossa paixão”

Os torcedores, de fato, ficaram horrorizados com a ideia. Em um protesto realizado em frente ao estádio Old Trafford, do Manchester United, um cartaz dizia “não roubem a nossa paixão”. Fãs do londrino Chelsea, outro clube fundador da Superliga, escreveram numa faixa “somos torcedores, não clientes.”

As manifestações parecem justas. É verdade que o movimento ignora um dos principais combustíveis do futebol – a paixão –, mas deve-se reconhecer que o esporte mais popular do mundo é também um grande negócio.

Nos últimos anos, a explosão de custos inerentes ao futebol moderno, do pagamento dos salários estratosféricos dos craques à infraestrutura necessária para manter um time de ponta, caminhava para um colapso.

A complexa situação agravou-se com a pandemia, que deu uma canelada nas finanças dos clubes. Estádios sem público, sumiço de patrocinadores e queda expressiva das vendas de itens licenciados formaram a tempestade perfeita até para os times mais ricos da Europa.

Estima-se que os 12 fundadores originais da Superliga perderam 800 milhões de euros em receitas no ano passado

Estima-se que os 12 fundadores originais da Superliga perderam 800 milhões de euros em receitas no ano passado, o que se deve sobretudo à crise do coronavírus. Ninguém fica imune a uma tragédia financeira de tal dimensão.

A saída encontrada pelos clubes foi lançar a Superliga, mesmo de forma apressada. Ela, afinal, já nasceria com um volume expressivo de recursos, além da perspectiva de gerar mais receitas do que a velha Champions.

Por trás do projeto estava o banco americano J.P. Morgan, que havia se comprometido a financiar 3,5 bilhões de euros para viabilizar a empreitada. O valor seria dividido como um adiantamento de cerca de 230 milhões de euros para cada participante.

Além disso, os criadores do movimento acreditavam que os jogos entre equipes estreladas proporcionariam um espetáculo televisivo global capaz de gerar 4 bilhões de euros por ano, desembolsados por emissoras e patrocinadores. Se o valor se confirmasse, representaria quase o dobro do montante amealhado pelos integrantes da Champions.

Em troca da avalanche de recursos, os clubes se comprometeriam a gastar no máximo 55% de suas receitas com salários de jogadores, transferências e taxas de agentes. Atualmente, os grandes times europeus desembolsam entre 70% e 80% de suas receitas apenas para bancar a remuneração dos atletas.

Por trás do projeto estava o banco americano J.P. Morgan, que havia se comprometido a financiar 3,5 bilhões de euros para viabilizar a empreitada

As inspirações da Superliga vieram da NBA e NFL, ligas fechadas de basquete e futebol americano dos Estados Unidos. A questão é que o esporte americano se desenvolveu a partir da estreita relação entre as ligas profissionais e universitárias, além de ter as suas próprias formas de promover equilíbrio, como o controle de contratações e a preferência dos times mais fracos para selecionar jovens talentos.

É inegável a influência americana no projeto da Superliga. O dono do Liverpool, John W. Herny, é também o proprietário do time de beisebol Boston Red Sox. A família Glazer, dona do Tampa Bay Buccaneers, da NFL, controla o Manchester United.

Isso sem contar o financiamento do americano J.P. Morgan, que pretendia usar a Superliga como um chamariz para o banco exclusivamente digital que lançará no Reino Unido ainda em 2021.

Diante da repercussão negativa, o banco soltou um comunicado constrangido na sexta-feira 23. Nele, pede desculpas por ter se envolvido com a inciativa. “Obviamente, avaliamos mal como esta operação seria percebida pelo mundo do futebol e o impacto que teria no futuro.”

O superfiasco não esconde uma verdade irrefutável: o futebol precisa mudar. O crescimento explosivo de custos afetará a sobrevivência dos clubes, e alguns deles já correm sérios riscos. Outro aspecto preocupante é o crescente desinteresse dos jovens.

Um estudo recente realizado pela Associação de Cubes Europeus constatou que 40% dos entrevistados entre 16 e 24 anos não seguem o esporte mais popular do planeta. O que os dirigentes precisam ter em mente é que uma liga elitista e desconectada da paixão dos torcedores não resolve o problema. Muito longe disso.

Fonte: Neofeed

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