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A BRF quer você na cozinha e, de preferência, consumindo os produtos dela

O presidente da gigante de alimentos BRF, Lorival Luz, passou a última sexta-feira, 26, numa rotina intensa de videoconferências com analistas, investidores e funcionários. O motivo: comentar os resultados da empresa ao longo de 2020. Apesar da fadiga causada por tanto falatório, o humor de Luz não podia estar melhor. “Estou otimista com o resultado da empresa por tudo aquilo que a gente construiu no ano passado, com os novos produtos que a gente lançou”, disse ele. “A gente está bem positivo.”

A BRF conseguiu superar seus traumas dos últimos anos e, ao que tudo indica, saiu mais forte da pandemia. Em 2020, com o mundo de cabelo em pé por causa da crise sanitária, a empresa aumentou as receitas em 18% na comparação com o ano anterior – foram 39 bilhões de reais em vendas.

O lucro líquido da companhia, de 1,4 bilhão de reais no ano passado, é praticamente música para os ouvidos de investidores acostumados a escutar as notícias de prejuízos em série da maior processadora de alimentos do país. Em 2018, por exemplo, a companhia divulgou prejuízo societário de 4,4 bilhões de reais. Na comparação trimestral, os resultados de outubro a dezembro de 2020 mostram crescimento de dois dígitos em 12 meses e superaram as projeções de analistas (veja gráfico abaixo). “A gestão da companhia está nos trilhos”, diz Luz.

Em boa medida o otimismo da BRF deriva de um efeito colateral da pandemia. Com a quarentena, a cozinha voltou a ganhar importância para muita gente acostumada a fazer refeições fora de casa antes da crise sanitária. Um público que até então tinha pouca ou nenhuma intimidade com a culinária usou o tempo livre trancado em casa para arriscar-se no preparo de quitutes como pães artesanais e bolos caseiros – e, claro, exibir o resultado no Instagram.

Atenta a essa mudança no hábito de consumo de alimentos, a BRF criou uma força-tarefa no ano passado para atender a essas novas demandas. O rol de quase 300 novidades do ano passado teve a ampliação do portfólio de produtos congelados, como novos sabores da linha Hot Pocket, de hambúrgueres congelados.

Além disso, linhas de novos produtos foram criadas do zero, como uma categoria de frangos orgânicos, voltada a consumidores interessados em entender tim-tim-por-tim-tim a origem do alimento que leva à mesa – a chamada “saudabilidade”, para usar um jargão de quem trabalha no setor. Tudo isso foi embalado por mais de 900 receitas publicadas nos canais de comunicação da BRF de modo a ensinar os consumidores mil e uma maneiras de preparar as novidades.

Um dos melhores exemplos dessa guinada em direção à cozinha de casa feita pela BRF no ano passado está no lançamento de uma linha de requeijão, manteiga e pão de queijo com a marca Qualy, até então focada no segmento de margarinas. Lançada há três décadas, a marca é imbatível no café da manhã: 44% das margarinas vendidas no Brasil são da marca, segundo dados da empresa.

Na quarentena, pesquisas de mercado encomendadas pela empresas mostraram um apetite crescente dos consumidores de margarinas em usar o produto no preparo de bolos ou outros quitutes feitos no forno de casa. “As crianças que iam para a escola passaram a ficar em casa e a ter um convívio familiar que não existia antes”, diz Marcelo Suárez, diretor de marketing da BRF desde 2019. “Qualy teve um aumento de consumo importante com o consumidor fazendo as pazes com a cozinha e indo aprender a fazer um bolo para os filhos, por exemplo.” Em plena pandemia, o market share da Qualy cresceu 1,2 ponto percentual em relação a 2019.

O consumo de alimentos prontos (ou quase isso) dentro de casa tem tudo para seguir no centro das apostas da BRF para os próximos anos. O apetite por pratos prontos está bombando. Em 2020, as vendas de pratos da categoria chamada de ‘ready meals’ cresceram 10% e chegaram a 130 bilhões de dólares no mundo, de acordo com dados da empresa de pesquisa de mercado Euromonitor.

No Brasil, mesmo com a cotação do dólar nas alturas, o que reduz o valor das vendas fechadas em reais no mercado doméstico, essa categoria cresceu 6% no ano passado – foram 1,2 bilhão de dólares. E a expectativa é de vendas mais altas daqui para frente. A projeção da Euromonitor é uma alta perto de 6% na venda de ‘ready meals’ no Brasil até 2025, o suficiente para movimentar 1,7 bilhão de dólares daqui quatro anos. Se confirmada, será uma expansão acima da média mundial, de 1% até lá.

Ao que tudo indica, a pandemia e as apostas certeiras para entender o novo perfil do consumidor tiraram a BRF do inferno astral que vinha passando. Entre 2017 e 2018 a empresa gerou uma sucessão de notícias negativas que irritaram os investidores. Uma reestruturação do modelo de negócios capitaneada pelo empresário Abilio Diniz, então presidente do conselho da empresa, forçou cortes de custos generalizados em vários pontos da cadeia produtiva da BRF.

As medidas revoltaram boa parte de produtores do interior de Santa Catarina – peça-chave para a fundação dos frigoríficos Sadia e Perdigão, embrião da BRF. Cortes na força de vendas da companhia levaram muitos profissionais com anos de experiência para os braços da concorrente JBS. Para completar, a empresa foi uma das principais investigadas na Operação Carne Fraca, que investigou corrupção na relação entre indústrias de alimentos e vigilantes sanitários.

Tudo isso fez o valor da ação da companhia tombarem 70% em três anos – elas chegaram a 20 reais no auge da crise, em 2018. De lá para cá, os papéis ensaiaram uma alta, mas a crise sanitária manteve os valores no patamar dos 20 reais. A aposta da BRF é de que a cozinha de casa vai seguir relevante mesmo com a vacinação e o retorno a uma vida pré-pandemia. Resta saber se consumidores e investidores vão embarcar no otimismo atual da companhia.

Fonte: Exame

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