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A eleição de Joe Biden e a sustentabilidade das empresas brasileiras

Apesar do tema ter aparecido nos debates entre George Bush e Al Gore, em 2000, apenas em 2020 que a mudança do clima ganhou realmente a atenção, não apenas dos eleitores americanos, mas da sociedade global. Mesmo o negacionista Donald Trump, quando interpelado, apresentou um esboço de plano para mitigar os efeitos que já assolam todo o mundo.

Nota-se, portanto, que a vitória do vice-presidente de Barack Obama não inicia essa jornada no país, mas sela o fim de uma crise de inação do governo federal dos Estados Unidos – embora os governos subnacionais e empresas publicam o tempo todo compromissos de combate à mudança do clima.

Soma-se ao interesse ambiental, uma intensa mobilização social, materializada pelos protestos, iniciados pelo assassinato de George Floyd, que envolveram vários países no mundo para a causa antirracista. Luta contra o racismo é luta contra a desigualdade, que aumentou em mais de 20% desde a década de 1980, segundo o Pew Research Center. Esse abismo social cresceu ainda mais em 2020 por conta da pandemia, crise sanitária oriunda de uma crise ambiental. Ou seja, os nossos problemas estão conectados e um alimenta o outro.

Contexto de efervescência social e urgência climática que faz governos, empresas e sociedade civil agirem. Jeffrey Sachs retrata esse momento como sendo “ainda mais complicado pela crise ecológica que acompanhou o crescimento econômico global. O desafio é claro e complexo: manter a economia saudável, equacionando as crescentes desigualdades dentro das nações, as mudanças geopolíticas e as ameaças ambientais cada vez mais terríveis. Este é o drama da atualidade.

E os líderes empresariais têm uma grande responsabilidade sobre este desafio, pois na sociedade de hoje as pessoas esperam que as empresas sejam protagonistas na equação dos nossos problemas. Os CEOs, por exemplo, são convocados pela sociedade para liderarem movimentos de mudança, em vez de esperarem que os governos assumam a dianteira. Segundo o Barômetro da Confiança de 2020, 74% das pessoas têm esta expectativa.

Posto isso e voltando às eleições nos Estados Unidos, aparentemente, Joe Biden será um acelerador dessa transição. Em seu discurso da vitória promete alcançar justiça racial, combater a desigualdade e a mudança do clima. Os compromissos já estão desenhados no seu plano de governo “build back better”. Javier Solana, na Project Syndicate, entende que as primeiras decisões importantes de política externa serão voltar ao acordo climático de Paris, impedir a retirada dos EUA da Organização Mundial da Saúde e adotar uma posição muito mais construtiva do que a de seu antecessor em relação à Organização Mundial do Comércio.

No artigo The Can-Do Power, Samantha Power, completa que o governo americano retornará ao Pacto Global para Migração e ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. Certamente como a União Europeia já está fazendo, os EUA colocarão, lado a lado, questões de comércio e clima, e comércio e direitos humanos. Inclusive, o plano climático da gestão Biden prevê a adoção da política de name and shame para países considerados “foras da lei” climáticos.

Além disso, especialistas como Rolf Skar recomendam que o novo governo estabeleça metas climáticas em acordos comerciais para descarbonizar as empresas e suas cadeias. Os Estados Unidos devem, ainda, renovar sua diplomacia climática e desempenhar um importante papel na COP26, cujo objetivo principal é engajar países na contratação de metas de neutralidade climática, já anunciadas pela União Europeia, China, Japão e muitos outros. Biden sinalizou a meta de neutralidade climática para 2050, a ser viabilizada pelo pacote de USD 1,7 trilhão do Green New Deal.

Susan Biniaz e Leonardo Martinez integram a equipe do presidente eleito e têm larga experiência em negociações climáticas com foco em financiamento. Biniaz já passou por três governos, com atuação em financiamento para adaptação climática. Segundo a revista Político, o trabalho de Martinez, que estava no WRI, concentra-se nas ameaças à estabilidade do sistema financeiro representadas pela mudança do clima, apoiando na canalização de recursos de organismos multilaterais para o cumprimento do acordo de Paris.

Provavelmente, as recomendações do relatório “Managing Climate Risk in the Financial System”, encomendado pela Commodities Futures Trading Commission, serão implementadas. Entre elas, a exigência de que as empresas divulguem aos acionistas seus riscos financeiros decorrentes das mudanças climáticas. Isso irá gerar um efeito cascata no mercado financeiro globalmente.

Biden-Harris foram eleitos com voto massivo da população negra, principalmente das mulheres negras e dos jovens, que nunca compareceram tanto às urnas. A escolha de uma mulher negra para vice-presidente foi quase uma exigência da população pela ampliação da diversidade. Os jovens estão nas ruas e redes sociais cobrando mais diversidade em esferas de poder e ações de combate à desigualdade. Isso já está se refletindo na escolha do gabinete do presidente eleito.

Em 2016, os EUA aprovaram o Plano de Ação Nacional para Empresas e Direitos Humanos e a Lei de Responsabilidade dos Direitos Humanos Global Magnitsky, que promovem os temas relacionados a direitos humanos e corrupção e podem gerar sanções a países e/ou empresas. Também há numerosas leis e atos internos e as Diretrizes de Conduta Responsável para Multinacionais da OCDE, que prevê uma série de mecanismos de punição. Assim, o arcabouço jurídico já existe. No entanto, a maior pressão social poderá fazer com que essas leis sejam realmente efetivas.

E como este momento de mudanças na arena internacional pode ser positivo para o nosso país? Na Rede Brasil Pacto Global temos um mantra: a sustentabilidade é uma vantagem comparativa das empresas brasileiras, por conta do forte arcabouço legal trabalhista, da matriz energética mais limpa do mundo, da liderança na bioeconomia, dos níveis de emissões de gases de efeito estufa mais baixos que outros países em desenvolvimento, entre outros fatores. No Brasil, a adoção de uma economia verde pode acrescentar R$ 2,8 trilhões ao PIB, segundo o relatório Uma Nova Economia para uma Nova Era: Elementos para a Construção de uma Economia Mais Eficiente e Resiliente para o Brasil.

Para além da importância de mercado, como segundo principal destino das exportações brasileiras, com 9,7% do total, os EUA certamente serão muito vocais sobre os fatores ESG, afetando não apenas o comércio bilateral, mas impondo uma ordem definitiva no comércio global, liderada pela sustentabilidade. Ainda, muito provável, utilizem as práticas sustentáveis para o protecionismo. Mas, no final das contas, o tabuleiro geopolítico ficará mais limpo, inclusivo e justo.

Nesse sentido, cabe aos líderes empresarias, com o mandato que vêm recebendo da sociedade brasileira, fortalecer as ações sustentáveis nas suas operações e cadeias e, também, junto aos governos federal e subnacionais, no intuito de patrocinar a transição para a economia de stakeholders, na qual fatores sociais, ambientais e de governança indicam os caminhos. E, com isso, transformar as nossas vantagens comparativas, de fato, em vantagens competitivas.

Fonte: Exame

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