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‘A Pedra do Reino’: Edição especial comemora 50 anos do épico nordestino de Ariano Suassuna

Está chegando às boas casas do ramo um box muito bonito que marca os 50 anos de lançamento de “A Pedra do Reino”, de Ariano Suassuna, romance que é uma caixinha de surpresas. À medida que o leitor avança nas páginas, surgem poesia, cordel, sons, mil artimanhas. É o retrato da riqueza narrativa de Suassuna, mais reconhecido pela peça “O auto da Compadecida” (1955), clássico escolar que virou filme de sucesso em 2000 e vem sendo exibido à exaustão. Merece. Sem falar que o segundo livro do box, com reproduções de ilustrações criadas por Suassuna, manuscritos e textos de apoio, é uma festa para os olhos.

Morto em 2014, aos 87 anos, Suassuna sempre foi delirante em suas criações. Nada de patológico nisso, muito pelo contrário, posto que arte é para bagunçar tudo mesmo. Atento ao tal Brasil profundo, ele batia na caçarola as fabulações dos sertões com as idiossincrasias d’além-mar. Desse caldo de vivências saíram personagens plenos em salamaleques, safos e safados, tementes a deuses, reis e coronéis, produzindo a cultura erudita brasileira que o escritor quis explicitar no seu Movimento Armorial, nos anos 1970.

Vem daí a graça deste “Romance d’A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta”, título comprido que já ecoa as novelas de cavalaria e a literatura de cordel — ou, mesmo, o “Dom Quixote”, sua referência (e reverência) mais evidente. Quem puxa o espetáculo é Dom Pedro Dinis Ferreira-Quaderna, pretendente ao trono do Brasil e descendente de Dom João II, O Execrável. Nada a ver com “os estrangeirados e falsificados da Casa de Bragança”, mas, sim, com os reis da Pedra do Reino do Sertão, entre 1835 e 1838.

Já começa aí a mistura de realidade com fantasia — com vantagem para a realidade, sempre surpreendente. Suassuna parte de um episódio histórico fascinante, que nos remete a 1578, quando Dom Sebastião, jovem rei de Portugal, morre em combate. Mas o povo nunca aceitou seu desaparecimento, alimentando o misticismo que nos assola desde sempre. Já no século XIX, o sertanejo João Antônio dos Santos garantiu que o finado Dom Sebastião aparecera em Pernambuco, prometendo voltar das trevas para acabar com a vida miserenta do povo. Para preparar o grande dia, João Antônio intitula-se rei de Pedra Bonita, a cerca de 400km do Recife, onde duas rochas de 30 metros de altura dominam a paisagem.

Cores e sonoridades

Esse rei legitimamente brasileiro consegue centenas de seguidores, desafetos e até um sucessor — o tal Dom João II. A seu tempo, a polícia cai-lhe em cima, desfazendo o Arraial da Pedra Bonita, onde fieis eram sacrificados em honra ao rei sumido. A semelhança com vida e obra de Antônio Conselheiro não é coincidência: não é de hoje, afinal, que somos sebastianistas, daí esperarmos fervorosamente a vinda de um salvador que sequer existe.

Como se vê, o fato histórico já é, por si, bem condizente com aquelas narrativas populares que se espalham país adentro. Com a releitura e a recriação de Suassuna, a obra se torna um épico atemporal que chega resoluções mirabolantes. Mais que o enredo, o que importa é a caminhada: Quaderna é irrequieto e esperto, sempre enrolado em situações e diálogos desconcertantes, tudo demasiado humano, nada gratuito.

Transpostas para as telas, essas histórias maravilham, claro — como foi o caso da premiada minissérie “A Pedra do Reino” (2007). Mas os leitores têm a chance de perceber que, por escrito, todas as cores e sonoridades já pulsavam ali no papel. Como se constata em suas palestras presentes no YouTube, Suassuna era um incansável contador de causos — diversão garantida nos chás da Academia Brasileira de Letras, para onde foi eleito em 1990. Professor respeitado da Universidade Federal de Pernambuco, era também muito, muito vaidoso por encarnar os fabuladores anônimos de outrora.

Por essas e outras, “A Pedra do Reino” é boa pedida para quem se aventura em longas jornadas.

“A Pedra do Reino”
Autor: Ariano Suassuna. Editora:Nova Fronteira. Páginas:1088 (dois volumes). Preço: R$ 249,90.

Fonte: O Globo

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