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A realidade irá se impor ao governo na sustentabilidade, diz CEO da Klabin

Sempre que se sente consumido pelo mundo corporativo, Cristiano Teixeira, diretor-presidente da Klabin, recorre às suas origens. Ouvir um bom “rap raiz”, como ele descreve, o faz retornar aos tempos em que acordava de madrugada para esperar o primeiro ônibus da linha Morro Doce, que o levava da Freguesia do Ó, bairro humilde de São Paulo, até os escritórios da Avenida Paulista. Teixeira deu seus primeiros passos na carreira como office boy.

A vontade de estudar e ficar longe do mau caminho o fizeram chegar onde está, no comando de uma das maiores empresas de papel e celulose do mundo. Mas essa parte da vida, essa pequena parte, não é composta apenas de felicidade. Teixeira sente certa frustração quando pensa em sua trajetória e no rumo que o Brasil tomou no mesmo período. Ele não poderia pedir mais. Já o país, não viveu à altura do seu potencial.

O que está errado, segundo o executivo, é a falta de um plano de longo prazo que faça o país crescer em produtividade, e não apenas no consumo incentivado por transferências de renda. Em entrevista para o podcast ESG de A a Z, Teixeira falou sobre suas frustrações com o Brasil e sobre as expectativas para o futuro. Convidado para participar da COP26, a conferência do clima da ONU, que será realizada em Novembro no Reino Unido, ele também comentou a importância desse evento. Confira os principais trechos da entrevista:

O que está em jogo na COP26?

A questão do meio ambiente está sendo debatida desde 1992, quando ainda se falava de ecologia. O Brasil, inclusive, teve um protagonismo grande nas discussões. Se sairmos de Glasgow com o estabelecimento de um mercado de carbono regulado, de qualquer forma, será positivo. Agora, pode ser apenas positivo, ou muito positivo, dependendo das negociações.

Essas negociações são conduzidas apenas no âmbito dos governos, ou as empresas também têm um protagonismo?

Eu participo no grupo de empresas. Somos 10 CEOs do mundo todo. Mas há núcleos de empresas, de ONGs e de governos. As negociações acontecem em paralelo.

Então, independentemente do que os governos decidirem, o setor empresarial irá seguir com a agenda da economia de baixo carbono?

Exatamente. Governos têm essa característica de correr atrás da realidade. Não é demérito, é assim que funciona. Na sustentabilidade, a realidade vai se impor, os governos terão de colocar regulação, legislação, porque as empresas já estão buscando isso.

Como a Klabin se situa no atual cenário, considerando os esforços em se enquadrar nos padrões ESG e, ao mesmo tempo, lidando com os efeitos da pandemia?

Olhar para a pandemia como oportunidade tem uma certa frieza. Faço a ressalva que, sem apontar culpados, a maneira como estamos lidando com isso, com falta de coordenação e organização, até na aquisição de remédios, sinaliza uma crise de gerenciamento do Brasil. Para a Klabin, algumas condições favoreceram os negócios. O consumo se voltou muito ao setor de alimentos, principalmente, e outras necessidades básica. Da nossa receita, 70% é alimento e somos fortes em higiene e limpeza.

Uma pesquisa recente mostra que muitos empresários estão otimistas com o desempenho das suas empresas, porém pessimistas com a economia brasileira. Qual é a sua visão sobre isso?

A empresa não tem opção. Ela tem acionistas. Quem é esse acionista? Todos nós. Qualquer pessoa que tenha um dinheirinho sobrando pode comprar ações da Klabin. Se o acionista não é remunerado, ele vende a ação. A empresa tem de se virar. Nessa visão de curto prazo, a Klabin está muito bem. Saindo desse mundinho “egoísta” e entrando no mundo real, onde nossos filhos irão crescer, o cenário é de tristeza. Ficamos felizes porque em 2010 mais de 40 milhões de pessoas entraram para o consumo. Agora, ficamos felizes porque 70 milhões receberam o auxílio emergencial e entraram para o consumo. São visões de curto prazo, que não mexem com a estrutura do país, baseadas em consumo e decepcionantes para quem quer um Brasil digno. A educação, que é de fato transformadora, não está avançando, ou seja, a produtividade só piora. Se a produtividade não cresce, a base de consumo produtivo também não cresce e o que se tem é o consumo por assistência. É super humano, mas não adianta. Claro que ficamos felizes quando vemos alguém que não tinha o que comer com um prato de comida. Mas não adianta, se o filho dele estará na mesma condição. Ao fugir do debate sobre esses problemas estruturais, fazemos do Brasil um país de voo de galinha.

O sr. veio de uma família humilde e pode ser considerado um self made man. Não é frustrante que muitos jovens seguem sem ter oportunidades?

É frustrante. Quando eu fico muito tempo no mundo empresarial, faço questão de ouvir um rap raiz para lembrar de quando eu pegava o primeiro ônibus Morro Doce, na Freguesia do Ó, para trabalhar como office boy na Avenida Paulista. Esse contexto faz com que a gente entenda que precisa ter ação social para tirar as crianças da rua. Um garoto de 12 anos na periferia, como eu era, precisa ser tirado da rua. E quem está nascendo precisa contar com um sistema de educação muito bem estruturado para que ele, quando chegue aos 12 anos, não tenha que optar entre vender toca-fitas roubado ou trabalhar na feira para comprar um tênis. Essa foi a minha escolha de vida. Mas ela é cruel. Eu não consigo julgar o cara que escolheu o crime porque não sei a real necessidade da família dele. É injusto deixar para o jovem ou para a criança a responsabilidade por essa escolha. É papel do governo fazer com que a criança, que não tem poder cognitivo suficiente, seja obrigada a ficar na escola e não ser aviãozinho do tráfico. E o setor privado precisa atender a demanda da sociedade e trabalhar nessa questão da sustentabilidade.

Fonte: Exame

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