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Eleição nos EUA: as contradições da maior economia do mundo, em 5 gráficos

Os Estados Unidos são a nação mais rica do mundo. Sua economia, que representa quase 25% da produção global de bens e serviços, gera uma soma exorbitante de US$ 21,4 trilhões por ano.

E ainda que a economia chinesa tenha crescido a toda velocidade nas últimas décadas, ainda está em segundo lugar em relação ao tamanho do PIB (soma de todas as riquezas produzidas em um período), com US$ 14,3 trilhões — o Brasil surge em nono, com US$ 1,8 trilhão.

No ranking de riqueza por habitante, os EUA mantêm o primeiro lugar dentro do G7, clube formado por sete das economias mais poderosas do mundo, entre elas Alemanha, Canadá, França, Reino Unido, Itália e Japão.

Dentro da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, ou clube dos países ricos), formada por 37 países, os EUA ocupam o quinto lugar na lista de nações com maior riqueza por habitante, sendo superados por Luxemburgo, Irlanda, Suíça e Noruega.

Essa enorme riqueza nem sempre se traduz em uma melhor qualidade de vida para sua população, e essa é, claramente, uma das grandes contradições desta potência global.

Ainda que os EUA sejam o país com a maior quantidade de multimilionários do mundo, tem um patamar de pobreza que afeta 10,5% de sua população, segundo dados do órgão censitário americano.

O abismo entre ricos e pobres nos EUA só se aprofunda. Já que embora a renda das pessoas tenha crescido nas últimas quatro décadas, o mesmo aconteceu com a diferença entre os mais ricos e os mais pobres.

“A desigualdade de renda aumentou mais nos Estados Unidos do que em qualquer outro país desenvolvido desde 1980”, afirma o último Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD).

A BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC) apresenta abaixo cinco infográficos que mostram o baixo desempenho dos EUA em relação a outros países da OCDE.

1. Baixa expectativa de vida

Localizados entre a Estônia e a República Tcheca, os EUA ocupam o 28º lugar no índice de expectativa de vida ao nascer, com média de 78,7 anos.

A expectativa de vida é um dos indicadores mais utilizados em nível internacional para avaliar as condições de saúde de um país, mas também reflete o estado de sua economia.

“A expectativa de vida saudável é uma medida melhor do sucesso de um país do que o Produto Interno Bruto”, disse Andrew Scott, professor de economia da universidade britânica London School of Economics e cofundador do Fórum da Longevidade, à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

gráfico sobre expectativa de vida

Segundo Scott, “é importante diminuir a diferença de expectativa de vida entre ricos e pobres”, que nos Estados Unidos gira em torno de 15 anos.

Uma das causas mais importantes desse fenômeno é o aumento das mortes por overdose de drogas, explica Steven Woolf, diretor emérito do Center on Society and Health da Virginia Commonwealth University, em conversa com a BBC News Mundo.

Outros fatores como suicídio e mortes relacionadas ao consumo de álcool, hipertensão, diabetes e obesidade também desempenham um papel importante nesse indicador.

“As mortes aumentaram principalmente em áreas onde as pessoas perderam seus empregos”, diz Woolf, observando que a pobreza é o maior fator de impacto para os americanos que vivem menos do que pessoas em outros países desenvolvidos.

2. Alta mortalidade infantil

O país mais rico do mundo ocupa o quinto lugar entre as nações da OCDE com maior mortalidade infantil.

Esse índice é calculado a partir do número de mortes de bebês menores de um ano a cada 1.000 bebês nascidos vivos.

A mortalidade infantil nos EUA diminuiu nos últimos 25 anos, assinala Tiffany Colarusso, líder de uma equipe de saúde infantil do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano.

gráfico sobre mortalidade infantil

Embora seja uma boa notícia, o problema continua em Estados onde o nível socioeconômico é mais baixo e as mães têm piores condições de saúde.

“Há disparidades raciais significativas”, explica Colarusso em entrevista à BBC News Mundo.

Na verdade, a mortalidade infantil é quase o dobro em bebês negros do que em bebês brancos.

Nancy Swigonski, professora do departamento de pediatria da Escola de Medicina da Universidade de Indiana, afirma que a taxa de mortalidade infantil continua muito alta.

Por isso, ressalta, “é fundamental mirar os determinantes sociais da saúde para reduzir a mortalidade infantil”.

Sobre as métricas que cada país adota para determinar esse índice de mortalidade infantil, é importante dizer que nem todos registram como “nascidos vivos” bebês muito prematuros com baixas chances de viver, o que influencia os cálculos em nível estatístico, afirma a OCDE.

3. Alta desigualdade de renda

Depois do Chile, do México e da Turquia, os EUA são o quarto país com maior nível de desigualdade de renda, segundo dados publicados pela OCDE, usado um índice de Gini elaborado pela própria organização (diferindo, portanto, do Gini oficial de cada país).

Esse indicador vai de 0 a 1, sendo 0 a igualdade total entre os diferentes setores da sociedade e 1, a desigualdade máxima.

A OCDE calcula seu próprio Gini para torná-lo comparável entre os países.

Independentemente da medição, os dados oficiais do órgão censitário americano mostraram que a desigualdade de renda atingiu em 2018 seu nível mais alto em mais de 50 anos.

“A desigualdade piorou progressivamente”, diz Brielle Bryan, professora de sociologia da Universidade Rice, no Texas, em entrevista à BBC News Mundo.

gráfico sobre desigualdade de renda

Isso se explica, acrescenta a acadêmica, porque a renda dos que estão no topo da pirâmide disparou graças a políticas de redução de impostos para os mais ricos e a estagnação do salário mínimo na esfera federal, entre outros pontos.

Mark López, pesquisador do Pew Research Center, argumenta que o aumento da desigualdade também se deve a fatores estruturais de longo prazo, como a globalização, o declínio dos sindicatos, a educação e as mudanças tecnológicas.

Do lado dos economistas mais conservadores, o argumento que tende a prevalecer é o de que os pobres estão nessa posição porque não aproveitaram as oportunidades oferecidas pelo sistema e não fizeram o suficiente para prosperar.

Outro pilar do debate tem a ver com a desigualdade de riqueza (que é diferente da desigualdade de renda porque inclui todos os ativos que uma pessoa possui).

Nesse sentido, dados do Federal Reserve (Banco Central americano) mostram que a fortuna das 50 pessoas mais ricas do país equivale à dos 165 milhões mais pobres. Os EUA têm cerca de 327 milhões de habitantes.

4. Alta pobreza relativa

Os Estados Unidos são um país com muitos recursos econômicos, mas, paradoxalmente, ocupam o primeiro lugar no índice de pobreza de renda relativa usado pela OCDE.

Essa medida — diferente da usada por cada governo para determinar a porcentagem de pobres em seu país, ou da usada por outras organizações como o Banco Mundial — considera pobres as pessoas que vivem com menos da metade de sua renda média.

Seguindo essa definição, a pobreza de renda relativa nos EUA atinge 17,8%, enquanto a média da OCDE é de 11,7%.

gráfico de pobreza relativa

“O alto nível de pobreza relativa nos Estados Unidos é influenciado pela grande desigualdade que existe no país”, disse Michael Forster, economista da divisão de políticas sociais da OCDE, em entrevista à BBC News Mundo.

O outro lado da moeda é que, com a metodologia utilizada pelo órgão censitário americano, o índice de pobreza no país chegava a 10,5% em 2019, o menor das últimas décadas.

Um registro positivo, com certeza, mas que não altera o fato de que a riqueza continua altamente concentrada.

5. Resultados fracos em educação

Em um dos indicadores mais utilizados no âmbito internacional para comparar o rendimento escolar entre países, a avaliação Pisa de matemática, os EUA não aparecem bem posicionados.

O país é o sétimo entre aqueles com pior resultado.

Nathan Driskell, diretor-associado de análise de políticas e desenvolvimento do Centro Nacional de Educação e Economia (NCEE, na sigla em inglês), afirmou à BBC News Mundo que em alguns casos o desempenho dos estudantes chega a figurar dois ou três anos atrás de seus pares de outros países.

gráfico sobre pisa em matemática

Muitos países que investem menos em educação do que os EUA nos superam o país norte-americano porque, segundo Driskell, os EUA “não têm um sistema de ensino eficaz”, no qual diferentes partes trabalham de forma coordenada.

O problema é que “programas altamente eficazes alcançam muito poucos alunos”.

Em resumo, acrescenta o especialista, existem escolas que se destacam pela excelência, mas não representam a grande maioria do país.

Miyako Ikeda, analista-sênior da Diretoria de educação e habilidades da OCDE, explica que, como é o caso em vários países, “os alunos em desvantagem socioeconômica nos Estados Unidos apresentam desempenho inferior”.

Especificamente em matemática, “16% dessa variação no desempenho pode ser explicada por diferenças de nível socioeconômico”, acrescenta.

Futuro incerto

Embora a desigualdade tenha aumentado nas últimas décadas, as tensões raciais persistam e muitos protestem contra o alto custo da saúde e da educação, os EUA são um país que ao longo de sua história tem se destacado por oferecer oportunidades de trabalho.

O nível de desemprego tem se mantido baixo, atingindo apenas 3,7% em 2019, indicador que deixa o país em excelente posição em relação a outros.

E apesar de os níveis de proteção do trabalho serem inferiores aos de vários países da OCDE, a ideia de conseguir um emprego ou abrir uma empresa para prosperar economicamente graças ao trabalho, algo que está na base do “sonho americano”, continua atraindo milhares e milhares de pessoas que não têm as mesmas oportunidades em outras partes do mundo.

No entanto, a concentração de riqueza continua sendo a grande contradição do país mais rico do mundo.

Será preciso ver como a pandemia do coronavírus afetará os indicadores dos EUA em relação a outros países, e como um novo capítulo de sua história será escrito a partir dos resultados das próximas eleições presidenciais.

Fonte: BBC

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