Em dezembro de 2021, seis meses antes de deixar a liderança da Espaçolaser, Paulo Morais optou por diversificar suas atividades. Das 9h às 18h, dedicava-se integralmente à rede de depilação a laser que co-fundou. Posteriormente, seu foco mudou para a construção de uma nova agenda.
A segunda empreitada tornou-se seu plano principal e foi batizada em agosto de 2022, quando lançou a PG&MP, uma holding destinada a consolidar seus investimentos. Para compor esse portfólio, o empresário passou a reavaliar oportunidades de negócios previamente recusadas.
Dentre esses projetos, o mais recente foi revelado ao NeoFeed. A PG&MP liderou um aporte de R$ 22 milhões, adquirindo uma participação de 35% na RM Farma, uma rede que engloba mais de 970 farmácias, seguindo um modelo próximo ao associativismo.
Morais, fundador e CEO da PG&MP, destaca: “Há uma oportunidade gigantesca aqui. São mais de 90 mil farmácias no Brasil, das quais cerca de 60 mil ainda são independentes. Estamos falando de um mercado anual de R$ 120 bilhões apenas nesse último segmento.”
Além da PG&MP, a rodada de investimento na RM Farma contou com a participação de investidores como Mauro Benatti, co-fundador da corretora Clear e da fintech Acordo Certo, ambas vendidas para a XP e Boa Vista, respectivamente.
Fundada em 2010 em Varginha (MG), a RM Farma adota um formato no qual farmácias independentes pagam uma taxa mensal de licenciamento, variando de R$ 1,5 mil a R$ 5 mil, de acordo com o tamanho da unidade, para integrarem-se à sua rede. Em contrapartida, a RM Farma oferece desde uma revitalização completa do layout das drogarias até suporte na definição do mix mais apropriado para cada unidade, incluindo a negociação de condições comerciais vantajosas junto a distribuidoras e à indústria farmacêutica.
As farmácias que adotam esse modelo são convertidas para uma das quatro bandeiras da RM Farma, sendo a Hiper Popular a mais conhecida. Com essa base, a rede está presente em 25 estados, além do Distrito Federal, e projeta um faturamento de R$ 2 bilhões em 2023.
Em comparação, a RD, a maior varejista do setor com 2,8 mil unidades, faturou R$ 30,9 bilhões no ano passado, enquanto a Pague Menos, outro grande player, com 1,2 mil farmácias, registrou uma receita bruta de R$ 9,8 bilhões no mesmo período.
Outros dados fornecem insights sobre esse mercado. De acordo com a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), as grandes redes possuem 15% das unidades em operação no país, respondendo por mais de 50% das vendas, atingindo cerca de R$ 170 bilhões em 2022, em contraste com os 15% dessa fatia há duas décadas.
Em média, o faturamento anual das afiliadas à Abrafarma é de R$ 8,7 milhões, comparado a R$ 800 mil das farmácias independentes. No caso da RM Farma, o volume anual varia de R$ 1,2 milhão a R$ 3 milhões por unidade.
Contudo, a investida da PG&MP não é a única a buscar espaço ao oferecer uma alternativa de sobrevivência para as farmácias independentes diante da expansão das grandes redes. Um exemplo é a recém-lançada Federação do Comércio Farmacêutico (Fecofar).
Formada pela união de sete redes de farmácias, a Fecofar opera mais de 3,2 mil lojas em 24 estados, emprega 16 mil funcionários diretos e alcança um faturamento anual superior a R$ 5,6 bilhões.
Morais comenta: “Estamos começando a navegar num mar de gigantes. É um mercado consolidado e, talvez, o nosso maior desafio.” No entanto, isso não diminui a ambição da holding: “Nossa projeção é chegar a uma rede de 5 mil farmácias em cinco a seis anos.”
A entrada da PG&MP proporciona uma significativa contribuição para atrair mais conversões e concretizar essa meta. Já em andamento, por meio de um projeto com a consultoria Troiano, parte do investimento será direcionada para definir a bandeira a ser adotada pela rede, além de investir na construção de sua marca.
Por outro lado, a holding intensificará os recursos tecnológicos, incorporando mais sistemas e inteligência na operação. O plano é aprimorar a identificação de padrões de consumo e, consequentemente, a definição dos estoques e do sortimento de cada unidade, ampliando sua atuação nos setores de varejo, saúde e bem-estar.
Como demonstração do potencial percebido na RM Farma, o investimento foi negociado desde o primeiro semestre de 2022, culminando no aporte mais substancial e na maior participação detida pela PG&MP em seu portfólio de investimentos, que anteriormente variava de 5% a 12%.
Essa rede também atende a muitos dos critérios estabelecidos pela tese da holding, que visa investir em projetos de varejo com grande potencial de escala, fortemente baseados no modelo de franquias e vinculados aos segmentos de saúde e bem-estar.
O portfólio da PG&MP inclui ainda marcas como Laces e Bioma, especializadas em cosméticos veganos e tratamentos de beleza; Mundo Terra, voltada para produtos de esportes de aventura; Novo Fio, dedicada a tratamentos e implantes capilares; e XBloom, uma rede de fast-food vegano que conta com a ex-apresentadora Xuxa Meneghel como sócia.
A Espaçolaser, principal fonte dos recursos próprios para financiar esses investimentos, completa essa lista, com Morais detendo uma participação de 10,04% na rede e ocupando um assento no Conselho de Administração.
Morais enfatiza: “Todos esses negócios têm muito potencial, mas é na RM Farma que eu coloquei mais dinheiro. E é para essa operação que, agora, preciso dedicar mais tempo”, referindo-se à participação ativa no dia a dia de cada empreendimento, um elemento crucial em sua abordagem.
Ele também menciona: “Estou avaliando outras duas oportunidades, mas não posso terceirizar essa minha participação em cada negócio”, ressaltando que, inicialmente, o portfólio da PG&MP está completo. “Se eu quiser abraçar o mundo, não vou conseguir dedicar o tempo necessário a cada operação.”
Fonte: Neofeed
