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Indústria pode sofrer com falha na oferta de insumos até o fim da pandemia

Os indicadores econômicos sinalizaram melhora, a indústria voltou a contratar, havia demanda, especialmente por produtos que respondessem às necessidades criadas pela pandemia –roupas confortáveis, comida pronta, produtos de limpeza. O auxílio emergencial amparava o trabalhador informal que se alimentava melhor e reformava a casa. A classe média, presa em casa, sem viajar ou frequentar restaurantes, comprava eletrodomésticos e eletroeletrônicos para melhorar a vida doméstica.

Parecia a retomada, mas era o olho do furacão daquelas tempestades perfeitas se formando neste início de ano.

Primeiro porque a recuperação foi interrompida pela piora da pandemia de Covid-19, agora mais contagiosa e letal, que levou milhões de pessoas ao isolamento, mas desta vez sem as ajudas do governo no momento mais crítico.

Segundo porque as indústrias ainda se depararam com cadeias de suprimentos fragmentadas. Há falta e, na maioria dos casos, aumento de preços de um ampla gama de matérias-primas. Algodão, cimento, aço, componentes eletrônicos, peças de carro, resinas.

Levantamento da CNI (Confederação Nacional da Indústria), mostrou que em fevereiro 73% das empresas tinham problemas para conseguir insumos e matérias-primas em todos os 26 setores analisados.

Segundo Rafael Cagnin, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a freada na economia deixa o gargalo menos gritante, mas o desabastecimento e a alta nos preços de insumos só serão solucionados com o fim da pandemia.

O problema começou ainda em 2020. As cadeias de produção, muitas delas com pontos de partida em países asiáticos, começaram a ser interrompidas já nos primeiros meses do ano, antes mesmo de o coronavírus se espalhar pelo Ocidente. Montadoras e farmacêuticas foram as primeiras a sentir. Na sequência, as indústrias de eletroeletrônicos.

Após meses de fábricas paradas e lojas fechadas, os consumidores voltaram às compras, mas a oferta dos insumos para a produção não se normalizou. Novas ondas de contágios e mortes, acompanhadas de novos isolamentos, complicam a estabilização do fornecimento de matérias-primas em nível global.

Setores com alta demanda foram sendo afetados. Papel e papelão, vidro, plásticos. É crônica atualmente a falta de semicondutores. Em vários pontos do planeta faltam inclusive contêineres para fazer o transporte dos insumos e dos produtos finais.

Para a indústria brasileira que produz para abastecer o mercado interno pesam também a alta do dólar e os fretes marítimos e aéreos mais caros. A menor oferta, diante das tentativas de retomada, já tem impacto financeiro. Levou ao aumento de preços, pressionando a inflação.

No caso do Brasil, o IGP-M (Índice Geral de Preços Mercado) acumula alta de 31,1% em 12 meses até março. Os preços no atacado, para os produtores, correspondem a 60% do indicador de inflação, e subiram 42,57% no mesmo período.

Parte do problema tem relação com a retomada desigual, que avança mais rapidamente em alguns países do que em outros, com a vacinação sendo o fiel dessa balança.

“Pouco a pouco, as cadeias vão se reorganizando. Com Europa, Estados Unidos e Ásia puxando a oferta, que ainda está em normalização, sobra pouco neste momento para o Brasil”, diz o diretor comercial da consultoria GFK para América Latina, Henrique Mascarenhas.

Segundo Mascarenhas, essas condições já levam à alta de preços para o consumidor. No setor eletroeletrônico, por exemplo, enquanto o faturamento subiu 22% em 2020, as vendas, somadas todas as categorias –informática, áudio e vídeo, telecomunicações, portáteis e linha branca–, recuaram 8%.

“Celulares e portáteis ficaram em segundo plano. A casa foi privilegiada e vários segmentos cresceram, de forma heterogênea, mas esse crescimento vem do preço”.

A tendência na indústria, segundo ele, é a de substituir componentes para conseguir entregar produtos mais baratos. A oferta no varejo deverá privilegiar o que o consumidor puder pagar. “A indústria vai reduzindo o custo de maneira contundente e dessa forma dribla as altas. Mesmo assim, a demanda será baixa até o fim do semestre”.

Cagnin diz que o impacto é generalizado. Componentes importados chegam para a indústria pelo menos 20% mais caros. “Isso é custo a mais direto na veia da estrutura produtiva”.

Segundo ele, segmentos com menor complexidade tecnológica conseguem redirecionar a demanda de fornecimento para o mercado doméstico. A empresa busca um similar nacional. O setor têxtil está entre os que buscaram esse tipo de alternativa. O problema é que nem toda cadeia de produção permite essa substituição.

Humberto Barbato, presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), afirma que é inviável, por exemplo, substituir componentes eletrônicos ativos, como os semicondutores.

“Não temos esse tipo de produção. Ela foi abandonada em função dos preços que o leste asiático oferecia. Itens de altíssima tecnologia não podem ser substituídos”, diz o dirigente.

A dificuldade na compra de componentes eletrônicos ainda é relatada por 41% das indústrias do segmento, de acordo com sondagem da Abinee. Segundo Barbato, há mais pressão de preço do que de disponibilidade.

O maior problema para o setor agora, porém, não está na falta de peças, mas na carência de embalagens. “Parte do papelão que era usado para embalar telefone celular está sendo usado na expedição de compras e delivery”, afirma o presidente da Abinee.

Na indústria de automóveis, porém, persiste a falta de semicondutores e 14 montadoras chegaram a anunciar paradas totais ou parciais em fábricas para adequar a produção ao ritmo de abastecimento. O setor só aposta em normalização no segundo semestre. Atualmente, há linhas com fila de espera de até 150 dias.

Para Cagnin, do Iedi, a indústria tem algumas alternativas enquanto espera a normalização do abastecimento. Uma delas é elevar o nível dos estoques.

A globalização da produção levou empresas em todo o mundo a reduzir o nível de mercadorias paradas em armazéns. Isso reduzia custos, melhorara o balanço financeiro e era possível graças à previsibilidade das importações. Quando era necessário, bastava fazer a encomenda, fosse por contêineres embarcados em navios, fosse por voos cargueiros.

“Em períodos normais, todo o mundo consegue manter níveis menores de estoque, que é um capital imobilizado em um galpão. Esse evento excepcional torna difícil prever a demanda e a discussão é como recompor os estoques.”

Na construção civil, permanece a falta de aço, fundamental para a estrutura dos prédios. Entidades como a Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) têm cobrado do governo a redução do imposto para importação do aço. Em março, segundo a entidade, os relatos davam conta que 80% das empresas tinham dificuldades de comprar o produto.

Fonte: Folha

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