Mercado aquecido no Brasil tem atraído empresas estrangeiras de olho em obter maior participação
Enquanto a taxa de inflação no Brasil desacelera, registrando um aumento de 3,75% de janeiro a outubro, o preço médio do azeite de oliva apresenta um crescimento quase sete vezes maior no mesmo período, atingindo 25,62%. Apenas em outubro, houve um aumento médio de 5,32% no preço do produto, contribuindo para um acréscimo de 0,24% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O encarecimento do azeite tem impactado significativamente o orçamento das famílias, e a tendência é que os custos permaneçam elevados nos meses seguintes devido aos problemas na safra global.
Assim como ocorre com outras commodities, a formação de preços do azeite é influenciada pelo mercado internacional, onde a Europa detém 75% da produção mundial. A safra global de 2022 foi a pior da história, com uma queda de 26% em comparação com o padrão histórico. Embora houvesse expectativas de melhora em 2023, essa previsão não tem se concretizado.
Leonardo Johnson Scandola, vice-presidente da Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira (Oliva) e diretor comercial para a América do Sul da marca italiana Filippo Berio, destaca que as mudanças climáticas, marcadas por fortes secas, explicam em grande parte a quebra na safra.
“Secas intensas, a escassez de chuvas e temperaturas médias mais elevadas estão criando um cenário incerto para a agricultura”, afirma Scandola.
Além disso, a produção de azeite tem sido afetada pela bactéria Xylella, que ataca as oliveiras, levando as árvores a secarem. De acordo com Scandola, esses dois problemas se somam aos custos industriais, energéticos e de embalagens.
“Desde o início do ano, o custo do azeite aumentou em 50%, alcançando um aumento de 69% nos últimos 12 meses na Espanha e na Itália, os dois maiores produtores globais. Isso tem levado a uma redução no consumo. No Brasil, pesquisas de mercado indicaram um crescimento nas vendas do varejo de azeite de 1,7% até setembro, demonstrando a preferência dos brasileiros pelo azeite”, destaca.
No entanto, Scandola prevê que o aumento nas vendas no Brasil será acompanhado pelo aumento nos preços, uma vez que os processos de encarecimento e redução do valor do produto chegam com atraso ao país. Em agosto e setembro, por exemplo, o custo do azeite na Europa teve um aumento de 30%.
Como o quarto maior mercado consumidor de azeite do mundo, o Brasil tem despertado o interesse de empresas estrangeiras em busca de uma fatia desse mercado. A Filippo Berio, por exemplo, chegou ao país em 2020 e, até 2022, experimentou um crescimento de 115% no volume de produtos vendidos, quadruplicando sua participação de mercado de 1% para 4%.
Scandola destaca que a empresa, que exporta para 75 países, tinha uma presença modesta no Brasil, mas enxergou no país um mercado significativo. Com a ambição de se tornar uma das três marcas mais vendidas no mercado brasileiro, dominado por rótulos espanhóis e portugueses, a Filippo Berio lançou duas categorias de produtos no Brasil: uma linha de molhos pesto e uma linha de molhos de tomate.
“Apesar de sermos uma referência mundial no azeite, lançamos duas categorias de produtos no Brasil. Uma linha de molhos pesto e uma linha de molhos de tomate. Queremos ser embaixadores do azeite e da culinária italiana”, afirmou Scandola.
Fonte: Exame