Somente depois de concluir a operação, que deve superar R$ 600 milhões, a companhia migrará para o Novo Mercado
A Celulose Irani, fabricante de papel kraftliner e de embalagens de papelão ondulado, pretende financiar parte de um plano de expansão que soma R$ 1 bilhão com os recursos que vai levantar na oferta de ações planejada para março na B3, apurou o Valor.
Segundo fontes com conhecimento do assunto, a companhia, futura Irani Papel e Embalagem, quer levantar R$ 400 milhões com uma distribuição primária de ações e o controlador, o grupo Habitasul, também venderá uma parcela dos papéis que possui, com vistas a ampliar a liquidez da companhia em bolsa. Somente depois de concluir a oferta, que deve supera R$ 600 milhões considerando-se as colocações primária e secundária, a companhia migrará para o Novo Mercado, com a conversão em ONs dos 7,6% de capital preferencial atualmente.
Conforme essas fontes, grandes fundos de investimento indicaram interesse na operação, mas têm pedido aos bancos coordenadores garantia de liquidez para os papéis. Hoje, apenas 10% das ações da Irani estão em circulação no mercado e a liquidez é limitada. Com a oferta, a ideia é também ampliar “significativamente” o “free float”.
Para fazer frente a novos investimentos, as necessidades da companhia somam R$ 400 milhões – valor que será obtido com a venda de novas ações. A outra parcela da operação será formada por papéis do controlador, mesmo que sua posição final no capital da Irani fique abaixo de 50%, apurou o Valor.
Neste momento, disse uma fonte, o tamanho da oferta secundária (formada pelas ações já existentes) ainda está em discussão. Mas já se sabe que o valor global da operação não deve ser inferior a R$ 600 milhões.
A tese que está sendo apresentada a potenciais investidores é a de que, ao comprar Irani, o investidor estará levando a única fabricante brasileira de embalagens exposta exclusivamente ao mercado local. Há outras duas grandes empresas de celulose e papel listadas em bolsa, Suzano e Klabin, mas as duas têm exposição também ao mercado internacional, via exportações.
Com os recursos da oferta primária, a Irani vai financiar uma parte de um plano de crescimento e modernização que totaliza R$ 1 bilhão em investimentos. O plano compreende a expansão da capacidade de produção de embalagens e de geração de energia e redução de custos e maior eficiência operacional.
Os quatro grandes projetos previstos no plano seriam a construção de uma nova caldeira de recuperação, uma nova linha de embalagens e modernização da fábrica de Santa Luzia (MG), expansão de capacidade da de embalagens em Santa Catarina e repotenciação de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).
Com esse investimento, disse uma fonte, a companhia estaria pronta para o novo ciclo de crescimento do mercado brasileiro. No último grande lance de expansão, a Irani comprou a concorrente São Roberto, em 2012, mas acabou surpreendida por uma crise econômica no país. Somente no ano passado, após ampla reestruturação de seus passivos, a empresa voltou ao equilíbrio financeiro.
A Irani já informou ao mercado que contratou BTG Pactual, Credit Suisse e XP Investimentos para coordenar “uma possível oferta” e convocou para o dia 19 uma assembleia de acionistas para aprovar o início dos trabalhos preparatórios para o Novo Mercado. A partir da divulgação do balanço do quarto trimestre, prevista para o dia 28, a oferta de ações poderá ir ao mercado.
A migração para o Novo Mercado, porém, ainda dependerá da anuência da própria B3. Desde 2012 a Irani já planejava mudar de nível na bolsa e se adequou a muitas das regras mais exigentes de governança que regem esse segmento. A companhia, por exemplo, já adotou o tag along de 100% para suas ações e tem membros independentes em seu conselho.
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