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Mark Mobius espera Bolsa cair mais para voltar às compras no Brasil

Totvs, Fleury, Lojas Americanas e Yduqs são as apostas em ações brasileiras que o investidor Mark Mobius carrega hoje na carteira de seu fundo.

Conhecido como um dos maiores especialistas em países emergentes do mercado global, Mobius diz que, enquanto ainda aguarda uma queda mais pronunciada da Bolsa brasileira para eventualmente aumentar sua exposição à região, tem se voltado neste momento para oportunidades que vêm da Ásia. Em especial, da Índia, que entende oferecer atualmente as melhores oportunidades entre os mercados emergentes.

Ele afirma também que as recentes manifestações políticas não afetaram sua percepção sobre o Brasil, e avalia que a imprensa deve ter papel fundamental para o desfecho das eleições no país em 2022.

“Assim como foi com [Donald] Trump nos Estados Unidos, se toda imprensa estiver contra [o presidente Jair] Bolsonaro, o presidente terá dificuldades para ser reeleito”, afirmou Mobius, em entrevista concedida à Folha, por telefone, de Dubai.

Ele diz ainda ver com bons olhos o aumento da regulação na China e destaca sua preocupação com relação às criptomoedas. “Vejo as criptomoedas como um grande risco para o sistema.”

Como o senhor tem acompanhado a evolução do cenário brasileiro em meio às manifestações contra e a favor o presidente Jair Bolsonaro? É interessante notar que a moeda brasileira não teve recentemente uma desvalorização tão significativa em relação ao dólar. Essa é uma boa notícia, e ocorre por conta da alta dos juros pelo Banco Central (BC), e pela quantidade de dinheiro que tem entrado no país. É claro que essa situação pode mudar, mas, neste momento, as manifestações não parecem ter causado muito impacto.

Qual sua expectativa para a performance dos ativos brasileiros com as eleições de 2022 no radar dos investidores? É claro que haverá muita volatilidade no mercado brasileiro por conta das eleições, não há dúvida quanto a isso, mas, no fim do dia, é algo normal em qualquer processo eleitoral no Brasil. Vamos ver o que acontece a seguir, mas entendo que o que as pessoas estão demonstrando nas ruas é que elas são contra as mudanças que estão em andamento.

Quais mudanças? As medidas na reforma do Imposto de Renda, por exemplo, que podem trazer impactos muito positivos para a economia se forem implementadas. Estou surpreso que o mercado ainda não tenha reconhecido isso, e é provavelmente por conta dessas manifestações que têm ocorrido, que as pessoas têm medo que possam ficar pior.

Qual sua opinião sobre o desfecho da disputa política no Brasil? A grande questão está em saber como será a visão da imprensa a respeito de Bolsonaro. Assim como foi com Trump nos Estados Unidos, se toda imprensa estiver contra Bolsonaro, o presidente terá dificuldades para ser reeleito. É preciso acompanhar a popularidade dos candidatos junto à imprensa, porque é onde a eleição será decidida.

O aumento recente da volatilidade no Brasil provocou alterações em seus investimentos na região? Não fizemos mudanças em nossa exposição ao mercado brasileiro nos últimos meses [que correspondia a 9,6% do total do portfólio no fim de julho].

Quais são as ações brasileiras na carteira do fundo da Mobius Capital Partners? O que temos no portfólio de ações brasileiras hoje é Totvs, por gostarmos do negócio da companhia, do setor de tecnologia; Fleury, de exames laboratoriais, que tem ido muito bem, principalmente por conta do aumento do interesse das pessoas em fazerem testes por conta da Covid. Temos também Lojas Americanas, que não tem tido um desempenho tão positivo na Bolsa, mas que esperamos que vá bem por conta da recuperação da economia com o fim da pandemia. E Yduqs, que deve se beneficiar do processo de consolidação que está ocorrendo no setor de educação.

O que poderia levar a um aumento da exposição no mercado brasileiro? Poderia considerar um aumento se os preços das ações caírem substancialmente, por entendermos que são boas companhias as que temos investido, e não há razão para que elas continuem tendo um desempenho ruim na Bolsa.

A queda recente da Bolsa brasileira ainda não foi considerada suficientemente expressiva para gerar esse aumento da exposição ao país? Olhamos globalmente, e vemos melhores oportunidades em outras partes do mundo. A Índia está indo muito bem e há muitas oportunidades por lá. Especialmente no setor de tecnologia. Neste sentido, gostamos bastante também de Taiwan e Coreia, são as regiões mais interessantes na nossa visão neste momento. Isso não significa que vamos reduzir nossa exposição a Brasil.

Dentre os principais emergentes sob sua cobertura, qual é o que está hoje melhor posicionado? A Índia representa hoje a melhor oportunidade entre os emergentes [com a maior exposição individual por país do fundo em julho, de 21,8%]. Entre as principais posições do fundo na região, temos nomes como da empresa de softwares Persistent Systems e da fabricante de tubos de aço Apollo Tubes. São companhias que estão indo muito bem, até porque a economia da Índia está em um bom momento.

Assim como o Brasil, a Índia também foi um dos países mais penalizados pela pandemia. Isso não reduziu o otimismo com a região? Estamos falando de um país com uma população de mais de 1 bilhão de pessoas, com diferentes estados, cada um com uma situação diferente. É preciso ter isso em mente, porque há diferenças muito importantes. Além disso, a população da Índia é bastante jovem, e por isso não é assim tão afetada pela situação atual.

Como o senhor avalia as recentes medidas de aumento da regulação no setor privado pelo governo da China? Acho que, de modo geral, essas medidas que têm sido tomadas recentemente na China são muito boas. Ainda que traga impactos negativos para os mercados, vejo como algo positivo o fato de o governo chinês estar prestando mais atenção, em particular em relação aos grandes grupos que dominaram certos setores, e tomando medidas antimonopólio para garantir que empresas de pequeno e médio porte tenham um ambiente de competição mais justo.

Qual o grande risco para os mercados emergentes nos próximos anos? O grande risco é de uma nova pandemia e a falta de habilidade dos governos de lidar com ela. E isso até por uma questão psicológica. As pessoas ainda estão psicologicamente impactadas pelo medo da pandemia.

As próprias demonstrações que vemos agora contra Bolsonaro refletem um grande medo das pessoas em relação à Covid. Um medo que até, certo ponto, vejo como irracional, já que as pessoas parecem não entender que multidões reunidas aumentam as chances de a Covid se espalhar.

Outro grande risco que vejo para os próximos anos diz respeito à tecnologia, em um cenário em que temos visto ataques hackers que têm ocorrido em diversos países, e na medida em que nos tornamos cada vez mais dependentes dessa tecnologia.

Qual sua visão a respeito das criptomoedas? Vejo as criptomoedas como um grande risco, porque elas são baseadas em um sistema computacional que pode ser facilmente hackeado. Não é seguro, já foi provado que as pessoas conseguem invadir os sistemas. Bitcoins foram roubadas. E mesmo o blockchain não é completamente seguro, como muitas pessoas alegam. É algo que precisamos acompanhar com bastante cuidado.

Qual a melhor alternativa que pode servir como proteção para amortecer choques na carteira do investidor? O ouro pode servir como um seguro, é como se você tivesse uma moeda de valor relativamente estável na carteira, que pode ser utilizada em momentos de crise. Até porque as moedas continuam se desvalorizando, mesmo o dólar norte-americano está se desvalorizando, uma vez que a quantidade de dólar que tem sido impresso está aumentando o todo tempo. Isso é verdade também para o real e para todas as moedas. Por isso é uma boa ideia ter ouro, como proteção em momentos de crise.

Fonte: Folha

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