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O último suspiro do “carro centrismo”

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Artigo de Raphael Galante*

A dinâmica de eu TER um carro já está mudando para eu USUFRUIR um carro, seja pela nova dinâmica financeira da minha vida ou pela minha nova dinâmica de trabalho

Caros leitores, digníssimas leitoras: o lockdown e as novas medidas restritivas causadas pela pandemia têm gerado uma redescoberta pelo carro: várias atividades que exigem um veículo vêm ganhando força.

Tivemos o incremento dos drive-thru, desde tradicionais fast-food até como os para vacinação. Os cinema drive-in, ao melhor estilo americano, também voltaram à moda. Isso sem falar em outras funcionalidades com o carro que também ganharam força, como a retirada (take-away) de compras, por exemplo.

Um outro ponto: uma pesquisa da Ipsos na China mostra que a preferência pelo “carro próprio” como meio de locomoção quase que dobrou no comparativo antes e depois da pandemia.

Aqui, em terras tupiniquins, tivemos um processo similar.

Um dos pontos principais foi o medo na utilização dos transportes coletivos. Convenhamos: pegar – por exemplo – a linha vermelha do Metrô de São Paulo, em horário de pico, é participar de um experimento de Física, no qual aquela máxima “dois corpos não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo” não se aplica.

Além disso, a probabilidade de você se contaminar no SEU carro é infinitamente menor do que em qualquer meio de transporte público.

Outro fator: um dos primeiros setores afetados pela crise foram as locadoras de veículos, que passaram a receber a devolução de uma enxurrada de carros, visto que a demanda de veículos por aplicativos caiu mais do que o Vasco.

Seria esse, então, o fim da “uberização”? Não: acreditamos mais que o momento que estamos vivenciando seria uma pá de cal no conceito do “carro centrismo”.

Sim, tudo isso que falamos acima é uma verdade. O carro ganhou um protagonismo maior. Ele foi redescoberto. Mas acreditamos que ele ganhou um dos seus últimos suspiros, até que o processo de “uberização” (ou compartilhamento de veículos) volte com força total.

O que esta pandemia trouxe para essa nova sociedade que vem se firmando? Home office.

Quando vemos empresas, como o Banco do Brasil, admitindo que pretendem adotar esse modelo permanentemente para cerca de 30% do seu quadro de funcionários, ou como a XP, que colocou todo mundo em home office até dezembro e pretende transformar isso como nova regra, percebemos que as mudanças nas relações de trabalho se aceleraram.

A aplicação/utilização do home office pelas empresas foi como se eu estivesse batendo o último prego no caixão do pessoal do “carro centrismo”.

Aqueles conceitos como o “carro do rodízio” (no caso de São Paulo) e “segundo carro da família”… já eram!

Para complicar um pouco mais a situação, devemos levar em consideração que grande parte dos contratos de trabalho neste ano foram alterados – e para valores menores.

Em suma, empobrecemos. E o custo de manutenção de um veículo (IPVA, seguro, manutenção, estacionamento) irá onerar ainda mais o consumidor.

Outro ponto que vai jogar contra o “carro centrismo” é que, em grandes centros urbanos, o deslocamento casa-trabalho-casa que consumia algumas horas do dia, e fazia com que o trabalhador aproveitasse para fazer todas as suas tarefas (academia, médico, compras etc) ao redor de algum lugar chave entre a sua ida/volta, deve não existir mais.

Eu – novo trabalhador do sistema de home office – tenderei a realizar grande parte destas atividades próximo à minha residência, desestimulando ainda mais que eu use o carro.

Mas isso não quer dizer que esse será o fim da indústria automotiva.

Assim como a pandemia deu uma paulada em toda dinâmica de trabalho da sociedade, ela também dará esse choque no setor automotivo. Mas o que percebemos é que todas as montadoras estão se movimentando para conter esses efeitos.

Os exemplos são os mais variados possíveis, como o Ford Fleet, o Free2Move do grupo PSA  (e, logo mais, do FCA também), a VW com o seu Moia lá nas Zoropa e o Move aqui no Brasil, além da Toyota e seu recém-lançado Kinto.

O “carro centrismo” terá a sua importância até o final desta pandemia. Enquanto não chegarmos na tal imunidade de rebanho e/ou aparecer alguma vacina, ele irá continuar em voga.

Mas a dinâmica de eu TER um carro já está mudando para eu USUFRUIR um carro, seja pela nova dinâmica financeira da minha vida ou pela minha nova dinâmica de trabalho.

Da mesma forma, isso implicará num novo ciclo de crescimento para diversas empresas. Como as locadoras e as empresas de aplicativo, seja a Uber, Cabify, 99, Turbi ou Kovi.

O ponto central aqui é que estamos presenciando um ponto de ruptura nas estruturas.

No ambiente de trabalho, as empresas possuem um ciclo natural: nascimento, maturidade e declínio. As empresas que entenderem que estamos numa fase de grandes mudanças e incorporarem isso à sua filosofia irão criar um novo ciclo de crescimento para o seu negócio.


Isso vale para todas as empresas, não só do ramo automotivo. É que, para o nosso segmento, nós adotamos o conceito máximo de George Orwell: todas as montadoras são iguais, mas umas são mais iguais do que as outras. E aí, começaremos a vivenciar um novo processo de fusão/incorporação.

Mas isso já é pauta para um novo post…

*Raphael Galante, É economista, trabalha no setor automotivo há 14 anos e atua como consultor na Oikonomia Consultoria Automotiva.

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