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Por que os jovens vão demorar mais para se beneficiar da retomada

O multitalentoso artista francês Jean Cocteau (1889-1963), de grandes contribuições à literatura e ao cinema, escreveu que “a juventude sabe o que rejeita antes de saber o que quer”. No futuro próximo, porém, ela poderá ser obrigada a aceitar muito menos do que deseja. Pelas características da Covid-19, os jovens foram muito mais preservados dos riscos à saúde causados pelo coronavírus aos mais velhos, e, se sentindo seguros, protagonizaram cenas de festas e convivência social, como a da foto ao lado, tirada no bairro do Leblon, no Rio. Entretanto, passado o pior da crise sanitária — e depois que até os idosos puderem abandonar o isolamento social —, há grandes probabilidades de eles serem os mais impactados pelos reflexos econômicos da pandemia. Diversos estudos mostram que menos oportunidades de emprego e de estudo trarão efeitos, talvez até por décadas, para a renda dos jovens de hoje. Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), tem batido nessa tecla e afirmou recentemente que as cicatrizes econômicas causadas pelo coronavírus podem permanecer por um período de dez a quinze anos.

Quadro semelhante se desenha no Brasil. Dados da pesquisa Pnad Contínua compilados pelo Ibre/FGV para VEJA mostram que a diminuição da força de trabalho foi muito mais aguda entre os mais novos. Do segundo trimestre de 2019 até o mesmo período deste ano, o número de adultos que estão no mercado de trabalho caiu 6,33%, enquanto na população com idade entre 25 e 29 anos a queda foi de 12,8%. Já para a faixa etária de 18 a 24 anos, a perda atingiu 17,5%. Quanto menor a idade, mais difícil ficou conseguir uma vaga, ao mesmo tempo que o estudo também acabou prejudicado. “A forma como o jovem se insere no mercado de trabalho impacta muito na sua vida produtiva nas décadas seguintes”, diz Daniel Duque, responsável pelo levantamento. “Com certeza, o jovem vai entrar em mais vagas informais.” Isso pode significar aceitar ocupações fora das atividades sonhadas.

Estudante do terceiro ano do ensino médio, Bárbara Xavier, de 18 anos, sente essa dificuldade. Ela teve de adiar o sonho de fazer faculdade porque não conseguiu estudar adequadamente para o Enem deste ano. “Desde o meio do ano passado me inscrevo em programas focados em jovens aprendizes e não recebi resposta. Agora ficou ainda pior porque a maioria das empresas está em home office, não quer contratar a distância e muito menos pessoas que ainda precisam ser treinadas”, diz ela. Três anos mais velha, Bianca Cavalcante foi obrigada a trancar a matrícula no segundo ano da graduação de publicidade, em agosto, devido à perda de renda familiar e ao alto custo da mensalidade. Hoje, ela trabalha vendendo tênis com o namorado. “Não tenho ideia de quando vou poder voltar para o curso”, diz.

Os obstáculos para o aprendizado são ainda maiores para as classes de renda mais baixa, num momento em que as aulas se tornaram remotas. Um estudo da Fundação Iochpe, que faz parcerias com empresas para qualificar gratuitamente jovens para o mercado de trabalho, mostrou que, de 1 300 alunos, 50% possuem apenas o celular da família, portanto com acesso esporádico, e 30% não têm nenhum dispositivo celular nem acesso à internet.

Outro levantamento, feito pelo Centro de Integração Empresa-Escola, o CIEE, para VEJA, evidencia que os contratos de estágio e aprendizagem caíram significativamente após a pandemia (veja o quadro). Mesmo que, para 2021, a expectativa seja de retomada gradual das vagas, elas ficarão aquém de 2019, quando 328 488 contratos foram assinados. Este ano deve se encerrar com 205 000 contratações e 2021 com 273 000. “Na melhor das hipóteses, voltaremos ao nível do ano passado no final de 2022, e isso se tudo der certo na economia”, diz Humberto Casagrande, CEO do CIEE. Tudo dependerá do crescimento do PIB. O que não será recuperado, infelizmente, é o tempo perdido durante a pandemia.

Fonte: Veja

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