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Quem é Olaf Scholz, próximo chanceler da Alemanha e substituto de Merkel

A Alemanha está a um passo de ter seu próximo chanceler, a substituir a atual líder Angela Merkel. Dois meses após as eleições nacionais de setembro, os partidos que buscam uma coalizão governista confirmaram nesta quarta-feira, 24, um acordo em torno do nome de Olaf Scholz, do Partido Social Democrata (SPD).

O SPD de Scholz, de centro-esquerda, foi o mais votado na eleição alemã, mas isso não garantia a vitória. Na Alemanha, é preciso que os partidos façam uma coalizão capaz de obter a maioria das cadeiras no Parlamento, o Bundestag (veja aqui como a votação funciona).

Assim, o SPD precisou conseguir o apoio dos Verdes (ambientalistas, mais à esquerda) e do Partido Democrático Liberal, o FDP (liberais econômicos, à direita).

Os três partidos vinham em conversas nos últimos meses para montar um plano de governo com o qual todos concordassem. O acordo foi anunciado na tarde desta quarta-feira e, agora, precisa apenas ser levado a votação no Parlamento para que Scholz seja oficializado, o que deve acontecer no início de dezembro.

Scholz e Merkel

Aos 63 anos, Scholz é nascido na antiga Alemanha Ocidental, formado em Direito pela Universidade de Hamburgo e um político experiente, visto como moderado.

Ele é o atual vice-chanceler e ministro das Finanças do governo Merkel, cargo que ocupa desde 2018. Esse é um dos mais importantes cargos do governo, similar ao Ministério da Economia brasileiro.

Scholz construiu quase toda a carreira política em Hamburgo, cidade do norte da Alemanha e da qual foi prefeito entre 2011 e 2018.

A cidade é a segunda mais rica da Alemanha, atrás da capital Berlim. Hamburgo é lar do maior número de milionários alemães, de importantes jornais e de um dos principais portos da Europa, o que responde por parte de sua economia pujante.

Além de prefeito, Scholz foi deputado no Bundestag entre 1998 e 2011. Ele se filiou ao Partido Social Democrata ainda nos anos 1970, antes da queda do Muro de Berlim e reunificação das Alemanhas.

Em seu período como deputado, outro cargo de Scholz no governo Merkel foi como ministro do Trabalho e de Assuntos Sociais, entre 2007 e 2009, ainda no primeiro mandato da chanceler.

O retorno da esquerda

No papel, Scholz é um político mais à esquerda e tem visões políticas e econômicas opostas ao governo Merkel em muitos assuntos. Mas sua presença nos governos conservadores foi resultado de uma coalizão complexa, devido ao sistema parlamentarista alemão.

Merkel é do partido conservador e democrata-cristão CDU (que faz aliança com o partido-irmão CSU), de centro-direita. Mas em três de seus quatro mandatos desde 2005, o CDU não conseguiu uma coalizão somente com partidos de direita.

Assim, precisou convencer o SPD de Scholz, seu rival histórico, a ingressar no governo. Essa costura voltou a ocorrer nas últimas eleições, em 2017, o que faz o atual governo ser chefiado pelo CDU de Merkel, mas com cargos importantes (como o próprio Ministério das Finanças) nas mãos da centro-esquerda.

A presença do SPD muitas vezes puxou o governo Merkel “para o centro e até para a esquerda”, conforme explicou à EXAME em setembro Eric Langenbacher, especialista no sistema de partidos alemão, professor na Universidade Georgetown e coautor do livro A Política Alemã (2017).

Por outro lado, o SPD, que costumava polarizar com o CDU em todo o período pós-guerra, perdeu relevância na política alemã e foi duramente criticado por parte de sua base por participar das coalizões governistas nos últimos anos.

Esse contexto levou à ascensão dos Verdes sobretudo entre os jovens, com o partido chegando nesta eleição ao posto de terceiro mais votado na Alemanha, um feito inédito.

Ao mesmo tempo, após anos estando atrás do CDU de Merkel, a vitória de Scholz e do SPD nesta eleição é considerada uma ressurreição para o partido na política alemã.

O cenário faz com que a esquerda tenha saído como uma das grandes vitoriosas do pleito de setembro. No Parlamento da Alemanha, além de SPD, Verdes e FDP, os principais partidos são o CDU/CSU de Merkel (centro-direita), Die Linke (esquerda com herança comunista) e o Alternativa Para Alemanha (AfD, direita radical e ultranacionalista, que não conseguiu crescer nestas eleições). Veja abaixo a provável composição:

O que esperar do governo Scholz

Confirmado o acordo em torno do nome de Scholz, a Alemanha viverá a primeira mudança de governante após quase 16 anos do governo Merkel, marcando o fim de uma era no país. Mas com estilo visto como calmo e moderado, Scholz segue sendo bastante parecido com a atual chanceler. 

A transição também se desenha para ser pacífica. Merkel, por exemplo, levou Scholz à reunião do G20, grupo das principais economias que aconteceu em novembro em Roma (no evento, Scholz chegou a estar em uma roda ao lado do presidente brasileiro Jair Bolsonaro).

“Olaf Scholz é uma continuação dos anos Merkel, ao menos em estilo de liderança”, disse Carsten Brzeski, diretor global de macro da casa de análise ING, na Alemanha, em entrevista à EXAME antes das eleições.

A aposta dos analistas é que as mudanças estejam sobretudo na “substância” das medidas.

Enquanto SPD e Verdes estão mais alinhados ideologicamente, o liberal FDP puxa o pêndulo político para a direita, o que pode vir a ser fruto de tensões no governo. Ainda há incógnitas sobre como a tênue aliança entre esquerda e liberais vai se desenrolar na prática.

Um dos principais destaques é que o importante Ministério das Finanças ficará com os liberais do FDP, e, portanto, o ministro tende a ser o líder do partido, Christian Lindner. O FDP tem tradição de rigidez nos gastos públicos.

Apesar do principal posto econômico nas mãos do FDP, no acordo firmado para o governo, os partidos da coalizão concordaram com pontos sociais como o aumento do salário mínimo, que era uma proposta de campanha dos social-democratas (de 9,60 euros por hora para 12 euros, ou pouco mais de 1.900 euros por mês em uma jornada de 40 horas semanais).

Já os Verdes desejam acelerar o fim da produção de carvão e criar uma força tarefa direcionada para políticas de combate às mudanças climáticas, frente que liderarão em um dos ministérios confirmados.

Os atrasos da era Merkel

Tudo somado, a aposta é que Scholz, como fez Merkel nos últimos anos, seja capaz de equilibrar as diferentes frentes de seu governo.

Apesar de envolver lados muitas vezes opostos, os dois meses de negociações da coalizão, por exemplo, transcorreram de forma pacífica, sem grandes discussões tornadas públicas ou vazamentos — o que tem sido visto como um bom sinal de que as partes se entenderam.

Por outro lado, o governo Scholz será pressionado por seus apoiadores a tomar medidas mais profundas que não ocorreram na era Merkel.

Na eterna busca pelo meio-termo, a Alemanha de Merkel optou por poucas mudanças estruturais, em uma estratégia ora lida como um necessário pragmatismo, ora como inação. Entre os críticos e jovens, a chanceler ganhou um verbo em alemão — merkeln —, usado de forma pejorativa para descrever certa procrastinação nas decisões mais difíceis. 

De fato, é consenso entre analistas de diferentes espectros políticos que Merkel deixou de promover medidas que fizessem o país liderar em frentes como digitalização, modernização e transição energética. Isso explica, em partes, o resultado ruim de seu partido na eleição.

Agora, entram na lista alemã de problemas temas como a crise energética que assolou o verão europeu, novas ondas do coronavírus e competição crescente na economia internacional. Estes serão desafios que o moderado Scholz — e as distintas alas de seu governo — terá de enfrentar.

Fonte: Exame

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