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Recuperação da economia perde ritmo e maioria dos componentes do PIB ainda não eliminou perdas

O ritmo de recuperação da economia brasileira desacelerou na reta final de 2020 – e a maioria dos componentes do PIB (Produto Interno Bruto) virou o ano sem ter conseguido eliminar as perdas da primeira onda da Covid-19. O setor de serviços foi o mais afetado pela pandemia ainda não controlada no país e pela impossibilidade de pleno retorno das atividades.

Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), 7 das 13 principais atividades da oferta e da demanda, incluindo o consumo das famílias, encerraram 2020 abaixo do patamar do final de março do ano passado, quando começaram a ser anunciadas as primeiras medidas para conter a propagação do coronavírus.

Pelas projeções do Ibre/FGV, a economia brasileira cresceu 2,5% no 4º trimestre, após avanço de 7,7% no 3º trimestre. No ano de 2020, porém, o tombo do PIB foi estimado em 4,3%.

“O 3º trimestre foi bem forte. No 4º trimestre, o crescimento já foi bem menor, o que é natural por conta da base de comparação. Agora, neste 1º trimestre, estamos vendo uma desaceleração significativa com o cenário de retirada dos auxílios do governo. Ao invés de crescer, o PIB provavelmente vai retrair”, afirma Luana Miranda, economista do Ibre.

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Os números oficiais de 2020 do PIB, que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, serão divulgados nesta quarta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pela leitura do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central, que é considerado uma “prévia” do PIB, a retração da economia em 2020 foi de 4,05%.

Confirmadas as projeções, será a maior contração anual desde o início da série histórica do IBGE, que começou em 1996, superando o tombo de 3,5% registrado em 2015 – o maior até então.

Economistas ouvidos pelo G1 avaliam que uma retomada em 2021 continua dependendo da redução das incertezas domésticas, da vacinação em massa da população e do controle da pandemia, que já deixou 250 mil mortos no Brasil e atingiu nos últimos dias o seu pior momento no país.

Projeções do Ibre/FGV para o tombo de 2020, para o resultado do 4º trimestre e para o que faltaria para crescer no 1º trimestre de 2021 para recuperar o patamar pré-pandemia — Foto: Economia G1

Projeções do Ibre/FGV para o tombo de 2020, para o resultado do 4º trimestre e para o que faltaria para crescer no 1º trimestre de 2021 para recuperar o patamar pré-pandemia — Foto: Economia G1

Principais quedas e destaques de recuperação

O levantamento feito pelo Ibre mostra que praticamente todos os setores fecharam 2020 no vermelho, com o agropecuária e a indústria extrativa sendo as exceções de crescimento no ano, favorecidos pela alta dos preços das commodities no mercado internacional e pelo impacto do dólar mais alto na receita das exportações de produtos como soja e minério de ferro.

O consumo das famílias, que tem sido nos últimos anos o principal motor da economia, registrou uma taxa de retração de 5,6% em 2020 e, pelos cálculos do Ibre, precisaria crescer 1,7% no 1º trimestre na comparação com o 4º trimestre para voltar ao nível que se encontrava antes do início da crise do coronavírus.

O setor de serviços, que representa cerca de 70% do PIB do país, e a construção civil também tiveram quedas maiores que a da economia brasileira em 2020, virando o ano ainda distantes do nível pré-Covid.

Já entre os componentes do PIB que conseguiram ao menos eliminar as perdas da primeira onda do coronavírus, os destaques foram a indústria e comércio, favorecidos principalmente pelo impacto do Auxílio Emergencial, que teve um custo da ordem de R$ 300 bilhões para os cofres públicos.

“A recuperação da indústria e do comércio foi surpreendente ao longo do segundo semestre, mas teve um impacto muito grande do crescimento da massa de rendimentos, que cresceu mais de 3%”, destaca Miranda.

De acordo com o Ibre, sem as políticas de transferência de renda – Auxílio Emergencial, Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm) e saques do FGTS –, a massa ampliada de rendimentos teria caído 5,7% no ano passado.

Impactos do Auxílio Emergencial

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, estima que o dinheiro repassado pelo governo às famílias mais vulneráveis teve um impacto de 2,5 pontos percentuais no resultado do PIB de 2020.

“Estamos falando de um PIB que poderia cair em torno de 6,5% se não tivesse o Auxílio Emergencial. O tombo em 2020 foi menor do que se imaginava inicialmente, mas com um alto custo do ponto de vista fiscal. Agora, a gente precisa pagar a conta, ao mesmo tempo em que a pandemia ainda não foi embora”, afirma.

Por conta dos gastos extraordinários para amenizar os efeitos da pandemia, o rombo nas contas do governo foi recorde em 2020, somando R$ 743 bilhões. Esse déficit ajudou a aumentar ainda mais a dívida pública, que saltou de 74,3% para 89,3% do PIB, patamar recorde e considerado elevado para um país emergente.

Evolução do PIB do Brasil e projeções — Foto: Economia G1

Evolução do PIB do Brasil e projeções — Foto: Economia G1

PIB deve ter queda no 1º trimestre

O fim dos programas de auxílio sem substitutos definidos, a falta de vacinas, a inflação “mais salgada” e as preocupações com a trajetória do endividamento público têm pesado na economia neste começo de ano e abalado a confiança de consumidores e empresários.

A consultoria GO Associados estima que o fim do Auxílio Emergencial tenha um impacto negativo de 1,52% no resultado do PIB do 1º trimestre e projeta uma retração de 1% na comparação com o 4º trimestre.

O Ibre prevê uma queda de 0,4% do PIB no 1º trimestre, já levando em conta uma nova rodada do Auxílio emergencial a partir de março.

Já a MB Associados espera uma queda de 0,8% e não descarta uma taxa negativa também no 2º trimestre, o que configuraria uma recessão técnica.

“Estamos chegando em março e a vacina só chegou a 3% da população. Vai ser muito lento provavelmente ainda nos próximos 4 meses, então vejo uma chance grande de uma queda de PIB nos dois primeiros trimestres por conta desse cenário ainda enfraquecido”, diz Vale.

Para o economista, a quase certa nova rodada do Auxílio Emergencial tende a ter um impacto limitado até mesmo no PIB do 2º trimestre. “Vai voltar, mas deve ser ser por 4 meses, num valor menor, por volta de R$ 250, e para menos gente. Acredito que a maior parte desses recursos vai ser usada para pagar dívidas e para o consumo básico”, avalia.

Sem espaço fiscal para políticas de auxílio na magnitude do que foi observado no ano passado e com a queda da renda das famílias, o crescimento em 2021 dependerá em grande parte da eficácia da vacinação e da controle da pandemia.

“A retomada do mercado de trabalho também depende da contenção da pandemia. Temos alguns setores represados, especialmente as categorias dentro de serviços e, conforme a vacinação for avançando, a economia deve tender à normalização”, afirma Miranda, lembrando que o setor de serviços é o que mais emprega no país.

Aumento das incertezas

A média das projeções do mercado para o crescimento do PIB em 2021 tem sido revisada para baixo e está em 3,29%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central, bem abaixo da expectativa para o crescimento global no ano, estimada em 5,5% pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

Parte dos analistas, no entanto, já estima uma taxa mais próxima de 3%. A percepção de aumento dos riscos fiscal e político se acentuou após as turbulências provocadas pela decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar o comando da Petrobras e pelos receios de uma guinada populista e de enfraquecimento da agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes.

“O governo tenta controlar o que é possível visando benefícios eleitorais no ano que vem, mas isso é sempre um tiro no pé. Você pode segurar os preços no curto prazo, mas os efeitos de longo prazo são muito negativos para a economia e esse tipo de intervenção afeta também os investimentos”, afirma Vale, que projeta um crescimento de 2,6% em 2021.

O temor de interferência do governo na política de preços da Petrobras e na gestão das estatais levou a agência de classificação Moody´s alertar para o risco de perda de credibilidade do Brasil e de aumento acentuado do custo do financiamento da dívida do país. “A ação do presidente Jair Bolsonaro aumenta o ruído político e a incerteza sobre as reformas estruturais neste ano”, avaliou.

A alta no preço dos combustíveis e as expectativas de inflação em patamar acima da meta do governo para 2021 também têm feito o mercado apostar em um aumento da taxa básica de juros já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, agendada para 17 de março.

Crescimento em 2021 será ‘bombado’ por efeito estatístico

O Ibre FGV ainda trabalha com um cenário crescimento de 3,6% do PIB em 2021, mas lembra que, em função da base mais fraca de comparação em razão do tombo registrado em 2020, o carregamento estatístico será da ordem de 3% no ano, o que pode ser traduzido como um ano de crescimento pífio.

“Se ficarmos no mesmo nível do final de 2020 e o PIB crescer neste ano zero por trimestre, na comparação com o trimestre anterior, ainda assim vamos ter crescido 3,1% em 2021”, explica Miranda.

Mesmo no cenário otimista, de vacinação em massa e retorno gradual do setor de serviços, a avaliação é que a economia brasileira só deverá conseguir voltar ao ponto que estava antes da pandemia a partir de 2022.

“O crescimento de 2021 não será suficiente para compensar a queda de 2020. Deve ficar concentrado no segundo semestre e será mais efeito da vacina do que de uma economia pujante”, resume a pesquisadora do Ibre.

Fonte: G1

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