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Sem lição de casa, resultado é pibinho negativo e volta da recessão

Foi em 1934 que o americano Simon Kuznets propôs uma fórmula para calcular toda a riqueza produzida em um país, o PIB.

Este, porém, não era um conceito exatamente novo. Em 1693, William Petty, um economista inglês, já havia se debruçado sobre a ideia.

Sob ordens do rei, Petty se pôs a calcular a riqueza nacional da Irlanda, chegando a conclusão de que ela equivalia a £ 40 milhões anuais, dos quais £ 15 milhões vinham da renda sobre o capital e £ 25 milhões da renda do trabalho. De fato, Petty incluiu a ideia de “capital humano” cerca de 250 anos antes do conceito se tornar um “padrão”.

Assim como Petty, cujos cálculos eram uma mera desculpa do rei para saber o quanto conseguiria cobrar de impostos, os cálculos de Kuznets levaram a uma ideia: se o PIB pode ser calculado, significa que as suas variáveis podem ser mudadas, ou incentivadas, permitindo que o PIB cresça.

Mexer com as variáveis e fazer o tal do PIB crescer, é uma obsessão para toda classe política desde então.

Para os economistas, porém, entender como este crescimento ocorre, é a questão mais relevante. E a distância entre as conclusões de políticos e economistas nessa briga continua tão distante quanto sempre foi.

Para os economistas, o crescimento do PIB pode ser decomposto em duas partes: o aumento demográfico, que significa mais pessoas trabalhando e produzindo, e o aumento da produtividade, o que significa aumentar a quantidade produzida com a mesma quantidade de recursos. O segundo fator, claro, é o mais relevante.

Na mente política, entretanto, o fato de o PIB ser calculado pela demanda (que de fato é uma das 3 maneiras de calcular o PIB, junto da oferta e do valor agregado), dá uma boa pista do que fazer.

Considere que existem 3 agentes na economia: famílias, empresas e o governo.

Se o PIB aumenta conforme a demanda, caso um destes agentes (o governo, por exemplo), aumente o seu consumo, a riqueza do país aumenta, correto? A resposta é, como tudo em economia, depende.

Durante quase uma década, a economia brasileira foi pautada sob este lema.

O governo expandiu gastos, promovendo investimentos por meio do PAC, incluindo aí estádios de futebol, estradas, aeroportos, construção civil e assim por diante.

Na outra ponta, o governo aumentou seu endividamento para permitir que as empresas investissem mais. Foram R$ 1,5 trilhão em créditos destinados pelo BNDES no período.

Ainda mais, o governo reduziu impostos (como o IPI para carros e eletrodomésticos), estimulando as famílias a consumir mais. Subsídio produtos como gasolina e energia (que consumiram mais de R$ 200 bilhões em gastos para as empresas como Petrobras e Eletrobras).

Também reduzimos impostos pagos sobre a folha de pagamentos (que custaram centenas de bilhões à previdência). Além, claro, de reduzir os juros na marra.

Seguimos uma dose cavalar de estímulos para ampliar o consumo de praticamente todos os agentes na economia.

O resultado? A dívida pública explodiu, o investimento pouco cresceu e entramos na maior recessão do PIB da história brasileira.

Há, claro, quem vá falar em crise internacional e jogar a culpa em fatores externos, afinal, somos um país acostumado a nos esquivar das responsabilidades. Mas é fato que outros países emergentes não tiveram o mesmo destino.

Ao longo de todo este período de bonança, porém, pouco focamos nos dois pontos que resultam no número do PIB.

Em demografia, vimos o aumento populacional cair de 1,2 para 0,6% ao ano na década, conseguindo apenas no final, e cerca de 30 anos após a primeira proposta, criar uma reforma da previdência.

Ao contrário, expandimos os gastos com previdência acima da inflação para garantir mais um estímulo ao consumo.

Já em outubro de 2014, o IPEA deveria ter divulgado que pela primeira vez em 13 anos, a pobreza havia voltado a subir (deveria, claro, não fosse mês de eleição, de modo que o anúncio ficou pra depois).

Na parte de produtividade seguimos o receituário dado por grandes empresários: mais subsídio.

Fracassamos em ambas as variáveis. Levando o país a mergulhar na tal recessão.

O resultado, que até agora não conseguimos reverter, foi uma década perdida.

Nunca antes na história deste país o PIB cresceu tão pouco quanto nos anos 2010. Se retirarmos o mero aumento da população, o PIB de fato chegou a cair na década.

Agora, com a expectativa de que já em 2031 o nosso aumento populacional vá a 0% a.a., restaria focar na tal produtividade.

Neste momento, porém, vemos discussões no congresso pautadas pela PEC dos Precatórios, cujo objetivo é ampliar os gastos.

Temos uma disputa por mais verba para emendas parlamentares, um rolo compressor que esmaga o orçamento para favorecer deputados.

E como se fosse pouco, desculpas erráticas sobre o resultado pífio do PIB no terceiro trimestre (-0,3%).

O resultado hoje aponta para uma recessão no próximo ano, patrocinada por uma alta colossal nas taxas de juros.

A surpresa, entretanto, é que os juros não sobem para compensar o problema fiscal. Ao contrário, a alta da inflação ajudou as contas do governo.

Tratamos aqui de um risco eminentemente político.

Temos um congresso, um executivo e um judiciário preocupados em abrir espaços para gastos. Um presidente que ao primeiro sinal de folga no orçamento já se apressa em anunciar que pretende dar aumentos salariais no ano da eleição.

Reformas? Não se sabe onde estão. O clima miou. Não há como promover uma reforma administrativa em ano de eleição, uma tributária muito menos.

Privatizar a Eletrobras? O ministro garante que ainda dá, mas a realidade política assegura que não.

Tivemos avanços discretos, uma MP do marco ferroviário (até o momento já são R$ 150 bilhões em investimentos anunciados), alguns outros marcos regulatórios, como a BR do Mar ou saneamento, mas nada que possa acalmar e sinalizar um futuro melhor no ambiente macro.

Os Três Poderes não possuem qualquer compromisso com a melhoria do ambiente de negócios, com facilitar a criação e o avanço da renda.

Nesse cenário, resta culpar a chuva pelo PIB, ou quem sabe anunciar que há uma crise global.

Não foi suficiente em 2014, não será agora, mas alertar sobre isso, claro, é jogar na turma que torce contra, como o pessimildo, o personagem da reeleição da ex-presidente em 2014.

Fonte: Infomoney

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