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Startups usam tecnologia para revolucionar o campo e mudar padrões de consumo

Os investimentos nas agtechs aumentaram 43% em um ano e já chegam a US$ 17 bilhões

Uma revolução avança sobre o campo. Demorou, mas a transformação digital chegou ao mundo agro. “Os próximos dez anos serão marcados por mudanças dramáticas no sistema agroalimentar”, apostam os pesquisadores Nikola Trendov, Samuel Varas e Meng Zeng, no relatório Digital Technologies in Agriculture and Rural Areas, lançado pela FAO, braço da ONU para alimentação e agricultura.

Blockchain, internet das coisas (IoT), inteligência artificial, ciência de dados, análise preditiva, computação em nuvem, robótica… A adoção em massa de tecnologias inovadoras mudará a forma como usamos a terra. Afetará não apenas o fazendeiro, mas todas as etapas da cadeia produtiva — até o consumidor que, ultraconectado, está mais bem informado, consciente e exigente.“Do campo ao garfo” é o lema da agricultura digital. A transformação do agronegócio, preveem os especialistas da FAO, tende a ser a mais “disruptiva” entre todas as indústrias. Movimenta US$ 7,8 trilhões e emprega 40% da força de trabalho global.

Startups voltadas para o campo despertam a atenção das grandes do setor. Fusões e parcerias são firmadas. Gigantes da tecnologia investem em uma área até então pouco conhecida por elas. Empresas de telecomunicação dedicam especial atenção às zonas rurais. Os investimentos globais nas chamadas agtechs somaram US$ 16,9 bilhões em 2018 — um crescimento de 43% em relação a 2017 e cinco vezes maior se comparado a 2012, segundo o AgFunder Agrifood Tech Investing Report, da AgFunder, plataforma global de investimentos do mercado de tecnologia para o agronegócio, sediada no Vale do Silício. “Os Estados Unidos ainda dominam o mercado, mas China, Índia e Brasil contribuíram com alguns dos maiores negócios do ano”, lê-se no documento. De fato, o ecossistema nacional fervilha.

Um dos marcos mais simbólicos da remodelação pela qual o agronegócio passa é de 2013. Naquele ano, a gigante americana Monsanto desembolsou cerca de US$ 1,1 bilhão pela californiana The Climate Corporation, o primeiro unicórnio global do universo das agtechs. Fundada em 2006 por David Friedberg e Siraj Khaliq, ex-executivos do Google, a empresa desenvolveu um aplicativo, o Climate FieldView, que, ao analisar dados meteorológicos e de campo, fornece informações precisas ao fazendeiro sobre o melhor momento para plantar. A transação bilionária colocou as startups no radar do mercado. Desde então, a efervescência em torno da agricultura 4.0 só faz aumentar. Basta dar uma olhada em alguns dos movimentos do setor nos últimos dois anos.

Sudeste tem quase 70% das startups agro do país 

Em junho passado, a Corteva Agriscience, até então a divisão agrícola da holding DowDuPont, tornou-se uma empresa independente, de capital aberto. A fusão entre as gigantes americanas aconteceu em 2017. No mesmo ano, a DowDuPont comprou a Granular, agtech fundada em 2014 no Vale do Silício por Mike Preiner e Sid Gorham, que, agora, é parte da Corteva.


Em maio de 2018, a suíça Syngenta, produtora de sementes, adquiriu (por valor não revelado) a startup brasileira Strider. Eleita pela revista Forbes uma das 25 agtechs mais inovadoras do mundo, a empresa criou o primeiro software de monitoramento e controle de pragas com o uso de tecnologia da informação. Fundada em 2013 em Belo Horizonte por Carlos Neto, Gabriela Mendes e Luiz Tângari, a Strider também desenvolve programas para a gestão operacional das fazendas.


Em junho de 2018, o grupo farmacêutico e agroquímico alemão Bayer tornou-se líder do mercado mundial de sementes, fertilizantes e pesticidas ao comprar a americana Monsanto por US$ 63 bilhões. Levou junto a The Climate Corporati

Em 2017, a Syngenta foi adquirida pela ChemChina, dona da Adama, maior fornecedora de fitossanitários da Europa, em uma operação de US$ 43 bilhões.

No mesmo ano, a americana John Deere, de máquinas e implementos agrícolas, comprou por US$ 305 milhões a Blue River, startup californiana fundada em 2011 por dois estudantes da Universidade Stanford — Jorge Heraud e Lee Redden. A partir do uso de visão computacional, aprendizado de máquina e inteligência artificial, eles desenvolveram a plataforma See & Spray, capaz de determinar as necessidades de cada planta.

A agricultura do futuro é a de precisão. Pelo método de cultivo tradicional, a plantação de uma mesma cultura, por exemplo, é tratada toda da mesma forma. Graças às novas ferramentas, a partir de análise e cruzamento de informações sobre o clima e o solo, é possível determinar o manejo mais adequado para cada pedacinho da lavoura. Com ações e intervenções tão específicas, o consumo de água e de insumos cai — consequentemente, diminuem os custos de produção e a contaminação do solo. “Na agricultura 4.0, as fazendas se transformam em fábricas orgânicas”, define Ulisses Mello, diretor do laboratório de pesquisa da IBM Brasil. A partir de dados enviados do campo para a tela do computador, do tablet ou do celular, os fazendeiros hi-tech conseguem, como dizem, “ajustar o que a planta está fazendo” — como se ajustam máquinas, engrenagens e circuitos. Tamanha precisão torna a agricultura 4.0 mais eficiente, claro, mas também mais sustentável, transparente, resiliente ao clima e inclusiva.

O trabalho no campo muda — e a transformação é radical. Em muitos casos, é como se a fazenda fosse para dentro do escritório. É assim na CIA, a Central de Integração Agroindustrial, da Raízen, empresa de energia, que integra todas etapas do processo — do cultivo da cana, com a produção de açúcar, etanol e bioenergia, à comercialização, logística e distribuição de combustíveis. Em uma das salas da companhia em Piracicaba, a 156 quilômetros da capital paulista, 48 torres, com quatro monitores cada uma, fazem o monitoramento e a programação, 24 horas por dia, das operações agrícolas de 450 mil dos 900 mil hectares de cana da empresa no país. O controle dos tratores e das colhedoras é minucioso. Graças a um software produzido pela celebrada agtech Solinftec, os analistas da Raízen conseguem determinar, em tempo real, onde e o que cada máquina está fazendo. E mais. O programa da agtech indica ainda quando os veículos necessitam de revisão ou reparo — frequentemente, antes que eles quebrem. De acordo com Thaís Fornícola, gerente de governança operacional da empresa, graças ao trabalho da CIA a eficiência aumentou 15%. Um único analista da central faz o serviço que, na agricultura tradicional, requer, no mínimo, cinco frentes de trabalho.

A transformação digital tem o poder de integrar todas as etapas da cadeia produtiva. Essa conexão é importante na busca por um sistema mais sustentável. Para se ter uma ideia, fiquemos somente na fase pré-colheita do cultivo de folhosas. De cada cem sementes plantadas, apenas 65 são colhidas — 35 são inutilizadas por causa de intempéries e pragas, em decorrência do manuseio inadequado e/ou são pisoteadas e/ou esmagadas por máquinas, segundo Geraldo Maia, cofundador da Pink Farms, a maior fazenda vertical urbana da América Latina. “Não basta ser eficiente apenas dentro das fazendas”, diz Ronan Damasco, diretor nacional de tecnologia da Microsoft Brasil.

O papel da agricultura vertical na busca por práticas sustentáveis

Não tem como ser diferente. A agricultura do modo como a conhecemos hoje vai se revelando insustentável. A atividade agrícola consome 70% da água potável do planeta — metade é desperdiçada em irrigações malfeitas e cálculos errados de uso. Se o campo reduzisse o consumo em 10%, haveria o suficiente para abastecer duas vezes a

população mundial, indica a FAO. “Todos estão atrás de soluções para a segurança alimentar”, diz Kleber Alencar, diretor executivo da Accenture.

“A agitação toma conta das universidades e dos centros que abrigam agtechs.” Como diz Gerhard Bohne, presidente da divisão agrícola da Bayer no Brasil, a inovação nunca foi tão importante para a agricultura quanto agora.

Fundada em 2014 em Itajubá, Minas Gerais, a Agrosmart está entre as principais agtechs da América Latina. Idealizada por Mariana Vasconcelos, 28 anos, a plataforma de agricultura digital oferece informações que ajudam os produtores rurais nas decisões sobre irrigação, manejo de pragas e doenças, plantio e colheita. A empresa monitora lavouras, integra diferentes fontes de dados e gera modelos agronômicos e climáticos, com base em condições de solo, microclima e genética. O sistema permite economia de até 60% da água e 30% da energia necessária para a irrigação. Em 2018, Mariana entrou na lista da MIT Technology Review dos 35 jovens mais inovadores da América Latina.

Brasileira entra na lista dos 100 mais criativos do mundo em 2019

Não há dúvida de que um dos caminhos mais importantes para o futuro é a agricultura de dados. Para avançar, no entanto, é preciso garantir o acesso a eles. Grandes produtores e fornecedores de equipamentos criaram seus próprios bancos de informações, acessíveis apenas a sistemas programados por eles. A posse e centralização da informação criam distorções, claro. “Quando as informações fluem facilmente, quando os dados são democratizados, o custo dos negócios na agricultura diminui”, diz Bill Gates, cofundador da Microsoft, em seu blog Gatesnotes.com. Os especialistas são unânimes em afirmar que é imprescindível que todos os agentes estejam na mesma página. Em sintonia. 

Esse movimento já está em curso. Segundo Nick Block, diretor de agricultura de precisão e inovação da John Deere na América Latina, os fabricantes de equipamentos agrícolas começaram a abrir seus sistemas, permitindo a integração entre diferentes aplicativos. “A evolução mais significativa está na forma de utilizar os dados, transformando-os rapidamente em informação útil”, diz o executivo. “E a inteligência artificial tem papel importante nesse sentido.” Quebrar a barreira entre os sistemas vai garantir a formação de grandes depositórios, com uso de técnicas de big data, para suprir a demanda de tecnologias para análise de informações, aprendizado de máquina e inteligência artificial. “O modelo tem de ser o colaborativo”, defende Nick.

Um dos principais entraves (quiçá o maior) na transformação do campo, segundo os especialistas, é a falta de conectividade. Quase 4 bilhões de pessoas ao redor do mundo continuam desconectadas. A maioria está em zonas rurais e locais remotos, segundo levantamento da FAO. Sem conexão, é impossível coletar dados e, sem dados, é impossível desenvolver inteligência. Leanna Sweha, diretora da Agstart, organização sem fins lucrativos que acelera startups voltadas para o agronegócio e a alimentação, conta que é comum um produtor americano ter de sair do campo, rodar uma hora de carro até a cidade mais próxima, entrar em um café e, assim, conseguir acessar internet em banda larga. E isso na Califórnia, estado sede da Agstart e do Vale do Silício. Fazendeiros franceses passam pelo mesmo problema. No Brasil, idem. A estimativa é de que aqui apenas 10% das fazendas estejam conectadas. 

Todos estão em busca de soluções para driblar o isolamento no campo, e elas começam a surgir. Ericsson, Raízen e Vivo se juntaram em parceria com a EsalqTec, incubadora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, sediada em Piracicaba, no projeto Agro IoT Lab, na busca por startups que desenvolvam soluções para a falta de conectividade. Participam da iniciativa os hubs de inovação da Raízen (Pulse), e da Vivo (Wayra). Mariana, da Agrosmart, por sua vez, optou por um sistema via satélite. O Airband, desenvolvido pela Azure, plataforma de serviços de nuvem da Microsoft, leva a conectividade aonde a internet não chega por meio dos canais vazios de TV, os chamados TV white spaces — no Brasil, isso não é permitido. O acesso às tecnologias digitais leva a que os produtores de todos os portes apliquem os conhecimentos agrícolas no dia a dia de seus negócios. “Fica mais fácil, mais intuitivo e ainda retém os jovens na zona rural”, diz Celso Moretti, presidente da Embrapa. 

Como tudo o que envolve a economia 4.0, em todas as indústrias, não importa o tamanho, a colaboração e a parceria são imprescindíveis. Fabricante de açúcar, a francesa Tereos está alinhada com 20 mil propriedades cooperadas que, além de entregar matéria-prima para a produção de açúcar, compartilham dados com a empresa. “Nosso papel é ajudar os produtores a entender suas lavouras e a tomar decisões. Se o negócio deles vai bem, temos benefício”, explica Hervé Nouvellon, diretor agrícola da Tereos. Ao combinar internet das coisas e análise de dados para monitorar pragas, por exemplo, a companhia reduz o risco de quebras na safra local, assegurando o abastecimento de suas usinas.

Ideias inovadoras (revolucionárias, até) surgem em todos os cantos do planeta. Na Califórnia, onde a escassez de água é um problema crônico, a startup WaterBit desenvolveu um sistema de irrigação automatizado capaz de ler as condições do solo para dispensar apenas a água necessária a cada planta. “Os sensores captam dados de umidade do solo, e os sistemas de análise calculam a hidratação”, comenta Leanna, da Agstart. O equipamento também utiliza informações da previsão do tempo para programar a irrigação. “Se vai chover, nem é preciso ligar as máquinas”, diz.

Maioria dos vegetais é segura para consumo; 8% têm irregularidades

A também californiana Persistence Data Mining (PDM) criou um software capaz de ler imagens hiperespectrais (fotografias das propriedades físico-químicas dos materiais presentes na superfície do solo), captadas por drones para medir os nutrientes na terra e dosar a aplicação de fertilizantes. Já a francesa Naïo Technologies aposta em robôs que capinam e colhem. O modelo Dino foi projetado para remover ervas daninhas em fazendas de hortaliças. O equipamento é 100% elétrico e trabalha de forma autônoma, guiado por GPS e câmeras. Com o robô, reduz-se o uso de herbicidas.

No Reino Unido, o projeto Hands Free Hectare, fruto da parceria entre a Universidade Harper Adams e a empresa Precision Decisions, transforma equipamentos agrícolas antigos em máquinas autônomas programadas para preparar a terra, semear, cultivar e colher cereais. Elas operam sem intervenção humana no perímetro de um hectare. De acordo com Kieran Gartlan, diretor de operações da aceleradora The Yield Lab no Brasil, a robótica é um dos setores que mais crescem na Europa. Isso devido às características do território — dividido em pequenas propriedades, tocadas por famílias.

Uberização da economia avança sobre a roça – e adjacências

A demanda por tecnologia no agronegócio não é homogênea. “Os países produtores possuem necessidades diferentes”, diz Kleber Alencar, diretor executivo da Accenture. Para quem produz em grande escala, como Brasil, Estados Unidos, Austrália, China e França, as ferramentas mais atraentes são as que aumentam a produtividade e reduzem os custos de manejo, que, em geral, abocanham 80% do orçamento da produção. Já os países importadores de alimento buscam soluções para rastreabilidade de produtos, compras mais vantajosas e eficiência nas cadeias de logística.

No Brasil não é diferente. “Nosso desafio é ampliar a transferência tecnológica para a lavoura”, diz Celso, da Embrapa. Como exemplo de sucesso, ele cita a Agrobótica. Fundada em 2015 em São Carlos, no interior paulista, spinoff da estatal, agtech combina análise fotônica com inteligência artificial para fazer uma leitura minuciosa do terreno. A técnica conhecida como Libs é a mesma utilizada pelo robô Curiosity, enviado pela Nasa para explorar Marte. Um pulso de laser incide sobre a amostra de solo. O material superaquece e é transformado em plasma — o chamado quarto estado da matéria, um gás ionizado. Por meio da fotônica, é possível identificar todos os elementos da tabela periódica — cada um deles emite uma luz característica, sua impressão digital. Em tempo real, o software da Agrorobótica transforma esses dados em informações sobre a quantidade e a qualidade dos nutrientes, a textura e a acidez da terra. A tecnologia, além de agilizar a análise do solo, que, pelos métodos tradicionais, pode levar de 10 a 40 dias para ser concluída, torna o processo mais limpo. “O método convencional chega a usar até 15 reagentes químicos ”, diz Fábio Angelis, engenheiro agrônomo, fundador e CEO da startup. Segundo ele, 25% do custo de produção refere-se a fertilizantes. Graças ao raio X minucioso do terreno a ser cultivado, portanto, o uso de insumos fica mais preciso. Evitam-se o desperdício,  os gastos desnecessários e o excesso de química na terra.

A nova meta da Embrapa é fomentar o ecossistema brasileiro, criando meios para multiplicar o número de agtechs. O primeiro passo, explica a pesquisadora Silvia Massruhá, chefe da unidade de informática agropecuária da empresa, foi a criação de uma plataforma, com computação em nuvem, para compartilhar informações sobre culturas, sistemas de produção e zoneamento de risco climático. O sistema reúne série histórica de 40 anos. São dados coletados, curados e tratados pelos pesquisadores da Embrapa. O passo é significativo e responde a um dos desafios do setor levantados pelo estudo da FAO: a falta de dados para sustentar o desenvolvimento de soluções e escalar o uso da tecnologia. “Empresas, startups e pesquisadores terão acesso fácil às informações. É um atalho importante para os projetos”, diz Silvia.

Tecnologia permite cultivo de trigo em áreas antes não exploradas, diz Embrapa

As empresas realmente transformadoras serão aquelas capazes de combinar o poder das tecnologias digitais com outras ciências, defende Dario Maffei, CEO da Indigo no Brasil — empresa americana de tecnologia agrícola que investe em micróbios vegetais na busca por melhorias na produção de algodão, trigo, milho, soja e arroz. Segundo ele, o conhecimento produzido por agrônomos, físicos, biólogos e geneticistas, entre outros pesquisadores, ainda está estocado em silos. Nem todo mundo tem acesso a eles. “A inovação tem relação com a capacidade de aplicar o conhecimento”, diz Dario. No caso da Indigo, o ativo mais valioso é a biblioteca de microrganismos, que alimenta os sistemas de análise de dados e de inteligência artificial. Fundada em 2014, a empresa vale hoje US$ 3,5 bilhões.

A sacada da Indigo foi relacionar a microbiota humana com os microrganismos que habitam o ecossistema das plantas. A hipótese era a de que, da mesma forma que alguns micróbios beneficiam a saúde humana, eles também interferem (para o bem) no desenvolvimento vegetal. Bastava descobrir quais deles eram os mais adequados a cada cultura. Para entender as correlações, a empresa uniu informações sobre a genética dos micróbios e treinou algoritmos para indicar quais se sairiam melhor em cada lavoura. “O solo é o berço da semente e todas as informações contidas nele interessam ao produtor”, compara Dario.

Robert Reiter, líder global de pesquisa e desenvolvimento (P&D) agrícola da Bayer, concorda com o CEO da Indigo. Segundo ele, a relação entre as tecnologias digitais e as ciências da vida é simbiótica. As informações colhidas no campo vão alimentar as bancadas científicas, auxiliando os pesquisadores em novas descobertas. A Bayer mantém 35 centros de pesquisa no mundo e 175 unidades dedicadas ao melhoramento genético. Em 2018, faturou ¤ 39,6 bilhões e aplicou ¤ 2,6 bilhões em P&D.

Bayer lança marketplace de insumos agrícolas e programa de fidelidade para produtores

Assim como acontece na revolução industrial 4.0, na transição da agricultura tradicional para a digital importa como as tecnologias emergentes levarão os negócios e a vida quotidiana rumo a novos sistemas — de novo, mais produtivos e eficientes, que zelem pela ética, transparência e inclusão. “As tecnologias têm de fazer sentido”, diz Pedro Valente, diretor da Amaggi Agro, empresa de agricultura de precisão, com atuação em soja, milho e algodão. A mecanização da lavoura e a análise dos dados de sensores e de telemetria permitem rastrear toda a produção. “Conseguimos saber quando a área foi plantada, quanto usou de insumos e que máquinas foram utilizadas”, afirma Pedro. As informações garantem ajustes durante a safra e, além de aumentar a produtividade, reduzem custos. O próximo passo da Amaggi é melhorar os indicadores de sustentabilidade, com redução no uso de defensivos.

Para ampliar a digitalização no campo, destaca o executivo, outro componente importantíssimo é a análise do custo-benefício. Pode ser muito bacana usar drones para monitorar as lavouras, mas, em um país das dimensões do Brasil, por exemplo, para a maioria dos agricultores isso não faz o menor sentido. “Esses equipamentos têm autonomia para cobrir distâncias pequenas”, conta. A depender do ritmo atual de inovações, logo, logo, surgirá um drone capaz de cobrir grandes plantações. A transformação do campo está apenas começando.

EM TRANSFORMAÇÃO

A agricultura vive hoje sua quarta grande revolução. A primeira ocorreu no ano 10 mil a.C. Todos esses movimentos impulsionaram a eficiência, o rendimento e a lucratividade

A Revolução Neolítica: 10 mil a.C.
É marcada pela descoberta do fogo, o que possibilitou ao homem dominar a produção de alimentos. As ferramentas do paleolítico (entre os anos 2,5 milhões a.C. a 10 mil a.C.) foram aperfeiçoadas para a atividade agrícola. O estilo de vida passa do coletor-caçador, nômade, para o agrícola, sedentário. Essa mudança é a base para a formação das primeiras comunidades

A Revolução industrial: séc. 17 a 19
A Revolução Industrial impacta sobremaneira a produção agrícola. A mecanização chega ao campo. Tem início a produção em grande escala. O esgotamento do solo é combatido com a rotatividade de culturas, sempre integrada à pecuária. Cria-se a semeadura mecânica. As inovações ganham o mundo, quando são replicadas nas colônias das Américas e da Ásia

A Revolução Verde: da década de 60 aos anos 2000
É o período do uso intensivo de fertilizantes e agrotóxicos, da mecanização e das sementes geneticamente alteradas. A promessa é a de elevar estrondosamente a produção e resolver o problema da fome no mundo. A produção aumenta e a concentração fundiária grassa, alterando drasticamente a cultura dos pequenos agricultores. Florestas são desvastadas; a água e o solo, contaminados

A Revolução 4.0: Hoje
A ascensão da agricultura digital promete, segundo os especialistas, ser a mais transformadora das revoluções no campo. A produção ganha racionalidade. “Os resultados desejados da agricultura digital são sistemas de maior produtividade, que se antecipam e se adaptam às mudanças climáticas, oferecem maior segurança alimentar, rentabilidade e sustentabilidade”, lê-se em relatório da FAO

INSTRUMENTO PODEROSO CONTRA A DESIGUALDADE

Meng Zeng, pesquisadora da FAO, é enfática ao dizer que a tecnologia é apenas um meio para resolver as questões que afligem a humanidade, entre elas a segurança alimentar. “O objetivo é o bem-estar do ser humano. Temos de garantir acesso aos elementos fundamentais para a sobrevivência”, comenta, em entrevista a Época Negócios. Para ela, sem unir esforços será difícil assegurar que pequenos produtores rurais, especialmente dos países menos desenvolvidos, adotem tecnologias digitais e apliquem conhecimento científico em suas lavouras, tendo como resultado colheitas mais fartas e rentáveis. “Acompanhamos iniciativas importantes na África e na América Latina. O acesso à tecnologia é transformador”, diz. 

Um exemplo é a startup nigeriana Hello Tractor, que usa a internet das coisas para conectar donos de tratores e produtores de pequeno porte. É uma espécie de Uber para equipamentos agrícolas.  O trabalho começa com o “retrofit” digital de tratores tradicionais, que ganham GPS, sistemas e sensores para se tornarem “inteligentes”. Com a capacidade de gerir as máquinas e saber sua localização exata, os proprietários podem aderir à plataforma de uso compartilhado, oferecendo serviços como o aluguel de tratores.

Nikola Trendov, parceiro de Meng na FAO, diz que dar as mesmas oportunidades a todos os produtores rurais é passo primordial para aumentar a produção de alimentos na escala exigida nas próximas décadas. Nesse sentido, iniciativa privada, academia e governos precisam se articular e criar programas de fomento e políticas públicas de transformação digital nas zonas rurais. “Se for acessível apenas aos grandes produtores e países ricos, a tecnologia vai aumentar a desigualdade”, conclui.

AND THE OSCAR GOES TO…

Em cerimônia realizada em São Francisco, nos Estados Unidos, a Solinftec recebeu, em março passado, o AgFunder Innovation Award, considerado o “Oscar” das agtechs. Pela primeira vez uma empresa brasileira conquista o título de startup internacional mais inovadora em sua categoria, a de Farm Tech. A Solinftec também figura na lista das 50 principais agtechs do mundo, publicada pela aceleradora Thrive, do fundo de investimentos SVG Ventures. A honraria animou investidores e especialistas no Brasil. Muitos deles acreditam que a empresa tem tudo para ser o primeiro unicórnio brasileiro do agronegócio. “Não estamos preocupados em ser unicórnio ou qualquer outro bicho. Estamos focados nos nossos clientes”, diz Rodrigo Iafelice, CEO da Solinftec.

A empresa desenvolveu uma plataforma que permite a conexão do fazendeiro em tempo real com a propriedade. A coleta e análise de uma série de dados, como clima e solo, resultam na economia no uso de diversos insumos, defensivos agrícolas entre eles. “Não adianta pulverizar a lavoura quando a temperatura ambiente está muito alta, o defensivo vai evaporar antes de atingir a planta”, exemplifica Rodrigo. Nesse caso, o agricultor só precisa que o sistema indique o momento certo para a aplicação. “No campo, a demanda é por simplicidade.”

Segundo o executivo, o sucesso da Solinftec explica-se pela capacidade da empresa em entender o produtor e oferecer soluções com retorno rápido do investimento. “Mostramos o resultado, antes mesmo de eles contratarem nossos serviços”, diz. 

Em franca expansão, a Solinftec firmou parceria com a Purdue University, em Indiana, para acelerar o crescimento nos Estados Unidos. “Estamos sendo muito bem recebidos por lá. Nossa abordagem franca agrada aos produtores americanos”, comenta Rodrigo. Com 463 funcionários, a empresa atua em dez países, monitora 30 mil equipamentos agrícolas e já conquistou 100 mil usuários.

https://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2020/01/startups-usam-tecnologia-para-revolucionar-o-campo-e-mudar-padroes-de-consumo.html

Por: Ediane Tiago

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