O pior dos pesadelos de quem está lutando para deter o novo avanço do Coronavírus se concretizou: ocorreu uma mutação. A Ômicron.
A variante sul-africana B.1.1.259, (que a Organização Mundial da Saúde apelidou de Ômicron, da letra grega progressiva em relação às usadas nas variantes anteriores) poderia forçar o mundo a dar muitos passos para trás. De volta aos confinamentos, trabalho remoto e fechamentos de atividades econômicas.
Algo que poderia trazer prejuízos incalculáveis para a saúde das pessoas e para as economias de todo o planeta, além de verdadeiros dramas sociais e psicológicos.
Muito provavelmente essa mutação ocorreu em uma pessoa imunossuprimida. Contagiada por AIDS ou por outra patologia não tratada na África do Sul ou em Botsuana.
Nesses dois países, apenas entre 25% e 35% da população está vacinada. Um número dramaticamente baixo.
Ômicron gera pânico nos mercados e entre governos
Os efeitos dessa nova variante foram imediatos. As Bolsas de Valores do mundo inteiro fecharam no vermelho profundo. O Ibovespa perdeu 3,25%.
Foi decretado mais um bloqueio de voos comerciais vindo da África. E muitos países estão estudando a volta ao isolamento social.
Mas por que, entre as muitas mutações que surgiram em quase dois anos de pandemia, a B.1.1.259 é tão assustadora?
Pelo número excepcionalmente elevado de mutações: cerca de cinquenta. Além de sua localização e tipologia.
A preocupação de comitês científicos do mundo todo é que essa poderia ser a primeira variante capaz de realizar o chamado “escape”. Ou seja, contornar o cerco dos anticorpos gerados pelas vacinas, que se tornariam inúteis, ou muito menos eficazes.
Isso obrigaria as casas farmacêuticas produtoras a reformular todas as vacinas muito rapidamente.
Mais mutações do que as variantes anteriores
O primeiro alerta sobre essa mutação do Coronavírus veio após relatos de quatro casos em Botswana no começo do mês, e um em Hong Kong de origem sul-africana.
Logo em seguida os virologistas sul-africanos detectaram que de 77 casos de coronavírus analisados na província de Gauteng, todos era o resultado da nova variante.
Portanto, naquela região a Ômicron parece ter substituído completamente a variante Delta.
Mesmo assim, ainda é cedo para falar que a Ômicron é pior que o Delta, pois poderia ser uma situação gerada por um conjunto de causas.
Mas é a quantidade e a natureza das mutações que preocupam.
O coronavírus da variante Ômicron tem cinquenta mutações. Dessas, 32 são em cima da proteína spike, que por isso se tornou muito diferente da cepa original de Whuan, na China, utilizada como base para a fórmula da vacina.
Além disso, há quatro mutações nos locais exatos onde os anticorpos (induzidos por vacinas ou gerados naturalmente pelo corpo) se juntam com as proteínas spike para neutralizar o vírus.
E isso significa que os próprios anticorpos poderiam se tornar quase ineficazes.
E na parte da spike que se liga aos receptores ACE2 do corpo humano, existem até 10 mutações. A variante Delta tinha apenas duas mutações.
Tudo isso poderia ter consequências muito graves. Principalmente porque a variante Ômicron tem duas mutações na furina, que se junta aos enzimas do corpo humano inciando a infecção.
Todas as outras variantes vistas até agora tinham apenas uma mutação.
Tudo isso está gerando uma discussão muito animada e explica por que Tom Peackock, o geneticista do Imperial College de Londres, que está na linha de frente do sequenciamento das variantes, chamou a Ômicron de “horrível”.
Situação diferente do que com a Delta
Em todo caso, a situação não é aquela em que se encontrava o mundo quando chegou a Delta.
Hoje existem vacinas. Na época, não.
Além disso, as casas farmacêuticas sempre esclareceram que conseguem reformular as vacinas em questão de semanas.
Há poucos meses foi anunciado o início dos primeiros ensaios de vacinas reformuladas contra a Delta.
Todavia, como lembrou a revista Nature em uma matéria recente, tudo ainda parece estar parado.
Isso também porque a Delta foi considerada uma variante incapaz de gerar o “escape”.
O fato é que vacinas criadas contra um vírus tão diferente do que parece estar em circulação com a Ômicron são destinadas a perder eficácia. E isso, por sua vez, favorece o surgimento de novas variantes.
Fonte: Exame