O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central afirmou que o chamado “risco fiscal”, isto é, as dúvidas sobre o controle dos gastos públicos, elevou a estimativa de inflação para patamar acima da meta nos anos de 2022 e 2023. O Copom acrescentou que, por isso, a taxa básica de juros da economia também poderá subir para nível ainda mais alto.
As informações constam da ata da última reunião do Copom, que aconteceu na semana passada. A ata foi divulgada nesta terça-feira (14) pelo Banco Central. Na reunião, a taxa básica de juros passou de 7,75% para 9,25% ao ano, maior patamar em mais de quatro anos .
Pela estimativa do Copom, a inflação pode chegar a 4,7% em 2022 e a 3,2% em 2023.
O Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu que a meta de inflação em 2022 será de 3,5%, considerada formalmente cumprida se oscilar entre 2% e 5%. O CMN também definiu que a meta de inflação em 2023 será de 3,25%, considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
No entanto, segundo o próprio comitê: “O Copom avaliou que, considerado esse viés devido à assimetria de riscos, suas projeções se encontram acima da meta tanto para 2022 como para 2023.”
Na ata do Copom, o BC informa que o cenário básico para a inflação estima:
- taxa de juros de 9,25% ao ano no fim de 2022;
- taxa de juros de 11,25% ao ano no fim de 2023;
- câmbio em R$ 5,65.
Selic e inflação
O principal instrumento do Banco Central para conter o aumento de preços é a taxa básica de juros, a Selic, definida com base no sistema de metas de inflação.
Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o BC reduz a Selic.
Para o BC, há riscos de “desancoragem” das expectativas de inflação (previsões acima das metas) para prazos mais longos, devido ao “cenário fiscal”, ou seja, por conta de dúvidas sobre a saúde das contas públicas e a falta uma indicação clara sobre a estratégia do governo para frear a alta do endividamento.
“Como consequência, o Copom avaliou que, considerado esse viés devido à assimetria de riscos, suas projeções se encontram acima da meta tanto para 2022 como para 2023. Diante desse resultado, o Copom concluiu que o ciclo de aperto monetário deverá ser mais contracionista [alta maior dos juros] do que o utilizado no cenário básico por todo o horizonte relevante [até 18 meses]”, informou, na ata.
O BC avaliou que a inflação ao consumidor “segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes, e tem se mostrado mais persistente que o antecipado”.
“A alta nos preços dos bens industriais ainda não arrefeceu e deve persistir no curto prazo, enquanto a inflação de serviços acelerou, refletindo a gradual normalização da atividade no setor, dinâmica que já era esperada”, acrescentou.
PEC dos precatórios
Os riscos fiscais começaram a se intensificar com as negociações da PEC dos precatórios, que abre um espaço de R$ 106,1 bilhões para gastos com o Auxílio Brasil e outras despesas.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, avaliou no fim de novembro que a solução encontrada pelo governo federal para bancar o Auxílio Brasil cobrou um preço “muito grande” em termos de credibilidade.
Inflação de novembro
Até o momento, o Copom vem indicando que pretende elevar a taxa Selic para 10,75% ao ano na sua próxima reunião, marcada para os dias 1º e 2 de fevereiro do ano que vem.
Porém, a instituição também informou que esse ritmo de alta poderá ser ajustado, dependendo da evolução da atividade econômica e das expectativas para inflação.
O mercado financeiro acredita que o baixo nível de atividade econômica, aliado ao resultado do IPCA de novembro, que desacelerou e veio abaixo das previsões dos analistas, podem levar o BC a moderar o ritmo de alta dos juros nos próximos meses.
IPCA acima da meta
O mercado financeiro passou a prever, recentemente, que a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficará acima de 5% em 2022, o que, caso se confirme, representará o estouro da meta pelo segundo ano consecutivo.
A meta central de inflação para o ano que vem, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3,5% e será considerada formalmente cumprida se ficar entre 2% e 5%.O mercado financeiro, porém, já projeta 5,02%.
- Para 2021, o centro da meta de inflação em 2021 é de 3,75%. Pelo sistema vigente no país, será considerada cumprida se ficar entre 2,25% e 5,25%.
- Mas, com a inflação superando 10,7% em 12 meses a prévia de novembro, o próprio BC já admitiu oficialmente que a meta não será cumprida neste ano.
- Em 2023, o alvo central da meta de inflação é 3,25% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, ou seja, de 1,75% a 4,75%.
Atividade mais fraca
Em relação ao nível de atividade, o Banco Central avaliou que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, com queda de 0,1% e início da chamada “recessão técnica”, revelou evolução ligeiramente abaixo da esperada “apesar de as atividades mais atingidas pela pandemia terem continuado em trajetória de recuperação robusta”.
“Indicadores de mais alta frequência indicam recuo da atividade econômica, difundido entre vários setores, em setembro e possivelmente em outubro. No mesmo sentido, os índices de confiança já disponíveis para os meses iniciais do trimestre corrente mostram deterioração. Consequentemente, o Comitê revisou para baixo suas expectativas para a atividade no curto prazo”, acrescentou.
Fonte: G1