A pandemia de Covid-19 tirou 4,4 anos de expectativa de vida no Brasil, passou de 76 anos para 72 anos, revela estudo da pesquisadora Ana Amélia Camarano, coordenadora de Estudos e Pesquisas de Igualdade de Gênero, Raça e Gerações, da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em entrevista à repórter Marsílea Gombata ao “Valor”. Isso muda tudo o que estava sendo pensado anteriormente sobre as tendências da demografia no Brasil e terá que ser avaliado, depois da pandemia, por todos os planejadores de políticas públicas.
O impacto disso é enorme porque a demografia está ligada à economia. Para saber como será o mercado de trabalho de amanhã, olhamos os nascimentos de hoje. É um diálogo permanente.
Antes da covid, éramos uma população envelhecendo, com melhora na expectativa de vida, com menos mortalidade infantil, melhoras nos serviços de saúde.
Esta tendência foi interrompida pela pandemia. O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da Ence, tem uma visão de que o impacto da covid é forte, mas é conjuntural. Ou seja, a pandemia vai passar e o Brasil vai continuar sua tendência.
Mas o estrago foi feito. Neste período, houve queda maior no número de nascimentos, aumento da mortalidade materna e de mulheres em idade fértil e adiamento da gravidez.
A pandemia mexeu toda essa tábua de vida com vários impactos. Um país cresce muito na economia quando está no bônus democratico, quando a população mais numerosa está na faixa produtiva, ou seja, está na juventude. Isto faz o país ter mais energia para crescer. Quando chegamos neste bônus, o país foi atingido por uma sucessão de crises: recessão, estagnação econômica. Essa juventude que se preparou para entrar no mercado de trabalho, que estudou mais do que seus pais, um capital humano mais preparado para os desafios, teve que se deparar com estas dificuldades. Foi atingida pelo desemprego e agora precisam de requalificação para retornar ao mercado de trabalho.
É preciso ter muito diálogo entre a demografia, economia e as políticas sociais para saber como corrigir essa pancada que a pandemia deu na estrutura demográfica do país. Depois da pandemia, é preciso redefinir e replanejar o Brasil. E o Brasil não tem a tradição de não olhar adiante.
Fonte: O Globo