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A receita de R$ 400 milhões para transformar a Memed

Quando Joel Rennó Jr. concluiu a aquisição do Viva Real pela OLX — um M&A de quase R$ 3 bilhões —, um ciclo também se encerrava para o executivo. Depois de um susto com a covid-19, o carioca de 40 anos partiu para um sabático. Da Costa Rica, onde descansava, recebeu a ligação de um dos sócios da DNA Capital para conhecer um plano ambicioso da gestora.

Rennó gostou do que ouviu e logo estava de volta ao Brasil para ajudar na preparação para a aquisição da Memed, startup de receitas médicas digitais que tinha na firma de investimentos criada pela família Bueno apenas uma investidora. Em mais alguns meses, a DNA chegou a um acordo com os fundos Redpoint eVentures, Monashees e Qualcomm Ventures e os fundadores da startup para comprar o negócio.

Numa indicação de que não estava para brincadeira, a gestora montou um fundo específico de R$ 300 milhões para adquirir a Memed, um montante bastante substancial para história da healthtech — até aquele momento, a startup havia captado menos de R$ 35 milhões. Em outubro, voltou à carga. Após o aval do Cade, consolidou a chegada do Temasek, fundo soberano de Singapura, e da Fit Participações, numa rodada que injetou mais R$ 100 milhões no caixa da Memed.

Quase um ano após assumir como CEO da Memed, Rennó conta — na primeira entrevista desde que assumiu o cargo — o porquê da pesada aposta dos investidores na startup. No que depender do executivo, aliás, os aportes na startup estão apenas no início. “Temos caixa suficiente, o que dá tranquilidade para operar, mas temos uma grande vontade de acelerar não só trazendo mais caixa, mas investidores globais que possam aportar mais conhecimento no negócio”, disse ao Pipeline.

Em menos de um ano, a DNA Capital chacoalhou a Memed, mudando completamente a escala e as ambições da startup. De menos de 30 funcionários, a healthtech passou a 205, um salto necessário para construir uma plataforma que vá além das receitas digitais usadas por um contingente já expressivo de médicos no Brasil.

Quando Rennó assumiu as rédeas do negócio — aproveitando a experiência em tecnologia, notadamente em marketplaces, que acumulou na OLX Brasil e no Hotel Urbano —, a Memed era tipicamente um motor que gerava prescrições digitais para os médicos. Se esse não era um produto exatamente simples de criar, também não era dos mais promissores em potencial financeiro.

“Só com receita digital, eu até poderia tentar encontrar uma alavanca de monetização, mas não seriam as melhores. Poderia cobrar um fee do médico, mas será que era o melhor caminho? O potencial de monetização assim teria um teto muito baixo”, argumenta. A solução da DNA e do time tocado por Rennó estava na construção de um ecossistema a partir das receitas digitais, montando um marketplace que facilite ao mesmo tempo a vida do cliente e de farmácias e laboratórios.

Com isso, a startup aproveita a escala que já alcançou, com 60 mil doutores como usuários ativos do sistema, o equivalente a mais de 10% da base de médicos no país. Por mês, as prescrições feitas com a tecnologia Memed atendem 2,2 milhões de pacientes, com a emissão de 3,5 milhões de receitas mensais — mais de 75% do mercado, calcula o executivo.

A primeira fase do projeto foi lançada há dois meses, com a entrada em operação da experiência de agendamento de exames com apenas dois ou três cliques. Quando um paciente recebe uma receita digital da Memed indicando um determinando exame, já pode clicar no laboratório e agendar o procedimento. Inicialmente, os laboratórios plugados à Doctoralia já estão plugados à plataforma da Memed, mas a startup mantém negociações avançadas para incluir duas das maiores redes do país.

Com a marcação online de exames, a Memed criou uma fonte nova de receitas que também ajuda os laboratórios. Tipicamente, as redes de diagnósticos sofrem com o não comparecimento de pacientes com exames agendados, deixando as máquinas e profissionais ociosos. Com a plataforma da Memed, os pacientes podem ser avisados para não esquecer dos exames e, mais importante, a startup só recebe a comissão se o procedimento ocorrer. “Meu incentivo está muito alinhado com o laboratório. Só ganho quando ele ganha”, diz Rennó.

A segunda e mais importante está prestes a ser lançada, com o marketplace de medicamentos, um mercado de R$ 120 bilhões e bem maior que os R$ 30 bilhões anuais que o negócio de exames movimenta no país.

Nos mesmos moldes, o paciente que receber uma receita digital com a tecnologia Memed pode fazer a compra online, com poucos cliques, acessando o estoque das farmácias conectadas à plataforma. Os primeiros parceiros plugados são as Drogarias São Paulo e Pacheco, do grupo DPSP, mas outros grandes players também estão em fase de negociação de contratos. Players digitais como Qualidoc, farme, XFarma e Farmadelivery também já estão na plataforma.

A Memed não está sozinha na disputa pela construção de um marketplace do gênero. Recentemente, a Nexodata, startup de receitas que recebeu investimentos de Guilherme Benchimol e Jorge Paulo Lemann, fez um rebrading para Mevo, estreando um modelo que prevê a entrega do medicamento em 45 minutos, inicialmente em São Paulo.

Rennó não faz comentários sobre os concorrentes, mas acredita que a Memed está na dianteira. Num negócio de plataforma como é o que vem construindo, a tendência é que apenas um player se consolide, num “winner takes all”, conjecturou.

Como já concentra boa parte da atual demanda, ficando 3,5 milhões das 4,5 milhões de receitas digitais emitidas por mês no Brasil, a startup agora está no caminho para ter a maior oferta possível, com laboratórios e farmácias conectadas, o que tem potencial para criar um efeito de rede que torne o uso da solução cada vez mais popular.

Enquanto articula a rede, a Memed também terá de investir na mudança de hábitos do consumidor. Embora tenha concorrentes digitais, o grande adversário ainda é o papel. Por ano, são emitidas mais de 1,5 bilhão de receitas, enquanto que a startup fez menos de 30 milhões no ano passado. Se o mercado total é de R$ 120 bilhões, as receitas emitidas pela startup respondem por um GMV de apenas R$ 3 bilhões. “Só fizemos 0,5% da caminhada”.

Fonte: Pipeline Valor

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