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CBF rica, clubes pobres: o capitalismo às avessas do futebol brasileiro

Oito anos atrás, a Exame publicou uma capa com a chamada “Como o capitalismo pode salvar o futebol brasileiro (e o seu clube)”. Forneci os dados para a reportagem e mostrei que nunca havia tanto dinheiro disponível, assim como uma disposição inédita para adotar práticas empresariais de gestão. A Copa do mundo passou, tivemos 9 bilhões de reais em investimentos em estádios — e nada mudou. A crise da Confederação Brasileira de Futebol às vésperas da Copa América é um exemplo limite de como o futebol brasileiro está estruturalmente comprometido.

Quando você olha os balanços, no melhor ano, 2019, a bilheteria dos clubes brasileiros representou o mesmo valor percentual de receita (8%) que no início dos anos 2.000, quando se vendia ingresso a 10 reais. Não crescemos qualitativamente. Vendemos mais jogadores, a televisão passou a pagar mais, mas os patrocinadores cada vez pagam menos. Tínhamos grandes marcas multinacionais interessadas nos nossos clubes, como na Argentina e em outros mercados, mas temos agora marcas menores pagando cada vez menos. O Corinthians chegou a faturar 30 milhões de reais com patrocínio master e agora fatura 17 milhões. Os patrocinadores, em boa medida, se desiludiram com a má gestão e com as notícias negativas. Os clubes vêm fazendo um mal tralho e a CBF, um péssimo.

Os clubes brasileiros nunca estiveram tão mal financeiramente, com dívidas acima de 10 bilhões de reais, e eternamente dependentes de planos de resgate. O mais novo deles é a discussão do clube empresa, em tramitação no Congresso, justamente num cenário em que os clubes valem cada vez menos. Práticas modernas de gestão até foram adotadas aqui e ali, mas logo se perderam em meio ao imediatismo por resultados.

Exceções são raras, como Grêmio, Ceará e Atlético Paranaense. Mas clubes enormes, com muita torcida e muita receita, como Corinthians, São Paulo e Atlético Mineiro, estão afundados em dívidas. O último ano, prejudicado pela pandemia, foi o de pior resultado dos clubes brasileiros na história. O prejuízo acumulado dos maiores clubes chegou a 1,2 bilhão de reais. São mais de 6 bilhões de prejuízos acumulados nos últimos 20 anos.

Enquanto isso, a CBF nunca esteve tão bem financeiramente, mesmo com os resultados ruins da seleção brasileira na última década. O futebol brasileiro tem na CBF um grande obstáculo para seu crescimento — com uma gestão arcaica que e aniquila o desenvolvimento do nosso futebol. Um exemplo: o dinheiro dado pela CBF às federações é classificado no balanço patrimonial como fomento ao esporte nos estados. Mas é uma mesada para ganhar votos. Há um verniz corporativo para passar uma imagem moderna.

O afastamento do Rogério Caboclo da presidência da CBF é a ponta do iceberg. Fico imaginando o cenário para os patrocinadores. A má gestão tomou conta da agenda de tal forma que complica a situação de empresas que têm práticas super rigorosas de compliance. O que menos tem se falado é dos craques, dos jogos, da alegria da seleção, motivo que faz grandes companhias pagarem grandes somas para estar atreladas à CBF.

Um patrocínio à CBF pode chegar a 60 milhões de reais ao ano, até quatro vezes mais que em grandes clubes. Os valores estão diminuindo, mas a entidade tem mais de 800 milhões de reais em caixa. É mais do que suficiente para investir na criação de uma liga, num projeto estruturante, como a Alemanha fez, com construção de campos, capacitação de professores, fornecimento de material esportivo. Lá, o foco foi na categoria de base, e os resultados todos conhecemos.

O que falta para o Brasil? Construir uma gestão profissional, que distribua os recursos para desenvolvimento do futebol. Pagar passagem aéreas para clubes profissionais não é um caminho para melhorar o futebol brasileiro. A visão do futebol social em que a CBF nem sonha é o que deveria ser feito. Seria o melhor para a entidade, para a sociedade, para os clubes — e para a seleção brasileira.

Fonte: Exame

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