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Com boicote à Rússia, de onde EUA e Europa vão comprar petróleo e gás?

Mesmo antes de a Rússia invadir a Ucrânia, o barril de petróleo já beirava 100 dólares e os combustíveis em alta não saíam da pauta. Tanto em Brasília, quanto na geopolítica. Isso porque a retomada da pandemia aumentou a demanda de energia sem que a oferta fosse compensada. Em 2021, a gasolina e os transportes foram os vilões da inflação de mais de 10% no Brasil.

Depois de impor fortes sanções à Rússia, os Estados Unidos e a União Europeia consideram parar de comprar óleo e gás de Putin. Até agora, essas commodities ficaram de fora das sanções impostas e permanecem como umas das últimas opções do ocidente contra o país.

O possível boicote foi anunciado pelo secretário de estado americano, Antony Blinken, em uma entrevista à CNN. Ele disse que o país avalia suspender as compras de petróleo e o gás. Atrás dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita, a Rússia é o maior exportador de petróleo do mundo. Ela tem 11% do mercado mundial e produz 10 milhões de barris por dia.

“Neste momento estamos conversando com nossos parceiros e aliados europeus para examinar de forma coordenada a possibilidade de proibir as importações de petróleo russo, mas garantindo que haja uma oferta suficiente de petróleo no mercado”, disse Blinken

Com um boicote à energia russa, seria necessário encontrar um nova fonte no curto prazo. Já que a Europa, principalmente, é cliente e dependente da energia de Vladimir Putin.

De todo o gás natural que o continente consome, 40% vêm do país, principalmente via gasodutos que cortam o leste. Quanto ao petróleo, a taxa é de 25%.

Os Estados Unidos tem mais capacidade de veto, mas também influenciariam menos Putin. Isso porque apenas 3% de sua importação de petróleo é russa.

Depois que a fala de Blinken veio à tona, o barril de petróleo atingiu 140 dólares nesta segunda-feira, dia 7. As previsões do Bank Of America são de que se houver um boicote à Rússia, podem faltar 5 milhões de barris de petróleo por dia no mercado internacional, e assim o preço do barril chegaria fácil a 200 dólares.

Gazprom

Sem saídas fáceis à vista, a revista especializada em economia The Economist já fala que um novo crash do preço do combustível fóssil se aproxima.

De onde comprar o petróleo?

Com esse cenário extremo em jogo, analistas do setor ouvidos pela EXAME apontam que as saídas são poucas. A Europa até pode tentar outros fornecedores de gás, como o Qatar e Argélia, mas ele seria entregue de forma líquida em navios. Assim, custa mais do que via os gasodutos.

Para substituí-lo, o carvão mineral é uma opção, sobre a qual o continente se industrializou no século XX, mas é muito mais poluente. Apesar de ser fóssil, o gás natural emite pouco dióxido de carbono.

“Apostar no carvão é ir na contramão do que o bloco europeu faz, do que vem fazendo em termos de energia. Na conjuntura, há complicações que deixam a Europa refém do gás e é muito difícil achar uma solução de curto prazo”, opina Ilan Albertman, analista da Ativa Investimentos.

Para Rafael Chacur, da SFA Investimentos, encerrar a comprar de gás russo e voltar a queimar carvão de forma emergencial poderia ajudar na questão geopolítica e até forçar a Europa a acelerar a transição energética para uma matriz verde, mas a questão crucial é se a sociedade europeia toparia esses ônus para encerrar a guerra.

Estima-se que metade da receita fiscal dá Rússia vem do óleo e gás, via suas empresas Rosfnet e Gazprom.

O boicote da última semana já tem causado efeitos à economia do país, e há previsões que mostram uma perspectiva para a queda no PIB de 11%.

Quanto ao petróleo, os caminhos são até maiores, mas ainda assim difíceis.

“Ao se acelerar um acordo com o Irã, se colocaria 1,5 milhão de barris no mercado. Um acordo com a Venezuela também poderia aumentar em cerca de 1 milhão de barris. E esse próprio valor somado, de 2 a 2,4 milhões poderiam vir da própria Opep, que tem países como Arábia Saudita”, explica Rafael Chacur, analista da SFA.

O problema é para conciliar o interesse de todos esses produtores. A própria Opep, que é um cartel, vinha sendo acusada de não aumentar a produção para manter os preços altos mesmo antes da Guerra.

A Agência Internacional de Energia prevê que a organização esteja com uma ociosidade de 4 milhões de barris por dia. Ao todo, ela produz 33 milhões. Dentro do grupo, estão grandes produtos, principalmente do Oriente Médio e África, como Arábia Saudia, Irã Emirados Árabes, Argélia e Nigéria.

“Para a Opep voltar a produzir na média histórica, teria que colocar dois milhões de barris a mais por dia”, destaca Rafael Chacur.

Assim como Chachur, Ilan entende que uma renegociação sobre o acordo nuclear com Irã pode ajudar no aumento da oferta.

“É difícil substituir até em soluções mais simples, como importar de parceiros, via a Opep. Os países da organização estão com dificuldade de aumentar a oferta e tem países com interesse em manter o preço o auto, mas de outro lado os EUA e aliados fazem pressão para a oferta. A Arábia Saudita fica no meio”.

Outras fontes como o próprio pré-sal na costa brasileira e as minas de gás de xisto nos Estados Unidos não dariam conta de ajudar a melhor essa oferta em casa de boicote à Rússia.

No caso do pré-sal, as 13 novas plataformas que a Petrobras está construindo para expandir sua produção ainda não estão prontas, e outros parceiros internacionais também começaram a produzir em campos do pré-sal recém-leiloados a partir de 2019.

Já os campos de xisto, nos Estados Unidos, não devem receber investimento devido principalmente à agenda ESG de investidores.

Quanto ao preço em alta, Ilan Albertman não prevê perspectivas de estabilização:

“Já tinha um descompasso entre a oferta e uma recomposição antes da guerra. Mesmo num cenário positivo, a recomposição da oferta se daria em uma velocidade inferior. Diante dessa uma volatilidade muito grande, os preços sobem e as ações globais caem, até mesmo as de petróleo, com o prêmio de risco global em também. Assim o petróleo extrapola os próprios limites de preço, com essa tensão global”.

Combustíveis no Brasil

Há pelo menos um ano, com o ciclo de alta do petróleo anterior ao da guerra, a alta dos combustíveis é assunto no Brasil. No começo de 2021, ruídos na comunicação entre o presidente da República Jair Bolsonaro e o ex-presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, sobre a política de preços da companhia levaram à demissão do CEO.

Na época, Jair Bolsonaro já criticava a política de paridade internacional de preços de derivados, quem seguem o barril de petróleo.

Nesta segunda-feira, com a disparada do barril e antevendo algum possível aumento da gasolina e diesel, Bolsonaro voltou a criticar a empresa.

Dentro do Congresso, deputados e senadores têm tentado articular algum mecanismo de política pública para amortecer a alta dos combustíveis em ciclos de alta. As propostas incluem fixar o percentual do imposto ICMS nos estados é um fundo de amortização feito a partir de dividendos e verba de leilões de campos de petróleo.

Fonte> Exame

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