spot_img

Como um grande leilão de NFTs na Sotheby’s terminou em mistério

Era para ser um grande triunfo. No primeiro leilão ao vivo da Sotheby’s exclusivamente dedicado a tokens não fungíveis na semana passada, 104 NFTs da famosa série CriptoPunk agrupados em um único lote, estimado entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões, era alardeado como um evento histórico. Foi o suficiente para atrair uma multidão ansiosa ao salão de vendas da Sotheby’s na York Avenue, no extremo East Side de Manhattan, para testemunhar um leilão que poderia durar apenas alguns minutos.

“Não dá para ser maior do que isso”, havia tuitado mais cedo a casa de leilões sobre a venda “Ser dono de um CriptoPunk é simbólico. Ser dono de 104 é icônico.”

Com isso, a Sotheby’s se referia ao fato de que os CriptoPunks são uma das séries mais bem alicerçadas no mundo dos NFTs. Criados em 2017 pelo estúdio americano Larva Labs, os CriptoPunks são imagens de 24×24 pixels, geradas por um algoritmo — são 10 mil personagens colecionáveis (entre humanos, zumbis e aliens, a maioria com aparência punk), já vendidos e por isso hoje disponíveis somente no mercado secundário, no blockchain Ethereum.

E, apesar de terem levado um tombo nos últimos meses, os CriptoPunks ainda representam o mais perto que se pode chegar de um investimento seguro no mundo dos NFTs. O preço médio dos últimos 30 dias caiu em torno de 47% em relação ao pico de novembro de 2021, de cerca de US$ 510 mil para US$ 270 mil no fim de fevereiro, de acordo com a firma de análises de mercado Nonfungible.

Só que, como o vendedor anônimo dos 104 CriptoPunks descobriu na quarta-feira, um investimento seguro nem sempre é o mesmo que um investimento bom. Vinte minutos depois do horário marcado para o início da venda, um alto-falante no salão de vendas anunciava que o leilão estava suspenso. Diante de tanta badalação, a Sotheby’s ou o vendedor acharam, sem especificar motivos, que o momento não era bom para vender.

A Sotheby’s não quis comentar o que saiu errado: o vendedor, conhecido como 0x650d, não respondeu aos vários pedidos para comentar o assunto por meio do Twitter. Em comunicado por e-mail, Sebastian Fahey, diretor-gerente da Sotheby’s para países da Europa, Oriente Médio e África e diretor executivo do metaverso da Sotheby’s, escreveu: “Isso não reflete o mercado NFT como um todo, nem a atratividade dos CriptoPunks. O piso para os preços dos CriptoPunks continua firme e as vendas continuam aceleradas e a valores cada vez maiores.” Em última análise, a decisão, em nome do vendedor, de segurar a venda indica que a confiança do colecionador no valor das obras e no mercado futuro dos Punks continua forte”, prosseguiu Fahey.

Ainda assim, o cancelamento da venda pode ter implicações graves de longo prazo para as casas de leilão tradicionais, assim como para o mercado de NFTs em geral. Na noite do evento, o salão de vendas da Sotheby’s em Nova York estava lotado por uma multidão jovem, ao som de um DJ que usava uma máscara CriptoPunk. Era a primeira vez em que um dos presentes, Brandon Buchanan, fundador e sócio-gerente da Meta4 Capital, participava de um leilão ao vivo. “Não sabia nem o que vestir”, disse Buchanan. “Acabei usando um terno, mas a maioria estava de jeans e moletom.”

Sobre o que Buchanan tinha certeza era o quanto estava disposto a pagar. Os CriptoPunks são vendidos, em média, por pouco mais de US$ 270 mil cada, de forma que 104 deles, comprados no mercado aberto, custariam algo na faixa dos US$ 28 milhões — perto do que a Sotheby’s divulgou como sua estimativa mais alta.

Se Buchanan quisesse comprar 104 NFTs, ele já poderia tê-lo feito: não há falta de donos de CriptoPunks dispostos a vendê-los. O único motivo para fazer um lance por um lote tão grande seria conseguir uma pechincha, havia decidido Buchanan. “Era necessário um tipo de ofertante muito específico diz. “Você precisaria ser um fundo de investimento que exigiria um desconto significativo, para então poder revender os CriptoPunks ao longo de um extenso período.”

Buchanan preparou-se para o leilão obtendo uma linha de crédito de um credor institucional especializado no setor. Ele diz que planejava oferecer entre US$ 13 milhões e US$ 15 milhões. Somando as taxas da casa de leilão, que podem representar 20% do preço de venda, “isso daria entre US$ 15 milhões e US$ 18 milhões, todas as fichas”, diz.

Está claro que tanto a Sotheby’s quanto o vendedor, o que se confirma pelos tuítes na conta de Twitter @0x650d, achavam que poderiam conseguir muito mais. Em 9 de agosto, em aparente referência à recente compra dos 104 CriptoPunks, a conta tuitou em um tópico que começava: “Por que gastei US$ 7 milhões em 104 punks pelo piso? Fácil: porque escolho a riqueza. Então, por que comprar 100 punks em vez de um único raro? A resposta curta é liquidez e diversificação.”

Desde que a Christie’s vendeu um NFT por US$ 69,3 milhões, “Everyday: The First 5,000 Days”, do artista conhecido como Beeple, em março de 2021, as casas de leilão tradicionais se tornaram megafones por meio dos quais vários colecionadores de NFTs anunciavam e promoviam suas posses.

“Realmente acredito que a Sotheby’s e a Christie’s e até a Phillips estabeleceram certo nível de preço para os NFTs”, diz Nanne Dekking, fundador e executivo-chefe do registro de arte digital baseado em blockchain Artory e ex-vice-presidente do conselho da Sotheby’s. “Um preço recorde na Sotheby’s e na Christie’s significa mais pelo valor de sua obra de arte do que atualmente no OpenSea (marketplace de NFTs).”

Como demonstrado pela venda de Beeple, um modo infalível para que as pessoas prestem atenção a seu NFT é vendê-lo por um preço recorde — de fato, o comprador de “Everydays” foi um empreendedor do setor, de Cingapura, que já havia investido pesado no trabalho de Beeple.

“Ao longo do último ano, nossas vendas de NFTs criaram constantemente novos referenciais e bateram recordes para os NFTs, mostrando como nossa abordagem para criar vendas com curadoria única e bem pensada se diferenciam das demais plataformas”, escreveu Fahey, em comunicado por e-mail.

Esse arranjo, no qual os donos de NFTs compram e vendem a obra por quantias enormes que, por sua vez, foram incansavelmente noticiadas por meios internacionais de notícias, incluindo a Bloomberg, beneficiou os donos. Também beneficiou a Christie’s e a Sotheby’s, que venderam NFTs no valor de, respectivamente, US$ 150 milhões e US$ 100 milhões, em 2021. Quem estava prestes a se beneficiar na quarta-feira à noite, em Nova York, era @0x650d.

Tendo já lucrado uma quantia estimada em US$ 1,3 milhão com a compra inicial de US$ 7 milhões dos 104 CriptoPunks, parece provável, que se o leilão tivesse rendido US$ 10 milhões, @0x650d teria obtido um grande lucro em menos de um ano. Se o lote tivesse sido vendido pela estimativa máxima, o lucro teria mais do que triplicado o investimento de @0x650d.

Para render um possível lucro acima de US$ 14 milhões, em outras palavras, apenas duas pessoas no público na quarta-feira à noite precisariam ter decidido que os 104 CriptoPunks valiam um ligeiro prêmio acima do valor atual. Mas a atratividade dos ativos — o fato de que possuem um mercado estabelecido e “seguro” — é o próprio fator que parece ter dissuadido os compradores de comprometer um valor tão alto.

Nos últimos 365 dias, cerca de 5 mil carteiras ativas compraram ou venderam CriptoPunks mais de 11,6 mil vezes, de acordo com a Nonfungible. Em outras palavras, uma comunidade relativamente pequena de pessoas compra e vende esses ativos entre si, e elas estabeleceram entre si o quanto valem esses CriptoPunks. Uma única venda provavelmente não mudaria isso.

“A única razão pela qual este seria um leilão significativo é se mostrasse demanda de colecionadores de arte contemporânea tradicionais — trazendo-os para este mundo”, diz Buchanan. Esses colecionadores, prossegue ele, parecem não ter se apresentado, o que deixou o leilão mais com um público de espectadores passivos do que de ofertantes. “A maior parte da multidão era uma multidão do mundo cripto”, diz. “Você sabe, grande parte desse pessoal não era de pessoas dispostas a fazer lances pelo item. Eles meio que só estavam lá para ver o espetáculo.”

Talvez tenha sido por esse próprio motivo que o espetáculo nunca ocorreu. Isso traz o fantasma de que possa existir um teto para a popularidade dos NFTs e um limite para o dinheiro fácil que as casas de leilão gozaram nos últimos 12 meses. Talvez os NFTs não sejam, como seus defensores afirmam, expansíveis infinitamente. Talvez, o leilão cancelado da Sotheby’s possa indicar que NFTs são para um grupo de poucos e seletos devotos.

“Isso soa como o mercado de arte tradicional”, diz Dekking. “Demanda limitada, pessoas vendendo entre si e, de vez em quando, alguma exceção com preços imensos”.

Fonte: Pipeline Valor

Você é empresário?

Descubra agora gratuitamente quantos concorrentes o seu negócio tem

Logo Data Biz News
Grátis

Descubra agora quantos concorrentes a sua empresa tem

data biznews logo Data Biznews segue as diretrizes da LGPD e garante total proteção sobre os dados utilizados em nossa plataforma.

Últimas notícias

O que falta para a taxa de juros do BC cair mais rápido

Inflação para 2025 está na meta, na conta do...

Na Saque e Pague, R$ 200 milhões para virar “banco” e “loja”

Muitos especialistas previam o declínio dos caixas eletrônicos, equiparando-os...

Veja outras matérias

Logo Biznews brasil
Consultoria Especializada

Compra e Venda de Empresas

Clique e saiba mais

Valuation

Clique e saiba mais

Recuperação de Tributos

Clique e saiba mais