A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) inicia nesta terça-feira, 22, com o mercado dividido sobre o tamanho da alta da taxa de juros Selic, que será a sexta desde o início do ano. Parte dos investidores aguardam por uma decisão mais dura como forma de arrefecer o câmbio, que tem pressionado as expectativas de inflação e o próprio IPCA corrente, que já roda acima de 10% no acumulado de 12 meses.
Diante de incertezas fiscais e encargos sociais fora do teto de gastos, o dólar chegou a bater 5,70 reais na última semana, superando a máxima de 6 meses e levando o Banco Central leiloar dólares no mercado de câmbio como forma de conter sua volatilidade. Parte dos investidores tem visto as intervenções como sinal de que o BC não está confortável com as recentes desvalorizações do real e que poderá atuar nos juros para sustentar o poder de compra da moeda.
Na última ata, o Copom sinalizou mais um “ajuste de mesma magnitude” (100 pontos base, bps), mas o mercado tem subido as apostas para 125 bps e 150 bps, que poderia elevar a Selic para até 7,75% , o maior patamar desde 2017.
André Perfeito, economista-chefe da Necton, acredita que a alta de juros deve ter pouco efeito sobre o controle da inflação, já que, segundo ele, a aceleração de preços deriva de gargalos de oferta. “Contudo, o nome do jogo, de maneira velada, é o câmbio. Com o dólar experimentando novos patamares, o BC deverá fazer um ajuste mais forte”, afirmou em nota. Segundo suas projeções, a Selic deve subir em 125 bps para 7,50%, e não mais em 100 bps para 7,25%.
No entanto, Perfeito também vê o dólar mais alto, tendo revisado suas estimativas de 5,40 para 5,55 reais para o fim do ano, próximo do atual patamar de 5,57 reais. Ou seja, o juro ajudaria a segurar o dólar, mas não seria suficiente para derrubá-lo em meio as preocupações do mercado doméstico, como a sustentabilidade fiscal e as eleições do ano que vem.
Em tese, a alta da Selic tende a beneficiar a moeda local. Isso porque o diferencial de juros frente a economias desenvolvidas aumenta, tornando mais atrativo investir na renda fixa brasileira. Com a maior demanda por reais, o preço do dólar cai.
Por outro lado, simulações realizadas no BNP Paribas mostraram que o efeito da alta de juros no câmbio tende a ser maior no início do ciclo. E ainda que uma posição mais dura do que a esperada na política monetária possa contribuir para a recuperação do real, os espaços para surpresas são cada vez menores, conforme o mercado reavalia para cima as expectativas para a Selic.
“Acho que a alta de juros deve ter pouco impacto no câmbio. Primeiro, porque já é algo esperado e a aversão ao Brasil, devido à questão fiscal, fala mais alto”, afirma Fernando Consorte, economista-chefe do banco Ourinvest. “Não devemos ter um ajuste no câmbio, exceto se houver alguma surpresa no tom [do comunicado] do Banco Central ou um ajuste muito mais intempestivo.”
Já Thomas Giuberti, analista da Golden, acredita que uma alta de juros superior à sinalizada pelo Copom já deve ter efeitos positivos sobre o real. “Um ajuste acima do esperado, sem dúvidas, acaba atraindo capital de fora. É um contrabalanceamento para ancorar o câmbio, que tem influenciado a inflação. Sua recente atuação no câmbio mostra o Banco Central incomodado com o dólar nesse patamar”, diz.
Segundo ele, uma alta de 150 bps na decisão de quarta-feira, 27, ajudaria a ancorar o câmbio e suavizar as expectativas inflacionárias. “A estimativa é de um BC, finalmente, mais contracionista.”
Embora o mercado espere uma alta de juros acima da sinalizada, a pulga continua atrás da orelha. Afinal, em sua última decisão, o Copom contrariou as expectativas, com elevação de apenas 100 bps para 6,25%, cumprindo o “ajuste de mesma magnitude” do realizado na reunião anterior. Parte dos investidores esperavam por uma ritmo mais acelerado no ciclo de alta de juros.
“Acreditávamos que a normalização de juros seria mais rápida. Temos uma visão positiva para o real, mas com menor convicção dada essa mudança do BC”, disse Luca Maia, economista do BNP em entrevista recente. A expectativa para a reunião anterior também era de até 150 bps. No dia seguinte à decisão, o dólar, que estava a 5,20 reais, fechou em alta e desde então já subiu mais de 30 centavos.
Uma semana antes de o Copom frustrar as estimativas de mercado, porém, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, havia dado declarações públicas de que manteria “o plano de voo”, o que fez investidores reajustarem suas projeções antes mesmo da reunião de política monetária. Para a decisão desta quarta, estarão todos no escuro, potencializando as surpresas na alta de juros, para cima ou para baixo do esperado.
Fonte:Exame