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Crescem ofertas de ações com reserva antecipada

A instabilidade da Bolsa está aumentando o interesse de empresários e fundos de investimento em garantir a demanda por ofertas de ações antes mesmo de as operações serem anunciadas. Nos últimos tempos, empresas como Smart Fit, Unifique, Brisanet e Multilaser são algumas das que foram ao mercado com a promessa de participação de investidores – a chamada “ancoragem”, no jargão do setor. Na prática, trata-se de uma ordem de compra antecipada.

As ancoragens normalmente conseguem atrair mais investidores, numa espécie de chancela prévia, com potencial impacto positivo no preço da ação.
“É uma demonstração de força da oferta, que tende a atrair mais investidores, já que os fundos que entram com ordens antecipadas normalmente são de renome, dando um selo de qualidade”, afirma o responsável pelo banco de investimento do Santander, Gustavo Miranda.

Segundo ele, o “recado” que esses investidores passam sobre o valor da empresa para os bancos também é importante para definir o intervalo de preço nas ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês).

Segundo Miranda, o processo de abertura de capital costuma deixar a empresa exposta às flutuações de mercado por cerca de 20 dias, entre o lançamento e a efetiva precificação, e incentiva a discussão de ancoragem.
“É uma maneira de reduzir o risco de execução, de a oferta não ser precificada ou de ter seu preço reduzido”, explica o responsável pelo banco de investimento do Citi, Eduardo Miras.

Fundos de investimento

Outro fator que tem incentivado gestores a garantirem antecipadamente parte da oferta é a entrada de um grande volume de recursos nas gestoras locais, diz Ricardo Bellissi, colíder do banco Goldman Sachs no Brasil. “Com o juro real próximo a zero, houve a entrada de um volume enorme, e os gestores têm de buscar onde alocar esses recursos”, ressalta.

A indústria de fundos teve captação recorde no primeiro semestre, e apenas os multimercados, que alocam parte de suas carteiras em ações, tiveram captação líquida de R$ 81,4 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Os fundos exclusivos de ações captaram R$ 3,2 bilhões, em igual período.

O executivo de um banco diz que a ancoragem ajuda a dar um grau de confiança na transação, com a redução do risco de execução da oferta, mas não é garantia de sucesso. Um dos exemplos recentes é a abertura de capital da Privalia, que tinha ancoragem do BTG Pactual e, mesmo assim, o investidor quis um desconto nos preços.

Da mesma forma, BBM, Dotz e GetNinjas também estavam “ancoradas” e saíram no piso da faixa indicativa do IPO. Miras, do Citi, diz que já viu transações com “garantia” sendo reprecificadas ou mesmo canceladas.

Nas ofertas de ações brasileiras, é incomum investidores estrangeiros darem esse tipo de aval a operações, segundo bancos de investimento. Os fundos locais costumam interagir mais com as empresas antes da oferta na época em que elas vão sondar o interesse do mercado. Os estrangeiros, até por terem um universo maior de atuação, preferem priorizar a operação bem próximo ao lançamento ou quando ela já está na Bolsa.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Estadão Conteúdo

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