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Dólar e ouro lideram os ganhos de agosto, mas bolsa segue como o cavalo da vez

Depois de quatro meses a um bom ritmo, a bolsa brasileira ralentou e fechou agosto no campo negativo. Mas a renda variável segue como uma das principais alocações de gestores de patrimônio e de fundos de investimentos. Com a leitura de que os juros vão permanecer baixos — no Brasil e no mundo —, ações são como parcela importante do risco.

As recomendações para diversificação em classes de maior volatilidade e o alongamento dos investimentos se mantêm como regra do jogo. A despeito das incertezas em torno da pandemia de covid-19 e da saúde fiscal brasileira, o consenso é que qualquer parcela que se deixe em aplicações atreladas ao CDI não passa de caixa.

Com a Selic a 2%, o movimento de deslocamento de poupança tende a prosseguir. Ganham apelo, além da bolsa, fundos imobiliários, ativos externos, até opções ilíquidas como private equity, venture capital e crédito estruturado.

Em agosto, o risco fiscal bateu à porta com a derrubada do veto para o aumento do funcionalismo público até 2021 no Senado — revertida depois pela Câmara — e as indicações do governo de repaginar o Bolsa Família num valor maior, sem que ainda haja consenso com a equipe econômica de Paulo Guedes de como financiar o subsídio extra.

O resultado do estresse foi que dólar e ouro voltaram a liderar o ranking de aplicações financeiras, com altas de 5,06% e 4,4% no mês. Já os índices de ações apontaram todos para baixo. O Ibovespa recuou 3,44%. Alguns referenciais também cederam, como o IMA-B 5+, que representa uma cesta de títulos longos atrelados à inflação, e perdeu 3,62% no mês.

Evolução das aplicações financeiras

Rentabilidade nominal no período em %

20201º Tri2º TriJulAgoAno
Renda Fixa
Selic (1)1,010,730,190,162,12
CDI (1)1,010,730,190,162,12
CDB (2)1,090,910,520,222,77
Poupança (3)1,511,510,500,504,07
Poupança (4)0,760,610,130,131,64
IRF-M1,423,391,08-0,755,20
IMA-B-6,314,964,39-1,800,80
IMA-B 5-0,573,770,990,434,63
IMA-B 5 +-10,625,997,32-3,62-2,01
Renda Variável
Ibovespa-36,8630,188,27-3,44-14,07
Índice Small Cap-40,1732,499,50-1,23-14,27
IBrX 50-37,6031,798,15-3,41-14,10
ISE-33,8430,3210,84-3,94-8,19
ICON-36,1039,457,62-1,48-5,53
IMOB-45,4628,757,21-7,91-30,68
IDIV-31,2418,706,53-4,83-17,25
IFIX-22,0012,52-2,611,79-12,99
Valor/Coppead IP 20-33,0227,8811,440,55-4,02
Valor/Coppead MV-29,9718,807,16-3,25-13,74
Dólar Ptax – BC28,985,33-4,985,1535,74
Dólar Mercado29,584,69-4,095,0636,69
Euro – R$/€ – BC26,407,47-0,036,3044,34
Euro Mercado27,566,650,576,4545,65
Ouro B330,2217,475,804,4269,01
Bitcoin – R$10,2154,7817,578,89118,37
Inflação
IGP-M1,692,662,232,749,64
IPCA (5)0,53-0,430,360,190,65
(1) taxa efetiva (2) rendimento bruto do 1º dia útil do mês. (3) rentabilidade do 1º dia do mês – depósitos até 03/05/12. (4) rentabilidade do 1º dia do mês – depósitos a partir de 04/05/12; Lei nº 12.703/2012. (5) expectativa de 0,19% para o mês de agosto Fonte: Anbima, Banco Central, B3, FGV, Focus, IBGE, Mercado Bitcoin e Valor PRO. Elaboração: Valor Data

Juros, câmbio e bolsa, todos os mercados no Brasil estão com muito prêmio, e não necessariamente os preços estão fora do lugar, diz Marcos Mollica, gestor de multimercados da Opportunity Asset Management. O que os agentes vêm embutindo nos ativos é um eventual deslize fiscal, mas por ora a avaliação é de que o governo não está disposto a furar o teto.

“Se o Brasil fizer minimamente o dever de casa, há propensão grande de comprar a nossa história, o clima é positivo principalmente no mercado de ações com essa liquidez toda, a proximidade de uma vacina e a retomada da atividade econômica em todos os lugares”, diz Mollica.

Sem que o imbróglio fiscal esteja resolvido, não dá para baixar a guarda, prossegue o gestor. “Olhando para os próximos meses, ainda é uma situação de muita cautela. Por isso tenho posições que têm um desconto grande como a bolsa que ficou muito para trás em relação ao resto do mundo.” Se não houver percalços para o futuro das contas públicas, Mollica vê chances de o Ibovespa fechar o ano em 110 mil pontos.

Os juros baixos vão continuar motivando a migração do investidor local para a bolsa, enquanto o capital externo vai permanecer ausente. Ele cita que a participação da bolsa na carteira das famílias brasileiras é muito baixa, não chega a 10%, enquanto em economias desenvolvidas, como a dos Estados Unidos, a fatia fica perto de 50%. É preciso, porém, ficar atento ao clima político e vale buscar algumas proteções.

Dólar não

Por ora, não é o dólar que vai servir como um porto-seguro. Para Mollica, o câmbio brasileiro embute um prêmio de risco de ruptura, mas a desvalorização da moeda já cumpriu o papel de melhorar a conta de transações correntes. O país deve sair de um déficit da ordem de US$ 50 bilhões em 2019, para um superávit de US$ 15 bilhões, “uma virada fenomenal”, afirma. “Se diminuir o risco fiscal, o dólar está exagerado.”

No mercado local, a área de gestão de riqueza do BNP Paribas não gosta da exposição em dólar, por considerar que desvalorização do real foi longe demais, diz Caio Mercadante, estrategista-chefe. “O real descolou, sofreu mais e o Brasil tem condições até mais favoráveis que alguns pares.” Ele cita, por exemplo, reservas da ordem de US$ 340 bilhões, acima dos US$ 250 bilhões recomendados pelo FMI, um colchão que permite que o BC atue no mercado para atenuar movimentos exagerados. “Se é para recomendar alguma coisa, é melhor trocar dólar por real taticamente.”

Com taxas de juros reais negativas e a inflação baixa no mundo todo, há conforto para que a liquidez se desloque para ativos de risco. Para Mercadante, sem mais a mágica do retorno de 1% ao mês, não há alternativa a não ser ter um bom equilíbrio entre posições em renda variável, papéis atrelados à inflação, fundos de private equity e ativos internacionais.

A avaliação do time do BNP é que a inflação no Brasil não está mais ligada à dinâmica cambial, e isso permite que a Selic permaneça em 2% ao ano até 2022. A diferença que se vê hoje entre taxas de juros longas e curtas está relacionada ao risco fiscal. A recomendação é fazer alocações nos vencimentos intermediários, principalmente no Tesouro IPCA. O executivo avalia que há um bom nível de juros reais na curva que já pagam a Selic, entre 2% e 3,5%. “Além de se proteger da inflação, o investidor já está ganhando o cupom.”

Ao longo do tempo, o BNP já vinha reduzindo as posições em CDI. Em contrapartida, vem incrementando a participação em multimercados, combinando estratégias macro com “long-short”, pela capacidade dos gestores de acessar mercados locais e internacionais, além de aproveitar oportunidades de arbitragem trazidas pela pandemia. A parcela internacional foi elevada, bem como a classe de alternativos.

Evolução das aplicações financeiras

Rentabilidade real* no período em %

20201º Tri2º TriJulAgo
Renda Fixa
Selic (1)0,481,17-0,17-0,03
CDI (1)0,481,17-0,17-0,03
CDB (2)0,561,350,160,03
Poupança (3)0,971,950,140,31
Poupança (4)0,231,04-0,23-0,06
IRF-M0,893,840,72-0,94
IMA-B-6,805,414,01-1,98
IMA-B 5-1,104,210,630,24
IMA-B 5 +-11,096,456,94-3,81
Renda Variável
Ibovespa-37,1930,747,88-3,63
Índice Small Cap-40,4933,069,11-1,42
IBrX 50-37,9332,367,76-3,60
ISE-34,1930,8810,44-4,12
ICON-36,4440,057,23-1,67
IMOB-45,7529,316,82-8,09
IDIV-31,6019,216,15-5,01
IFIX-22,4113,00-2,961,60
Valor/Coppead IP 20-33,3728,4311,040,36
Valor/Coppead MV-30,3419,316,78-3,43
Dólar Ptax – BC28,305,79-5,324,95
Dólar Mercado28,905,14-4,444,86
Euro – R$/€ – BC25,737,93-0,396,10
Euro Mercado26,897,110,216,25
Ouro B329,5417,985,424,23
Bitcoin – R$9,6255,4517,158,68
* Descontado o IPCA. (1) taxa efetiva (2) rendimento bruto do 1º dia útil do mês. (3) rentabilidade do 1º dia do mês – depósitos até 03/05/12. (4) rentabilidade do 1º dia do mês – depósitos a partir de 04/05/12; Lei nº 12.703/2012 Fonte: Anbima, Banco Central, B3, FGV, Focus, IBGE, Mercado Bitcoin e Valor PRO. Elaboração: Valor Data

Ativos de risco para todos os gostos

Em bolsa, todos os perfis passaram a ter uma parcela maior em ações. Para um cliente arrojado, ter 25% do portfólio em renda variável hoje faz parte da alocação neutra. Há espaço para aumentar essa fatia, diz o estrategista do BNP. “Neste patamar de bolsa é preciso acompanhar os resultados das empresas. O preço veio na frente e agora tem que ver se isso vai se concretizar no preço/lucro [P/L], se fica atrativo quando se projeta o resultado em 12 meses.”

O executivo também aconselha que para suavizar o risco, o investidor inclua proteções, via opções e outros derivativos. Ele diz que o cliente hoje é mais aberto a essa abordagem. “Quando se faz proteção, não pode torcer para dar certo. Não faz sentido contratar seguro e sair querendo bater o carro.”

Posições pós-fixadas seja em CDI, títulos públicos ou fundos conservadores foram reduzidas nas carteiras do Andbank, segundo Leonardo Marques Hojaij, diretor responsável pelo banco no Brasil. Os resultados vêm sendo extraídos de estratégias ativas em renda fixa, com debêntures prefixadas e atreladas à inflação e outros papéis de dívida. Nos últimos meses, a instituição elevou a parcela em fundos imobiliários e viu aumentar a base em ações diretamente e via fundos. De maneira ainda tímida, o executivo diz ver um fluxo para ativos no exterior.

Sem prêmio na renda fixa em qualquer parte do mundo, a busca por retornos potencialmente maiores prossegue, diz Ricardo Valente, sócio da One Partners. Os principais beneficiários do movimento tendem a ser bolsas, commodities, private equity, imobiliário e produtos estruturados.

Com os estímulos monetário e fiscal, a recuperação vai ser mais rápida do que se imagina, diz o executivo, referindo-se principalmente à economia americana. “Ainda não tem recuperação do PIB. A grande verdade é que o mercado está na frente, antecipou nos preços o que pode acontecer nos próximos anos”, afirma. “Mas dá para se desenhar um cenário de bolsas continuando a subir, se beneficiando do ambiente de capital muito barato. A renda fixa deve continuar sem prêmio nenhum e os juros muito baixos à frente.”

O ambiente de farta liquidez pode resultar no enfraquecimento do dólar nos próximos anos e beneficiar as classes de ativos emergentes. “O fluxo de dinheiro vai procurar onde há maior potencial de retorno, e o Brasil e demais emergentes acabam sendo bons suspeitos para receber esses capitais vindos do mundo desenvolvido”, diz Valente.

Gastança a valer

O problema, ressalva, é que para reagir à pandemia, o país fez um estímulo fiscal proporcionalmente maior do que outros emergentes. Isso significa que o governo terá que mostrar como vai endereçar o déficit e o compromisso com o teto de gastos e a Lei de Responsabilidade Fiscal. “A gente vive um pouco desse efeito de mercado antecipando a recuperação, principalmente na bolsa e nos juros, mas a moeda não espelha essa expectativa. No câmbio, o movimento foi contrário e refletiu as preocupações com o quadro fiscal.”

Mesmo com os senões, o gestor diz estar relativamente construtivo com ações porque as empresas terão acesso a capital mais barato. Valente afirma que vale ter alocação em juros reais, em prazos entre sete e dez anos. Ele diz que não é o momento de comprar dólar porque a recuperação dos preços das commodities beneficia a pauta brasileira de exportações.

Lá fora, o Opportunity tem dado preferência à bolsa americana, pela capacidade de recuperação da economia e pela sinalização do Federal Reserve (Fed, o BC americano) de que não vai remover os estímulos monetários tão cedo. “Os EUA ainda têm ‘upside’ apesar de toda alta”, diz Mollica.

Fonte: Valor Investe

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