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Dr. Renato Sabbatini: Crenças e fake news não são novidade

Na epidemia de meningite que assolou o Brasil na década dos 70, o remédio preventivo era… cânfora. A crença é que o cheiro forte “matava” a bactéria, o meningogoco, que entrava “pelo nariz”. Acredite se quiser. E isso que, ao contrário da atual pandemia, é uma doença plenamente tratável, sensível a antibioticoterapia e vacinas. Mas crenças e fake news não são novidade.

Eu acho frustrante essa mania que os leigos em medicina têm, que a cada novo dia alardeia-se um novo e revolucionário medicamento salvador e milagroso que vai surgir para tratar pacientes críticos atingidos pela atual pandemia!! Ohhh, finalmente, a cura! Uma hora é cloroquina, outra vermífugo, zinco, heparina, e por ai vai. Minando a esperança. Considerados isoladamente, nenhum é resolutivo.

Infelizmente, pessoal. não existe essa coisa de tratamento monodroga, remédio bala de prata, mágica terapêutica, não! Vírus respiratórios são extremamente difíceis de tratar principalmente na fase mais grave, ou crítica.

Os protocolos de tratamento são muito complexos, multifatoriais e sinergísticos, envolvem monitoração multiparamêtrica, ventilação mecânica, oxigenoterapia, várias drogas antivirais, anticoagulantes, anticorpos monoclonais, drogas cardioativas e vasoativas, sedativos, antibióticos, hidratação e nutrição endovenosa, postura prona, intubação, em alguns casos até hemodiálise e oxigenação extracorpórea, exames laboratoriais múltiplos e constantes, como tomografia torácica, avaliação da carga viral, painéis de gasometria arterial e de funções renais, hepáticas e cardíacas, ressuscitação cardiopulmonar, etc, etc, e etc, Cada aspecto da doença tem que ter um tratamento específico (terapia-alvo), por equipes grandes e altissimamente treinadas. Preocupem-se apenas se não vão faltar EPIs de quarto nível de biossegurança, ventilador, bombas de infusão, drogas, e especialistas, muitos especialistas treinados, como médicos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas e fisioterapeutas. Porque se chegar a sua vez, ou do seu irmão, pai, avô, filho ou amigo, vai ter que ter, senão você ou eles vão morrer. A taxa de mortalidade da atual pandemia de pacientes em estado crítica chega aos 80%, mesmo com todo esse tratamento.

Ai vem alguém e fala: ai, está vendo, ele tomou cloroquina, foi o que o salvou! O famoso paradigma da sopa de pedra.

Você tem ideia de quanto custa uma diária de UTI de nível mais alto, em um hospital particular? Tem pacientes que ficam 30 a 50 dias na UTI! Seu plano de saúde paga? O SUS tem vagas? Pois é. Não adianta criar 100 novos leitos de UTI, sem os especialistas. Você voaria em um avião sem piloto bem treinado, no meio de uma horrenda tempestade com ventos e raios?. Pois é.

Quem se interessar (e conseguir ler em inglês, ou traduzir com o Google) recomendo esses dois artigos:
https://www.thelancet.com/…/PIIS2213-2600(20)30161…/fulltext
https://link.springer.com/article/10.1007/s00063-020-00689-w

Dr. Renato Marcos Endrizzi Sabbatini, médico, empreendedor, professor universitário, pesquisador, consultor, palestrante e escritor

O ARTIGO REFLETE EXCLUSIVAMENTE A OPINIÃO DO COLUNISTA

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