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Macron e a difícil reconciliação com a França que não votou nele

Macron deverá iniciar imediatamente um programa de reconciliação nacional com as categorias de eleitores que votaram em Marine Le Pen, votaram branco ou nulo ou se abstiveram.

A vitória de  Emmanuel Macron contra Marine Le Pen nas eleições presidenciais na França é apenas o começo de uma longa batalha do primeiro presidente reeleito nos últimos 20 anos. Em seu discurso de vitória, o líder reeleito antecipou o que está por vir, declarando que será “o presidente de todos”.

É um discurso que condiz com os resultados das eleições: 41,46% dos eleitores, mais de 13 milhões de franceses, votaram em Le Pen, e 18 milhões de pessoas votaram nele — uma margem bem mais apertada do que a da disputa realizada há cinco anos. Ainda mais preocupante do que a redução na diferença é a quantidade de pessoas que não se sente representada por nenhum dos lados. Aproximadamente 17 milhões de eleitores se abstiveram de votar, ou votaram branco, ou nulo. Ou seja, de 48 milhões de eleitores, 30 milhões votaram contra ele, votaram em branco ou não se apresentaram nas urnas.

Um cenário preocupante e que já dá indícios do que deve ser a eleição legislativa dos dias 12 e 19 de junho, em que o desfecho é longe de ser óbvio e provavelmente envolverá algum tipo de negociação com a extrema esquerda de Jean-Luc Mélenchon, que superou 21% dos votos no primeiro turno e quase chegou no segundo.

Programa de reconciliação nacional urgente

Macron deverá iniciar imediatamente um programa de reconciliação nacional com as categorias de eleitores que não votaram nele. Reduzir as desigualdades sociais, encontrar uma solução para milhões de desempregados e para os cidadãos que sofrem com a inflação elevada, mas,principalmente, diminuir a distância entre o povo e o governo, que aumentou terrivelmente nos primeiros cinco anos de mandato.

Parece estranho falar em necessidade de reconciliação nacional para um presidente que acabou de ser reeleito, mas existem contas em aberto com uma parcela considerável da sociedade francesa, que busca uma nova representatividade.

Os protestos dos Coletes Amarelos, que devastaram a França por meses entre 2018 e 2019, já deveriam ter ensinado muito ao presidente. A pandemia parece ter apagado esse episódio, mas é preciso mantê-lo em mente, pois é possível que se repita.

As manifestações nas universidades, com os estudantes ocupando os campi após o primeiro turno, são um sinal claro de insatisfação por parte da população.

Necessidade de mudar o sistema eleitoral na França

A necessidade de reformar o sistema eleitoral – extremamente pouco representativo e que chega a gerar exclusão de partidos com muitos votos – é um problema percebido como urgente por muitos partidos.

No debate televisivo, Le Pen perguntou isso ao presidente, que foi, no mínimo, evasivo.

A França mantém um sistema uninominal majoritário com turno duplo para as legislativas, com eleições que ocorrem na esteira do pleito presidencial e para criar uma “onda” consensual junto ao recém-eleito chefe de Estado.

A ideia é criar as condições de governabilidade, em detrimento da representatividade.

Só que esse sistema eleitoral está enfrentando dificuldades com uma sociedade cada vez mais segmentada e estratificada.

E que está se mobilizando cada vez mais nas redes sociais.

Coletes Amarelos sinal claro de alerta

Quando estourou o fenômeno dos Coletes Amarelos, muitos observadores perceberam um importante sinal de alarme.

Centenas de milhares de pessoas foram manifestar nas ruas para protestar contra o governo por razões sociais, mas também pelo fato de não se sentirem representados.

A violência desse movimento é um sintoma claro do mal estar percebido por boa parte, ou até pela maioria, da população francesa. Conforme o resultado eleitoral demonstra.

E é possível que essa onda volte muito em breve se a inflação continuar subindo, corroendo o poder de compra das camadas mais baixas dos franceses.

Não por acaso, Marine Le Pen baseou sua campanha eleitoral na alta dos preços e na falta de ação do governo em conter essa situação.

O filósofo francês Paul Ricoeur definiu o paradoxo da democracia quando as pessoas esperam qie uma autoridade tome as decisões e, ao mesmo tempo, percebem cada uma dessas decisões como uma intrusão em suas vidas e sente o peso da verticalidade do poder.

Ricoeur foi o mentor intelectual de Macron. O reeleito presidente francês vai ter a difícil tarefa de dialogar e resolver os problemas das novas formas de representatividade horizontal.

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