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Mercado corre para oferecer ações gringas e recomendações ao investidor

Plataformas de investimentos, bancos e casas de análises independentes correm para se adaptar à nova regra da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que permitirá que pequenos investidores possam comprar ações de empresas gringas, como Amazon e Apple, na bolsa brasileira, a B3.

Antes, títulos conhecidos como BDRs eram restritos a investidores qualificados, com mais de R$ 1 milhão, e agora estarão acessíveis a qualquer um. As regras da CVM serão válidas a partir de 1º de setembro, e a partir de então, cabe às instituições financeiras oferecerem a alternativa.

Plataformas de investimentos e bancos precisarão vender o acesso a esses investimentos, por meio dos seus home brokers, sistema oferecido para conectar investidores ao pregão da bolsa. Essas empresas e as casas de análises também poderão oferecer recomendações para ajudar pequenos investidores a escolher quais BDRs comprar em um mar desses títulos.

As instituições financeiras observaram um aumento recente na busca de investidores por diversificação no exterior, em linha com a aceleração da queda de juros no Brasil e com as crises de saúde pública, econômica e política no país.

Corretoras, bancos e casas de análises apostam que essa demanda vai crescer ainda mais daqui para frente e, na perspectiva de grande parte delas, a nova regra que permite a pequenos investidores acessar os BDRs é muito positiva.

Segundo a B3, as corretoras precisarão adaptar seus sistemas, mas a bolsa já teve uma conversa prévia com o mercado e a mudança é bastante simples.

“O que queremos reforçar é que, nesse intervalo até a liberação da venda, as corretoras reforcem seus times de análise e cobertura sobre as companhias internacionais”, disse Felipe Paiva, diretor de relacionamento com clientes e pessoas físicas da B3.

A XP, maior plataforma de investimentos do país, diz que a medida vai beneficiar investidores brasileiros, em um momento em que a diversificação e melhor alocação de investimentos se tornam um desafio cada vez maior, com juros a 2% ao ano. “Precisamos seguir modernizando nosso mercado financeiro e essa mudança de regulação é mais um movimento nesse sentido”, diz Bruno Constantino, CFO da XP, em nota.

Luis Felipe Costa, diretor de renda variável da Genial Investimentos, acredita no aumento de emissão de BDRs no Brasil com a ampliação para o mercado do varejo. “O que a bolsa está conseguindo fazer é dar acesso ao investidor de varejo a um portfólio de ativos com liquidez. Por mais que se tenha 350 empresas listadas hoje, são só umas 60 no Ibovespa. É justo aumento da disponibilidade de ativos com liquidez”, diz.

A Easynvest diz que vai oferecer a nova opção de BDRs na plataforma a partir de quando for liberada efetivamente a negociação e que já estava preparada para isso, com infraestrutura pronta. Segundo a plataforma, provavelmente, o próximo passo da CVM será a liberação de fundos, com mais de 20% (de capital) em empresas estrangeiras.

“Abre novas possibilidades ao investidor que não sabe que BDR vai comprar, e, de repente, pode colocar em um fundo, temático, de tecnologia, do varejo, ou no que ele sempre estará procurando as melhores oportunidades”, diz Fábio Macedo, diretor comercial da Easynvest.

A Óramadiz, em nota, que pretende oferecer serviços de cobertura internacional, mas ainda não há definições sobre como e quando isso será feito.

Rafael Panonko, chefe de análise da Toro, diz que a mudança é que uma adequação à nova realidade mundial, em que o acesso a informação foi facilitado pela internet. “Achei um golaço, sendo bem sincero”, afirma. “Quando se fala em investir na bolsa, em empresas, o brasileiro não pode ficar restrito ao Brasil.”

Panonko vê mudanças para o dia a dia dos analistas. Não bastando relatórios sobre companhias listadas na B3, prepare-se para ler análises sobre petroleiras, mineradoras, marcas de vestuário, tecnologia, laboratórios médicos… enfim! De um mar de empresas que, talvez, você nem sabia que existiam.

“Não temos ainda um prazo, mas para a Toro e qualquer corretora será natural iniciar a cobertura de empresas internacionais”, diz. “Já faz parte do nosso trabalho, hoje, fazer essa análise para fazer comparações com companhias brasileiras, caso de Petrobras e Vale, mas teremos de passar a traduzir essas análises para relatórios periódicos específicos para BDRs.”

Luis Sales, analista da Guide, diz que vê a novidade como muito positiva, porque muitos brasileiros que podem já estão investindo diretamente lá fora, então os BDRs democratizam mais essa opção para o público geral. De acordo com ele, é um processo natural de “evolução e crescimento do mercado de capitais brasileiros” no cenário de juros baixos, e podendo cair mais.

“Claro que ainda é muito cedo para avaliar o crescimento desse volume de negociação, mas é promissor desde já, por trazer para mais perto as principais empresas negociadas nos Estados Unidos e outros países.”

Sob a ótica da B3, como companhia, e naturalmente dos seus acionistas,Marcelo Audi, gestor da Cardinal Partners, vê a notícia com bons olhos. “É uma maneira de não perder fluxo de negociação para outras bolsas, num momento de grande busca por ações no ambiente de juros baixos no mundo”, diz. “Conseguir reter parte desse fluxo, competitivamente falando, é uma medida na direção certa.”

Sobre o tamanho desse fluxo, Audi traz números que ajudam a razão do passo dado pela B3. De acordo com ele, num horizonte de 5 anos, é esperado um fluxo de R$ 500 bilhões aportados no mercado acionário do Brasil. Já o volume estrangeiro no período, tende a não alcançar nem a metade disso.

“Pela primeira vez desde os anos 90, quando se criou a categoria dos ‘mercados emergentes’, o potencial de fluxo doméstico é e tende a ser maior que o internacional no Brasil”, diz.

A Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) diz que a CVM acatou várias das suas sugestões, inclusive a oferta de BDRs para pessoas físicas. “Dada inovação tecnológica, o investidor local já estava se aventurando em um mercado que não conhecia, abrindo conta lá fora”, dizTiago Franco, líder da vertical de investimentos da Abfintechs.

Segundo Franco, todos os reguladores têm tido uma postura de tirar as amarras que existiam por décadas. “Em prol da segurança, foram subindo barreiras que no final deixavam investidor e empresas sem muitas opções”, diz.

O buscador de investimentos Yubb também diz que está fazendo as adaptações para estar tudo pronto em 1º de setembro. A plataforma afirma que estará pronta para os novos dados tão logo começarem as negociações.

O que dizem os bancos

Os grandes bancos também não querem ficar de fora dessa. O Santander diz que já oferecia, desde 2016, carteiras recomendadas de BDRs, porém, só para investidores qualificados. Agora, o serviço será estendido a investidores de varejo.

Renato Chanes, estrategista de pessoa física da Santander, diz que ter um time de analistas custa caro, o que pode impedir que algumas instituições financeiras tenham o serviço. “Não sei se todas as corretoras poderiam ter time de análise, mas a oferta do serviço veio para ficar, cada vez vai estar mais na prateleira”, diz.

Quanto ao acesso ao investimento, o Santander diz que terá que reformular sua plataforma. “Hoje o cliente investe por mesa de operação, não dá para fazer isso no home broker, tem bastante coisa pra ser feita. E tem a regulação que a gente precisa entender”, afirma Chanes.

O Bradesco vai começar a fazer recomendações de ações de companhias gringas por meio de sua plataforma de investimentos para pessoas físicas, a Ágora. “É uma tendência que vamos ter que seguir daqui para frente, vamos ter que cobrir”, dizFrancisco Cataldo, superintendente research da Ágora. De acordo com Cataldo, a tarefa não vai ser fácil. “Vai ser desafiador montar um time de análises.”

O Banco do Brasil diz, em nota, que vê essa iniciativa como um importante avanço, possibilitando uma maior gama de alternativas de investimentos para a pessoa física, num contexto em que a bolsa de valores ganhou 1 milhão de novos investidores nos primeiros sete meses de 2020. O banco afirma que seus analistas vão cobrir as novas empresas.

Na avaliação do BB, talvez o mais interessante para o investidor não seja apenas a possibilidade de, partir de agora, comprar papéis de empresas listadas lá fora, mas sim ter acesso a estruturas antes não disponíveis, como ETFs internacionais e estruturas com títulos de dívidas. O banco já tem fundos que investem em BDRs.

“O passo dado pelo regulador nos parece ser o primeiro de muitos na democratização do acesso a mercados globais para o investidor de varejo”, diz o BB, em nota.

Os bancos Itaú e Caixa não retornaram à reportagem.

O que dizem as casas de análises

Algumas casas de análises independentes já ofereciam serviços de recomendações de ações de empresas no exterior e outras afirmam que vão começar a oferecer agora.

A Suno Research já tem serviço de indicação de ativos no exterior para pequenos investidores desde 2018. Quem assina acessa análises sobre empresas, ETFs e fundos imobiliários. Há tanto indicação do ativo no exterior como das respectivas BDRs.

Agora, a intenção é dar mais ênfase a esses títulos, segundo Alberto Amparo, analista de investimentos no exterior da Suno Research. “A demanda vem aumentando para investimento internacional porque as pessoas ficam com medo da incerteza e compram ativos mais seguros”, diz.

A Nord Research lançou há três semanas uma carteira recomendada de ações no exterior para assinantes, para atender à demanda crescente de pessoas físicas. A casa não abre o número de investidores que contrataram o serviço, mas diz que, tamanha a demanda, não está aceitando mais novos assinantes.

Segundo Cesar Crivelli, analista responsável pelo Nord Global, produto com foco em investimentos no exterior da Nord, neste momento, não está nos planos da casa oferecer carteiras só de BDRs.

“Todas as empresas que temos na carteira possuem BDR, mas eu não me sinto confortável em indicar uma ação que tem cinco negócios no dia e o investidor vai perder por diferença de preço entre a compra e a venda. Hoje em dia é muito mais fácil enviar recurso para o exterior, eu recomendo“, diz. Além da pouca liquidez, Crivelli se preocupa com a escolha dos BDRs pelo pequeno investidor, que de acordo com o analista, não é trivial.

A Capital Research diz, em nota, que sempre indicou ações internacionais, sobretudo pelo benefício que o investidor obtém com a diversificação geográfica. A casa diz que recebe com otimismo a notícia de que os BDRs serão liberados para investidores de varejo, mas ressalta, que esse tipo de ativo oferece riscos que precisam ser medidos por investidores de perfis diferentes.

A Levante diz que está estudando a ideia de recomendar BDRs, mas que, para isso, é necessário ter uma equipe de pessoas com experiência em ações no exterior. “Eu tenho 20 anos de experiência no mercado brasileiro e não tenho experiência nisso. Precisa ter quem olhe Europa, Estados Unidos, China. É outro patamar”, diz Eduardo Guimarães, especialista de ações da Levante.

Como ficam empresas como a Avenue

Em meio à novidade, modelos de empresas como a corretora norte-americana Avenue poderiam perder o apelo. A empresa foi criada com a intenção de facilitar os investimentos dos brasileiros diretamente nos Estados Unidos. Na semana passada, disponibilizou um plano com taxa zero de corretagem.

Roberto Lee, sócio-fundador da Avenue, não teme que o acesso mais fácil a investimentos nos EUA afete seu negócio. “Internacionalização era uma tendência e agora vamos ver ganhar tração”, diz. “O melhor marketing é sempre a educação financeira e o conhecimento. Primeiro você acessa os instrumentos de formas intermediadas, mais caras e menos eficientes. Investimento direto é mais eficiente sempre.”

Além do plano com taxa zero de corretagem, a Avenue tem um “plano premium”, cujo custo varia entre US$ 1 e US$ 8,60 por ordem, conforme o valor da ordem. Nesse pacote, o cliente tem acesso a carteiras recomendadas, sala virtual do analista Bo Williams, do PhiCube, e conversas diárias em ambiente digital com o estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves.

Atualmente, a Avenue tem 115 mil clientes brasileiros, que representam mais de 90% dos US$ 400 milhões sob gestão. Cada cliente investe uma média de US$ 7,5 mil. Desses investidores, a maior parte tem ações de empresas americanas de tecnologia, como Amazon, Facebook, Apple, Netflix e Google, e empresas brasileiras listadas lá fora, como a XP e a Stone.

Segundo Lee, o movimento de investir em ações de companhias do exterior veio para ficar. “Depois, de bancarizar, é internacionalizar”, diz.

Fonte: Valor Investe

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