Quis o acaso que a start-up de delivery de supermercado Cornershop chegasse à maior economia da América Latina poucas semanas antes de a pandemia trancar os brasileiros em casa. As circunstâncias sanitárias transformaram um negócio baseado no conforto em serviço essencial, fazendo com que o consumidor procurasse o app, não o contrário. Após um ano e meio de crescimento explosivo no Brasil, a start-up tem a missão de manter esse fôlego diante da redução de medidas restritivas, vacinação avançada e competição feroz.
Hoje, a Corneshop vende 20% menos que no seu pico — entre março e abril, quando o repique da pandemia dobrou a demanda. Mesmo assim, a meta é dobrar o número de usuários até o fim de 2021.
— O desafio vai ser crescer com menor demanda orgânica. O ano de 2020 serviu para validarmos o modelo. Este ano, focamos em expansão geográfica. Agora, o plano é trabalhar mais nossa integração com o app da Uber, investir na retenção de clientes, lançar novas categorias de produto e dar mais visibilidade a nosso programa de fidelidade — conta Cristina Alvarenga, que chefia a Cornershop no Brasil.
A Cornershop foi fundada no Chile em 2015. Em 2019, seu controle foi comprado pela Uber, que adquiriu a totalidade das ações em julho passado. A Uber gastou US$ 1,9 bilhão para ter o app, que opera em oito países.
A empresa está em 33 cidades, contra 12 há um ano, chegando à maioria das capitais, de Manaus a Porto Alegre. O plano agora é avançar em regiões adjacentes, estratégia que requer investimento menor. Ao mesmo tempo, a Cornershop quer aumentar seu sortimento. Ela já tem farmácias e petshops, por exemplo.
— Agora, estamos trazendo material de construção, começando com a C&C em São Paulo. Em breve vamos incluir uma grande rede de artigos esportivos que será nossa porta de entrada em vestuário — explica.
Cristina também quer dar mais destaque ao Cornershop Pop, sua versão do Amazon Prime. Por R$ 24,90 mensais, ele proporciona entregas grátis e descontos.
— Quando olhamos para o que temos no Chile, podemos dobrar o Pop no Brasil — especula.
A pandemia provocou uma corrida entre competidores. No Brasil, concorrem tanto os chamados last-milers (iFood e Rappi) como gigantes do e-commerce (Magalu, Mercado Livre etc.). A aposta da Cornershop é que seu modelo pouco intensivo em capital — intermediação pura, sem estoque ou logística próprios — se provará o melhor a longo prazo.
— Todo mundo está queimando caixa. Alguns investem em prazos de dez minutos, outros em darkstores. Mas acho que é mais caro trazer cliente novo do que reter o que já temos. E o diferencial de longo prazo será retenção — pondera.
Diferentemente de Chile e México, no Brasil a Cornershop ainda perde dinheiro.
Fonte: O Globo