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Os desafios da Rede D’Or para integrar a SulAmérica começam pelo verbo

É consenso que a aquisição da SulAmérica pela Rede D’Or pode transformar o mercado de saúde privada, mas também já parece senso comum no setor que o processo não será nada trivial. A família Moll é conhecida pela gestão eficiente de uma rede de hospitais que tem os M&As no receituário. Mas ao ficar com a seguradora dos Larragoiti, a D’Or não só está levando para casa um negócio diferente — o centro de custos de uma é a geração de caixa da outra – como não terá as sinergias que costuma extrair das aquisições.

Ainda ontem, a D’Or correu o mercado tentando convencer que o verbo verticalizar não se aplica nesse caso — modelo da concorrente Hapvida Intermédica — uma vez que as operações serão mantidas como independentes. Integrar também não é exatamente como as companhias querem vender essa transação.

“Eu fico preocupado com a palavra integração”, disse com certo incômodo o CEO da SulAmérica, Ricardo Bottas, respondendo ao analista Mauricio Cepeda, do Credit Suisse, em teleconferência hoje. “Claro que tem um alinhamento maior de sinergias e vamos estudar complementariedades, mas com a preservação de autonomia e independência entre as duas operações, que são distintas.”

Para Luís Mazzarella, sócio da assessoria financeira JK Capital, que acompanha o mercado de saúde, os maiores ganhos de sinergias estariam justamente em uma verticalização mais completa. “Se ficar apartado, a Rede D’Or está virando uma holding de investimentos. Se não verticalizar, não faz sentido. Assim, o único ponto para a aquisição é que a SulAmérica estava barata”, avaliou. A D’Or colocou prêmio de 49% sobre a cotação da seguradora.

Os desafios culturais também não são simples, disse um gestor comprado na concorrência. Como rede hospitalar, a D’Or se beneficia da maior realização de procedimentos, o oposto do modelo da um plano de saúde — a alta sinistralidade joga contra a rentabilidade, como o balanço da SulAmérica no quarto trimestre evidencia. “A D’Or sempre olhou para os hospitais como centro de lucro e a Hapvida, como centro de custo. Para ser um player verticalizado bem sucedido, você precisa olhar para base de hospitais como custo, o que será um belo desafio de mudança de estratégia da D’Or. É possível ser feito, mas será desafiador”, diz o gestor.

Com operação mais voltada à alta renda, Rede D’Or e SulAmérica dificilmente conseguiriam montar uma operação totalmente vertical nos moldes de Hapvida Intermédica — mais concentradas em classe média e média baixa —, o que talvez explique porque Bottas tratou o termo integração como um palavrão. Quando se considera o perfil do corpo médico dos hospitais da D’Or, quem conhece o setor acha difícil um protocolo de custos rigoroso como o de Hapvida, que controla a caneta do médico.

“Os médicos lá são artistas, no bom sentido”, emenda um gestor. Na mesma linha, outro analista lembrou que a Rede D’Or pagou uma fortuna para tirar o oncologista Paulo Hoff do Sírio-Libânes, em 2017. “O cara fatura, traz os casos mais complexos”. Com uma mentalidade de controle de custos necessária para um plano de saúde ou uma operadora totalmente verticalizada, esse tipo de abordagem não faria sentido.

Analistas também aguardam a reação da Bradesco Saúde, seguradora que responde por 25% da receita da rede da família Moll, de acordo com estimativas do BTG Pactual. A SulAmérica é a segunda, com cerca de 20%. Há um risco de execução para preservar o core business da Rede D’Or, avaliou o analista Yan Cesquim, do BTG, em comentário a clientes. “Há um natural conflito de interesses agora. O Bradesco (maior competidor da SulAmérica) é também o maior cliente da Rede D’Or”.

Ao terem acesso às informações da Rede D’Or, a SulAmérica poderia tentar tirar clientes dos concorrentes, aproveitando-se de dados para oferecer preços menores em carteiras de clientes com menor sinistralidade, especula um analista. Para dirimir esse problema, os mecanismos de governança terão que ser rígidos — o que pode estender a avaliação do Cade mesmo sem qualquer sobreposição de atuação.

Se esses são os potencias problemas, as oportunidades também soam óbvias. Desde seu IPO gigantesco em 2020, muitos investidores questionavam se a companhia da família Moll não se tornaria muito grande para seu mercado, limitando a possibilidade de crescimento, lembrou o analista do BTG. “Este M&A resolve um dos maiores pontos negativos da tese de investimentos na Rede D’Or, que era o limitado mercado total endereçável”, escreveu, ressaltando que o mercado de planos de saúde é três vezes maior.

A aquisição também dará oportunidade para SulAmérica e Rede D’Or criarem produtos conjuntos, especialmente na semi-verticalização. A Paraná Clínicas e a Direto, operações de tíquete mais baixos da SulAmérica, foram muito citadas por Bottas como exemplos do que vem por aí — uma outra frente, mais popular, que a D’Or não explorava.

No primeiro pregão após a divulgação do M&A, as ações da Rede D’Or caíram 7%, enquanto o Ibovespa recuou 0,4%. Puxadas pelo prêmio embutido na aquisição, as units de SulAmérica valorizaram 15%.

Fonte: Pipeline Valor

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