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Por que o candidato de Merkel está perdendo as eleições na Alemanha

É o fim de uma era na Alemanha. O país vai às urnas no domingo, 26, em eleição que vai definir a composição do próximo Parlamento e o nome do (ou da) chanceler que substituirá Angela Merkel, no cargo há quase 16 anos.

Merkel, que é de centro-direita, termina seu quarto mandato com cerca de 80% da população avaliando de forma positiva o governo.

Mas isso não tem sido suficiente para que seu candidato, Armin Laschet, consiga vantagem na disputa, que por ora têm liderança do Partido Social Democrata (SPD), de centro-esquerda.

Laschet, como Merkel, é o candidato do partido conservador União Democrata-Cristã (CDU), que faz aliança com seu partido irmão, a União Social-Cristã (CSU). Aos 60 anos, é também governador do estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália. 

O problema: a região governada por ele foi também uma das mais afetadas pelas enchentes que devastaram o norte da Alemanha em julho, com ao menos 117 mortos. O episódio se tornou decisivo na disputa eleitoral, marcada em parte pela preocupação com as questões climáticas.

Além de Laschet não ter conseguido empolgar na campanha, o político foi fotografado rindo em um local devastado pelas enchentes. O episódio pegou muito mal entre a opinião pública e fez CDU/CSU despencarem nas pesquisas, até perderem de vez a liderança em agosto. 

Na outra ponta, parte significativa dos eleitores na Alemanha, embora avalie positivamente a era Merkel, que governa desde 2005, acredita que é hora de mudanças.

Assim, a dias do pleito, há uma leitura geral de que a Alemanha pode ter uma guinada rumo à esquerda liderada pelos social democratas do SPD e com participação dos Verdes — embora tudo vá depender das coalizões a serem formadas, como é típico do sistema parlamentarista.

Nenhum cenário está descartado, uma vez que não basta que um partido vença, mas que consiga a maioria das cadeiras do Parlamento para governar.

Para que a CDU de Merkel ou o rival SPD cheguem lá, é possível que a coalizão governista precise ter não dois, mas três partidos, e as negociações podem levar meses até que um governo seja de fato formado.

“Seria a primeira vez que uma coalizão teria três partidos a nível federal neste século. E, claro, significaria negociações mais duras e mais desafios de manter essa coalizão unida”, disse em entrevista anterior à EXAME Eric Langenbacher, do Departamento de Governo da Universidade Georgetown, nos Estados Unidos, e coautor do livro A Política Alemã (2017).

Guinada à esquerda?

A liderança por ora é dos sociais democratas do SPD, que se alinham à centro-esquerda e cujo líder é Olaf Scholz. Político experiente e atual ministro das Finanças de Merkel (que teve de se aliar aos rivais do SPD para governar), Scholz não é visto como muito carismático, mas tem feito uma campanha sem muitos erros.

Os sociais-democratas prometem medidas como taxações maiores aos ricos e combate à desigualdade social, embora Scholz tenha se mostrado até hoje como um candidato moderado e até mesmo de alguma continuidade.

Além disso, é possível que o SPD, se confirmar a vitória, tenha de fazer aliança com nomes como os liberais econômicos do FDP, o que colocaria um freio em propostas mais ousadas.

“Um governo liderado pelo SPD não traria mudanças gigantescas. Olaf Scholz é uma continuação dos anos Merkel, ao menos em estilo de liderança”, disse Carsten Brzeski, diretor global de macro da casa de análise ING, na Alemanha.

“Já em termos de substância, qualquer que seja a próxima coalizão na Alemanha, trará medidas que busquem mais investimento, luta contra as mudanças climáticas e digitalização”, afirmou, citando pontos nos quais há críticas à estagnação na era Merkel.

Outra mostra da insatisfação com os conservadores e com a possibilidade de um governo do CDU de Laschet é o crescimento dos Verdes.

No começo da campanha, a líder da aliança, Annalena Baerbock, de 40 anos e promessa política alemã, também despontou como potencial concorrente até à chancelaria, o que seria inédito para a legenda, mais à esquerda que o SPD. Mas os debates não foram bons para Baerbock, que terminou enfraquecendo.

Ainda assim, com a crise climática entrando no cardápio de todos os partidos, os Verdes podem ser os principais definidores da eleição, e caminham para saltar de 9% para pelo

Merkel prometeu que a Alemanha zerará as emissões de carbono até 2045, mas os Verdes tendem a pressionar por mudanças mais profundas em qualquer que seja o governo eleito.

Uma das coalizões possíveis, por exemplo, é entre os social democratas do SPD, os Verdes e os liberais do FDP, o que colocaria, no mesmo governo, visões políticas e econômicas opostas.

Houve um tempo em que a política alemã era polarizada entre SPD e CDU, que ganhavam juntos mais de 80% dos votos no pós-Guerra, o que fazia com que o partido vencedor entre os dois pudesse governar facilmente.

Nos últimos anos, no entanto, o Bundestag, Parlamento Alemão, tem se fragmentado, o que tem tornado mais difícil para um chanceler fazer uma coalizão.

A própria Merkel teve se unir aos rivais do SPD para governar, o que levou seu governo mais ao centro do que a base conservadora de seu partido.

Extrema-direita isolada

Ao contrário das últimas eleições, a extrema-direita não deve aumentar sua participação no Parlamento.

O partido Alternativa para a Alemanha (AfD), criado por dissidentes ultraconservadores do CDU de Merkel na esteira da crise dos refugiados, ganhou seus primeiros assentos no Bundestag na eleição de 2017.

No entanto, as pesquisas apontam que a AfD pode até diminuir de tamanho ou seguir igual, a depender do resultado.

Hoje, o partido tem 87 cadeiras no Bundestag (mais do que os Verdes ou o liberal FDP), mas tem sido sistematicamente isolado das decisões pelos demais partidos, da direita à esquerda.

Em uma Alemanha ainda muito marcada pela memória do nazismo, não é esperado que nenhum partido tente fazer coalizão governista com a AfD, nem mesmo os mais conservadores.

“Eu não acredito que nenhum resultado vá empoderar a extrema-direita. A AfD provavelmente já chegou a seu limite de apoio”, disse Langenbacher, da Georgetown.

Os erros da era Merkel

Nascida ainda na Alemanha dividida e eleita pela aliança conservadora CDU/CSU, Merkel chegou ao poder em 2005, então aos 51 anos, tornando-se a primeira mulher no cargo na história do país. 

O estilo de gestão de Merkel é visto como conciliador, o que gerou elogios na gestão de crises mas também muitas críticas à chanceler. 

Seu governo ficará na história por ter conseguido manter a União Europeia e o euro após a crise de 2008, ou por momentos como o recebimento de 1 milhão de refugiados e a redução do programa nuclear.

Mas apesar do consenso de que Merkel deixa um legado importante à Alemanha, mesmo os admiradores de seu governo admitem que, passada mais de uma década, é hora também de repensar os rumos.

As enchentes foram um dos sinais de alerta, mas há outros, como os pedidos por maior digitalização da economia, transição para energia limpa e a pressão por uma posição mais firme contra a China e governos autoritários europeus na política internacional.

“Há uma visão geral de que o status quo em muitos temas não funciona mais, e que políticas transformacionais são necessárias”, disse à EXAME neste mês Constanze Stelzenmüller, do instituto de pesquisa Brookings. “Está menos claro, no entanto, se os eleitores estão dispostos a pagar o preço por isso”, diz.

Um paradoxo para um possível governo mais à esquerda, por exemplo, é na transição energética: quase metade da matriz alemã ainda é não renovável, e um desafio aos políticos progressistas será encorajar o desuso de fontes poluentes sem encarecer o custo de vida dos mais pobres.

Mas independentemente do governo eleito, analistas econômicas e políticos apontam que essas são questões que a Alemanha terá de equacionar. Após quase 16 anos e muitas crises resolvidas com maestria, Merkel deixa um legado importante à Alemanha e à democracia mundial. Mas a visão é que mudanças precisarão invariavelmente acontecer a partir deste domingo para que o país siga liderando.

Fonte: Exame

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