Questões de privacidade desafiam desenvolvimento da moeda, segundo coordenador do real digital
O Banco Central reconheceu que houve atraso no desenvolvimento do Drex, o real digital. Além disso, houve uma revisão no cronograma da primeira fase de testes. Antes planejada para ser concluída entre fevereiro e março do próximo ano, essa etapa piloto agora está programada para se estender até maio de 2024.
De acordo com Fabio Araujo, o coordenador responsável pelo real digital no Banco Central, o processo de inclusão dos participantes na rede está ocorrendo de forma mais vagarosa do que o antecipado. Questões relacionadas à privacidade também se revelaram um desafio considerável no progresso da moeda digital brasileira.
“A implementação do cronograma está enfrentando alguns obstáculos, sendo executada em um ritmo mais gradual do que havíamos inicialmente planejado para integrar as pessoas à rede”, compartilhou Araujo durante a transmissão semanal do Banco Central.
O órgão regulatório selecionou 16 participantes, sejam eles indivíduos ou consórcios, para se integrarem à infraestrutura onde os testes do Drex serão realizados durante essa fase piloto.
A escolha para a rede a ser utilizada nesse estágio de desenvolvimento recaiu sobre a Hyperledger Besu, baseada na plataforma Ethereum, que emprega tecnologia de blockchain para registrar transações envolvendo ativos digitais.
“Além disso, a seleção da tecnologia voltada para a proteção da privacidade tem se mostrado um desafio significativo. Estamos em conversas com diversos fornecedores. Percebemos que a maturidade ainda não está no nível adequado, em consonância com os requisitos da LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais]”, explicou.
“Isso nos levou a considerar importante uma revisão do cronograma”, acrescentou. “Para que tenhamos o tempo necessário para conduzir de maneira apropriada os testes de privacidade, a previsão é que encerremos em maio [de 2024], de acordo com o planejamento atual.”
Ainda que a primeira fase de testes tenha agora um cronograma mais flexível, Araujo manteve a estimativa de que a população brasileira poderá ter acesso ao Drex, mesmo que de forma experimental, entre o final de 2024 e o início de 2025.
A criação do real digital pelo Banco Central tem como intuito impulsionar transações mais complexas e democratizar os serviços financeiros no país, que atualmente são dispendiosos e de difícil acesso.
O termo “Drex” foi atribuído pelo Banco Central ao real digital no dia 7 de agosto, sendo apresentado como um “passo adicional na família do Pix”.
Araujo também destacou que o Drex terá um papel na inibição de crimes como lavagem de dinheiro, visto que se tornará mais difícil ocultar transações realizadas com a moeda digital.
Aristides Cavalcante, chefe do escritório de Inovação Tecnológica e Segurança Cibernética do Banco Central, acrescentou que transações fraudulentas feitas por meio do Drex poderão ser revertidas caso a Justiça assim decida.
“Se o dinheiro ainda estiver em formato digital e houver uma ordem judicial, os bancos poderão desfazer as transações”, esclareceu.
“Mesmo se tiverem ocorrido várias transferências entre 10 ou 15 contas, o percurso poderá ser revertido até que o valor retorne à conta original, desde que ele ainda esteja na forma digital e uma ordem judicial seja emitida”, concluiu.
Entretanto, o especialista do Banco Central ressaltou que, após a conversão da moeda do formato digital para o físico, a operação se torna irreversível.
Fonte: Folha