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James Bond se despede de sexto ator sob rumores de novo espião negro ou mulher

Chegou aos cinemas no último dia 30 “007 – Sem Tempo para Morrer”, o 25º filme do agente secreto britânico James Bond — e o quinto e último longa com Daniel Craig no papel do herói. Ator e personagem têm agora um desafio maior, manter os lucros habituais da série em um mundo ainda castigado pela pandemia.

Como ninguém ousaria encerrar uma franquia bilionária, ela deve continuar. Os atributos para representar o espião foram descritos de maneira bem clara por seu criador, o escritor Ian Fleming, em uma dúzia de romances e dois livros de contos que começaram a ser publicados em 1953.

James Bond é um homem de 30 a 40 anos, branco, alto, atlético, com habilidades infindáveis para o manuseio de armas, o combate corpo a corpo e a sedução de mulheres.

Ainda que esse perfil esteja incrustado no imaginário coletivo, há rumores de uma grande reviravolta na série, que poderia ter no futuro próximo um 007 negro ou interpretado por uma mulher.

Fãs incondicionais de um dos heróis mais machistas do cinema talvez peguem tochas e saiam às ruas para expressar grande indignação. Craig, sexto ator no papel, foi criticado apenas por ser um Bond tido como excessivamente loiro.

Na trama do novo filme, o espião está aposentado e volta à ação para ajudar um amigo. Acaba encontrando em seu lugar, no serviço de espionagem MI6, uma mulher negra assumindo o código 007. Apesar disso, os fãs mais ortodoxos podem ficar sossegados (pelo menos por enquanto): o velho Bond de sempre estará na tela para salvar o mundo mais uma vez.

É possível, contudo, chamá-lo assim, de “o Bond de sempre”? Não parece recomendável, pois há diferenças enormes entre cada representação do espião nas telas.

A tese de que o primeiro Bond a gente não esquece é defendida pela maioria que aponta Sean Connery (1930-2020) como o mais cativante. Quando “007 Contra o Satânico Dr. No” chegou aos cinemas, em 1962, o escocês Connery, aos 32 anos e pouco conhecido, se encaixava à perfeição na descrição.
Foi o acontecimento cinematográfico do ano, multiplicando a legião de fãs dos romances. Para a ardorosa plateia, Connery era James Bond.

Depois de uma quinta aventura, “Com 007 Só Se Vive Duas Vezes”, de 1967, Connery quis largar o papel. E para seu lugar veio outro desconhecido, o australiano George Lazenby. É difícil entender o que teria motivado sua escalação.

Alto e desengonçado, o ator de 29 anos foi reprovado pela imensa maioria dos fãs quando “007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade” estreou, em 1969, mesmo sendo bastante fiel ao Bond dos livros.

Talvez estivesse aí o grande problema: Lazenby foi escalado para a adaptação de um romance que, embora um dos melhores de Fleming, traz Bond em situações incomuns.

Depois de tanto seduzir garotas e abandoná-las quando bem quis, nesse romance Bond se apaixona e se casa, mas logo fica viúvo, pois sua mulher é assassinada pelo vilão. Um rosto novo e um comportamento tão diferente de uma só vez pareceram ao público uma mudança excessiva.

O fracasso do filme empurrou Lazenby para uma carreira na TV e trouxe de volta Connery, que pediu rios de dinheiro para retomar o papel. Recebeu o que exigiu e fez “007 – Os Diamantes São Eternos”, um dos campeões de bilheteria de 1971. Estava claro, contudo, que ele não desejava ser o Bond dos anos 1970.

A opção por um rosto não tão famoso foi abandonada. O inglês Roger Moore (1927-2017), consagrado em cinema e TV, estreou como Bond em 1973, em “Com 007 Viva e Deixe Morrer”. É irônico que, nessa renovação do personagem, Moore fosse três anos mais velho que Connery, fazendo sua primeira performance como Bond aos 46 anos.

Ele foi o intérprete mais frequente de 007 na franquia oficial—e também o Bond mais velho nas telas. Viveu sete vezes o espião, a última delas em “007 – Na Mira dos Assassinos”, de 1985, aos 58 anos.

Moore foi ídolo de gerações, inclusive no Brasil, em três séries famosas da TV: “Ivanhoé” (1958-1959), “O Santo” (1962-1969) e “The Persuaders!” (1971-1972). Desde jovem, ficou famoso por ser boa-praça, dono de refinado senso de humor tipicamente britânico. Seu James Bond teve um desequilíbrio na fórmula.

O bom humor aumentou, mas as cenas de ação diminuíram. Com as garotas, apostava mais em cantadas engraçadas do que na sedução em olhares penetrantes que Connery havia estabelecido.

Essa fase fraca com Moore abriu até a chance de um novo filme com Connery, mas fora da franquia oficial. Por uma brecha jurídica, outro produtor teve direito a usar o romance “Thunderball”, que já havia sido adaptado em “007 Contra a Chantagem Atômica”, estrelado pelo próprio Connery em 1965.

“007 – Nunca Mais Outra Vez” foi lançado em 1983, com pequenas modificações que não melhoram em nada a primeira versão. A bilheteria foi morna, e um Connery de 53 anos e cabelos mais ralos não reviveu a mística do herói.

Hoje, quase cinco décadas depois, o período de Moore é considerado divertido, mas os roteiros dessa fase são os mais fracos de toda a franquia. A conclusão, para os produtores, é que o ator segurou o rojão, mas não trouxe novas gerações para o culto ao personagem. O que é ruim, contudo, poderia ficar ainda pior.

O galês Timothy Dalton chegou para ser Bond aos 41 anos, em “007 Marcado para a Morte” (1987), e permaneceu no posto por apenas mais um longa, “007 – Permissão para Matar”, dois anos depois.

Com parrudo currículo no teatro e as características físicas certas, Dalton ganhou uma legião de fãs considerável, mas teve de enfrentar um inimigo circunstancial fora das telas.

Ele foi escalado como Bond no período em que a Aids alcançava os maiores índices de contaminação no planeta. Os produtores da franquia resolveram segurar a libido do agente, deixando fora dos dois filmes cenas mais quentes com as Bond girls.

A brincadeira na época era dizer que o 007 de Dalton tinha licença para matar, mas não para amar. E, ainda pior, não havia mais bons romances de Fleming para alimentar novos filmes.

O primeiro longa com Dalton é baseado em um breve conto do autor, e o segundo foi feito a partir de um livro de John Gardner, um dos muitos escritores encarregados de produzir novos volumes do herói depois da morte de seu criador, mas todos sem o mesmo brilho.

Com a anunciada despedida de Dalton, muitos apostaram que a franquia poderia chegar ao fim. Seis anos se passaram, e então Pierce Brosnan, um irlandês de 42 anos, ganhou o papel sem ter muito a mostrar além de algumas temporadas da série de detetive “Remington Steele” (1982-1987), exibida pela Globo com o nome “Jogo Duplo”.

Brosnan tinha o charme para o papel, mas fãs criticavam seu porte pouco atlético e o consideravam pouco viril. No entanto, circunstâncias fora das telas o favoreceram.

Nenhum dos quatro filmes estrelados por ele, de “007 Contra GoldenEye” (1995) a “007 – Um Novo Dia para Morrer” (2002), é especialmente marcante. No entanto, levaram as bilheterias da série a cifras muito maiores.

Não é exatamente um mérito dele, mas sim um reflexo do crescimento mundial dos multiplex, conjuntos de cinemas com mais de uma ou até duas dezenas de salas. A maior distribuição nos países asiáticos também colaborou para os bons resultados, aumentando o público global.

Mesmo assim, quando Brosnan anunciou o desejo de parar com o papel, os produtores não fizeram força para que mudasse de ideia.

Daniel Craig entrou para a franquia aos 38 anos —e mostrou mais diferenças do que apenas seu cabelo naturalmente loiro. Para seu primeiro filme, decidiu-se pela adaptação de “Cassino Royale”, primeiro romance de Fleming com o agente, que tinha ficado de fora da franquia nos anos 1960 porque seus direitos, na mão de outros produtores, deram origem a uma ótima comédia em 1967, com o nada atlético David Niven como Bond e um jovem Woody Allen de vilão.

O “007 – Cassino Royale” com Craig mostrou, em 2006, um novo Bond. Mais sarado do que seus antecessores, é um herói de maior desempenho físico. Passou a correr mais, saltar de um prédio a outro, brigar mais agressivamente e até ser torturado, como numa sequência sem precedentes em que é impiedosamente surrado com golpes no órgão genital.

Falando dessa parte do corpo, neste e nos três filmes seguintes ele voltaria a conquistar mulheres facilmente, sendo um Bond mais econômico em palavras na hora de levar uma garota para a cama.

O Bond de Craig é mais contido, taciturno, quase melancólico e bem cínico em alguns momentos, além de impiedoso. Seu jeito duro com os vilões e a fúria nos combates físicos são influenciados por novos agentes em ação na mídia, como o Jack Bauer do seriado de TV “24 Horas” e o Jason Bourne do cinema.

Superando as primeiras reações negativas, Craig ganhou aos poucos o público da série. “007 – Operação Skyfall” (2012), o terceiro que protagonizou, faturou mais de US$ 1 bilhão no mundo. As votações em grupos de bondmaníacos na internet, frequentados por gente mais jovem, já indicam Craig como o segundo Bond mais aceito, chegando a ameaçar Connery nessa disputa de popularidade.

A gratidão dos produtores é tamanha que ele é o primeiro intérprete a ganhar um filme de despedida, este “007 – Sem Tempo para Morrer”. Agora é esperar para ver o adeus de Craig e qual será o destino do espião mais famoso do mundo.

Fonte: Folha

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