Segundo um inquérito referente à análise das diferenças de género no topo das organizações, 1 em cada 4 homens tem dificuldade em aceitar uma liderança feminina. Do universo de 580 mulheres inquiridas, 46% refere serem ainda menos ouvidas do que os seus pares masculinos e 38% identificam como principal obstáculo o facto de os homens, com as mesmas características (competências, qualificações, experiência…), continuarem a ter o privilégio de chegar à gestão de topo.
O estudo “Mulheres na Liderança. A análise das diferenças de género no topo das empresas”, referente a 2021 e divulgado pela Adecco, mostra ainda que para cerca de 36% das mulheres o principal obstáculo é representado pelo fardo dos cuidados com a família e pela falta de instrumentos de conciliação eficaz. E na verdade, cerca de 28% do universo de mulheres inquiridas dizem ser cuidadoras, ou seja, são responsáveis por cuidar de outras pessoas que não os seus próprios filhos.
A distribuição do tempo dedicado aos cuidados de outros é a variável que melhor explica o facto de esta responsabilidade ser um dos obstáculos à progressão da carreira: ultrapassa as 21 horas semanais para 42% das inquiridas com filhos menores e para 34% das cuidadoras. Isto significa que é como se as mulheres trabalhadoras, para além do seu contrato a tempo inteiro, tivessem também um contrato a tempo parcial adicional não remunerado.
Em 2020 houve um colapso no emprego feminino. Segundo a Adecco, a primeira e mais óbvia justificação é que as mulheres trabalham de forma desproporcional em setores especialmente atingidos pela COVID-19. Outra parte importante da causa desta saída das mulheres do mercado de trabalho é precisamente o suporte do trabalho doméstico e dos cuidados a terceiros que continua a afastá-las do regresso ao trabalho. Cai-se sempre no mesmo estereótipo sociocultural: as mulheres são, comparativamente com os homens, mais sobrecarregadas e penalizadas por isso no mundo do trabalho.
Como se pode então desenvolver políticas de conciliação trabalho-cuidados a terceiros e evitar que as mulheres se sintam excluídas da rápida transformação digital que está a acontecer nas organizações a nível global? A Adecco propõe 4 formas:
- Definir modelos a seguir de forma a mobilizar as jovens para estudar tecnologia. Por mais superficial que possa parecer, é verdadeiramente importante que o mundo da ficção possa alavancar uma revolução cultural.
- Aceleração da ação regulatória por parte dos governos relativamente à discriminação salarial, solicitando, por exemplo, às empresas que provem estar a pagar a homens e mulheres de forma igual por trabalho de igual valor. Os governos devem ainda investir na prestação de cuidados de forma a promover o regresso das mulheres ao mercado de trabalho, e priorizar as mulheres em programas de upskillinge reskilling.
- Proporcionar formação digital adequada à vida das mulheres. Os podcastssão um exemplo – para muitas mulheres, estes são uma oportunidade de absorver informação enquanto se ocupam de tarefas diárias.
- Os homens têm de se questionar sobre como podem contribuir para trazer mais mulheres ao mercado de trabalho. Ser um patrocinador é mais do que ser um aliado. Um patrocinador é alguém que fala (bem) de si quando não está presente na sala. As mulheres fazem isto por outras mulheres, e os homens também o podem fazer.
Fonte: Líder Magazine