Grupo selecionou 13 países, inclusive o Brasil, com potencial para crescer e receber investimentos
Peter Bodin: mira em empresas que faturam de US$ 20 milhões a US$ 1 bilhão e desafios como aportes em tecnologia, soluções sustentáveis e economia estável
A empresa global de consultoria e auditoria Grant Thornton identificou 13 dos 140 países onde está presente como mercados potenciais para crescimento nos próximos cinco anos no segmento de “middle market”- empresas que faturam de US$ 20 milhões a US$ 1 bilhão \, exceto nos EUA e China, onde a faixa vai a US$ 4 bilhões. Essas empresas são principalmente familiares ou privadas sem ações negociadas em bolsa. O Brasil está entre os países promissores.
Sétima maior empresa no mundo pelo último ranking disponível, de 2018, do provedor de pesquisas Euromonitor International, a Grant Thornton registrou receita global de US$ 5,4 bilhões naquele ano.
O CEO global da Grant Thornton, Peter Bodin, disse que durante cerca de dois anos o grupo pesquisou de quais partes do mundo viria o crescimento no futuro. O objetivo era concentrar os investimentos no mercado intermediário. “Identificamos certos mercados em que realmente cresceríamos muito nos próximos cinco anos”, disse o executivo. Além do Brasil, foram selecionados a China, a Índia, a Indonésia, a Tailândia, a Malásia, as Filipinas, o Vietnã, o Japão, a Alemanha, a Itália, o México e a Nigéria.
Nesses 13 países o faturamento combinado alcançou US$ 1 bilhão em 2019, com média de crescimento de 12,8% em relação ao ano anterior. A taxa é duas vezes superior à média global, segundo a companhia.O Brasil liderou o avanço, com 27% no período, disse Daniel Maranhão, diretor-presidente da Grant Thornton no Brasil – o grupo não revela resultados por país. Na sequência, os maiores avanços foram da Alemanha, com alta de 24,3%, da Índia (21,2%), do Japão (14,4%) e da China (9,9%).
Agora, o cenário já não é tão otimista em relação à China, onde a Grant Thornton possui 25 escritórios, inclusive em Wuhan, com 5,5 mil funcionários. Todas instalações foram fechadas por causa da epidemia do novo coronavírus, o Covid-19, que se propagou a partir de Wuhan. Os colaboradores continuaram trabalhando a partir de suas residências, para não prejudicar o atendimento, principalmente aos clientes internacionais, disse Maranhão. Ele não informou se os escritórios já foram reabertos.
Como praticamente todo o mercado chinês parou, Maranhão estima que não houve prejuízo particularmente para o grupo. “Em negócios internacionais, em termos de oportunidades, com certeza teve impacto, com novos serviços postergados”, disse Maranhão. Nos países onde o grupo tem clientes chineses, como o Brasil, não houve impacto porque os escritórios mantiveram o atendimento normal, acrescentou.
Em relação ao Brasil, o CEO global, que visitou o país em dezembro, disse que alguns dos principais desafios para o mercado local acelerar o ritmo de crescimento são investimentos em tecnologia, inovação, soluções sustentáveis e ter uma economia estável.
Além disso, Maranhão destaca que o cenário envolvendo a Operação Lava-Jato, o combate à corrupção, aperfeiçoamento de regras de compliance e rigor para não pagamento de propina têm preocupado cada vez mais as empresas no país, que buscam em auditorimento são investimentos em tecnologia, inovação, soluções sustentáveis e ter uma economia estável.
Além disso, Maranhão destaca que o cenário envolvendo a Operação Lava-Jato, o combate à corrupção, aperfeiçoamento de regras de compliance e rigor para não pagamento de propina têm preocupado cada vez mais as empresas no país, que buscam em auditoria e consultoria ajuda para que seus negócios se mantenham nos trilhos. A receita desses novos serviços no Brasil cresceu mais de 50% nos resultados da Grant Thornton em 2019, disse o executivo.
A subsidiária local está presente em dez cidades, com 13 escritórios, e tem 800 funcionários entre os 56 mil do grupo. Bodin disse que está em análise a abertura de novos escritórios no Brasil.
A demanda por serviços anticorrupção parte tanto de empresas que suspeitam de algo errado nos negócios quanto das que só querem se prevenir para que não haja desvios de conduta, disse Maranhão. “Toda empresa enfrenta enormes forças externas e o nosso trabalho é ajudá-las”, disse Bodin.
A Grant Thornton enfrenta seus próprios desafios. No Reino Unido, perdeu posição no ranking por receita para a BDO e ficou em sexto lugar em 2019. Em dezembro, foi multada em 650 mil libras (US$ 845 mil) pelo Financial Reporting Council, regulador do setor, por erros na auditoria de um cliente. O órgão investiga também contas da Sports Direct, da Patisserie Valerie e da Interserve. Além disso, em um ano trocou duas vezes o chefe da auditoria britânica.
A companhia reconheceu os erros e se reestruturou. Com a cooperação, sua multa caiu para 422,5 mil libras. Bodin disse que os erros foram descobertos e que o Reino Unido está se movendo em uma boa direção.
No Brasil, Maranhão disse que ainda há potencial para avançar com serviços anticorrupção. A receita gerada de outubro de 2019 a janeiro de 2020, bem como o faturamento total já são maiores que há um ano. Para o fechamento de 2020, ele prevê que a receita será 15% a 20% maior em base anual e que a crise na China não terá impacto no resultado.
O que também deve impulsionar a demanda são as transações de compra e venda de empresas. Pressionadas por dívidas, muitas delas são oferecidas a preço baixo. Além disso, a cotação elevada do dólar e a reforma política favorecem a entrada de investidores, afirmou Maranhão.
Sobre a área de foco, Maranhão destaca que de 60% a 80% do PIB é movimentado por empresas familiares que estão no “middle market”. “É um segmento extremamente relevante”. Os levantamentos indicam que a maioria dessas empresas não está estruturada para crescer, participar de fusões e aquisições, e outros movimentos de mercado, o que abre oportunida para a Grant Thornton atuar.
A Grant Thornton estima que 80% das empresas do mundo são familiares, muitas das quais estão no topo da economia global. No Brasil, o índice é de 90%. A companhia cita estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), para concluir: “Embora elas representem cerca de 65% do PIB e 75% da força de tr
e trabalho, a pesquisa demonstra que de cada 100 empresas familiares abertas e ativas, apenas 30 sobrevivem à primeira sucessão e cinco chegam à terceira geração.” É um vasto mercado para especialistas em contabilidade.
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