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A Gaivota quer ser o software da agricultura — Canary e Valor Capital já alçaram voo

A gaivota migra para fugir do inverno graças a um mecanismo biológico que capta informações na atmosfera sobre a mudança na duração dos dias e das noites, o que indica a passagem das estações. O barômetro do pássaro, sensível ao clima, é uma boa metáfora do que a agricultura brasileira — e global — deveria se tornar para alimentar e preservar.

Voando abaixo do radar nos últimos cinco anos, a Gaivota — uma agtech brasileira — acaba de deixar o anonimato com uma proposta ambiciosa: reunir em um só software tudo o que os fornecedores de insumos e clientes dos agricultores brasileiros precisam, do acompanhamento e monitoramento ambiental de safra à gestão dos fluxos de compra, venda e financiamento no campo.

A criação da Gaivota é obra de um trio de brasileiros que se conheceu estudando na Califórnia, reunindo a experiência em big data e machine learning. Alexandre Spitz, Mateus Neves e Ram Rajagopal (o nome é indiano, mas o executivo é carioca do Arpoador e professor de Stanford há dez anos) vinham testando os serviços da agtech com clientes, mas agora vão oferecer a modalidade freemium da plataforma.

Enquanto estava longe dos holofotes — propositadamente —, a Gaivota fez duas rodadas, atraindo investidores entusiasmados com o background dos empreendedores. A startup não abre quanto já captou, mas levantou recursos com Canary, Valor Capital, Alexa Ventures e Mandi Ventures (firma de Antonio Moreira Salles, filho de Pedro Moreira Salles).

“Agro e saúde são duas áreas que olhamos desde sempre, mas só nos últimos três anos começamos a enxergar oportunidades e empreendedores”, diz o sócio da Valor Capital, Michael Nicklas.

Ao criar um software vertical para os players da agricultura, a Gaivota quer economizar o tempo dos clientes e ganhar eficiência. Atualmente, já existem diversas soluções isoladas no mercado que acabam forçando operadores a ficarem com meia dúzia de janelas abertas simultaneamente no computador, diz Spitz, o CEO da agtech. A solução da Gaivota foi pensada do zero — e toda na nuvem — para reunir tudo num só lugar (na primeira fase, apenas alguns módulos vão funcionar).

Entre os serviços oferecidos nesta estreia, há o acompanhamento da safra de soja a partir de modelos de inteligência artificial, atualizado a cada cinco dias, com alcance de 10 metros. A Gaivota chega ao mercado com um apelo de marketing (de graça, os primeiros 100 clientes poderão monitorar a safra de soja em cinco municípios escolhidos por eles e a pegada ESG). No futuro, o fremium será liberado para qualquer cliente.

Ao cruzar dados de diferentes satélites com as bases públicas de órgãos como Ibama, Inpe e Funai, a Gaivota garante saber exatamente onde está soja ilegal, um trunfo que a agtech vai explorar para dar conta das crescentes pressões da União Europeia.

“O Brasil só perde tempo discutindo com o mundo se é protecionismo em cima da soja, reclamando do Macron [presidente da França] e da União Europeia. Nós viemos para tirar a tampa da caixa de Pandora e dizer: é isto, não tem mais discussão”, diz Spitz. Pelo modelo da Gaivota, ele garante que, no Cerrado — onde está a maior parte da soja brasileira — 96% estão em áreas legais. A agtech também está refinando os dados na Amazônia para chegar a um número certeiro do que é legal ou ilegal.

No debut, a plataforma apresenta um mapeamento de problemas socioambientais no segmento e revela que mais de um milhão de hectares cultivados com soja no Brasil são provenientes de áreas desmatadas ilegalmente. O objetivo é ajudar empresas que atuam além da porteira na área de compliance ambiental.

No monitoramento de safra, a Gaivota não está disputando o mercado sem rivais. Outras concorrentes, como A de Agro (antiga Agronow), Brain — uma startup vendida no início do ano à Serasa — e Agrotools também oferecem soluções do gênero. Para Spitz, nenhuma delas oferece um produto gratuito e nem abrangem a quantidade de soluções que a nova agtech terá.

“Mais do que falar sobre as soluções de concorrentes, acreditamos muito na Gaivota e em seus fundadores. Desde nossos primeiros papos, Alexandre e Mateus mostraram experiências, talento e habilidades para construir um negócio capaz de levar o agro para outro nível no Brasil”, diz Marcos Toledo, Managing Partner da Canary.

Quem conhece a indústria de agtech de perto, no entanto, garante que o desafio da Gaivota não é nada trivial. “Eles precisam ser disruptivos, mas um Moreira Salles não coloca dinheiro à toa”, comenta um executivo que já investiu em concorrentes da Gaivota.

O mercado endereçável é promissor. Atualmente, o agro brasileiro investe pouco em software. São gastos US$ 260 milhões por ano, um montante que pode chegar a US$ 1,2 bilhão por ano com a convergência à média de outros setores e países. Os potenciais clientes da Gaivota — tradings, revendas de insumo, fabricantes de sementes e agrotóxicos — faturam cerca de US$ 200 bilhões por ano no mercado brasileiro.

Gradualmente, a Gaivota também vai expandir o serviço para outras culturas agrícolas, incluindo milho, algodão e cana-de-açúcar. Uma das maiores responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa, a pecuária ainda não está no radar por exigir mais tecnologia. “O boi se mexe, a lavoura não”, assim Spitz resume a dificuldade. Quem sabe outros voos não sejam necessários…

Fonte: Pipeline Valor

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