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Altas temperaturas e seca reduzem produtividade da soja brasileira, diz estudo

Aumento de cada 1°C reduziu 6% dos resultados; produtores subestimam problema

Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM) e publicado no International Journal of Agricultural Sustainability em janeiro deste ano concluiu que o aumento das temperaturas e as secas no cerrado brasileiro estão reduzindo a produtividade da soja.

Os pesquisadores do IPAM descobriram que a cada aumento de 1°C na temperatura acima da média histórica (1980 a 2018), a produtividade da soja diminui 6%. Daniel Silva, líder do estudo, enfatizou que mesmo essa pequena redução já representa um impacto significativo. Além disso, eventos climáticos extremos, como as secas do El Niño em 2015 e 2016, que elevaram as temperaturas acima de 3°C, resultaram em perdas de produtividade de até 18% no cerrado.

Com o retorno do El Niño em 2023, há preocupações de que isso possa trazer riscos adicionais para a soja. Atualmente, o Brasil é responsável por 40% da produção mundial de soja, ultrapassando os Estados Unidos. Mais da metade da área cultivada do país é dedicada ao cultivo da soja, o que corresponde a aproximadamente 40 milhões de campos de futebol.

À medida que as regiões com solos e climas favoráveis se tornam mais escassas no centro-sul do Brasil, as lavouras de soja estão se expandindo para áreas mais quentes e secas do cerrado, como a região conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). No entanto, as mudanças climáticas em curso estão gerando incertezas para a produção, especialmente nessas áreas de expansão da soja.

De acordo com especialistas, expandir a produção nessas áreas é um “tiro no pé”. Mercedes Bustamante, bióloga e presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ressalta que o aumento das temperaturas e as secas estão tornando essas regiões cada vez menos adequadas para a agricultura. O cerrado brasileiro está experimentando um aumento médio anual da temperatura e projeções indicam que a porção norte do cerrado pode se tornar imprópria para a agricultura caso essas tendências continuem.

Relatórios do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) também alertam que as temperaturas nas regiões centrais do Brasil continuarão subindo acima da média global, reforçando a preocupação dos especialistas.

Além disso, estudos indicam que as secas, que são provocadas pelo aquecimento global, terão um aumento dramático até 2100, impactando as terras agrícolas. Entre 2011 e 2019, o Brasil já enfrentou secas extremas que atingiram quase todo o território, especialmente nas regiões Nordeste e Sudeste, superando recordes de 60 anos.

Embora as pesquisas científicas demonstrem as perdas agrícolas causadas pelas mudanças climáticas, os agricultores entrevistados pelo IPAM no Matopiba não consideramo fenômeno como uma ameaça significativa. Eles estão mais preocupados com as flutuações climáticas de curto prazo. A pesquisa revelou que a principal barreira para aumentar a produção de soja é a variação climática anual, citada por 33% dos produtores. Em seguida, estão o acesso ao crédito (17%) e a logística (15%).

A pesquisa também constatou que a maioria dos produtores (39%) acredita que as mudanças climáticas são resultado de oscilações naturais, enquanto o desmatamento foi mencionado por 13% e o aquecimento global por 11%. No entanto, estudos mostram que o desmatamento contribui para tornar o cerrado mais seco e quente, prejudicando o ciclo da água e afetando a disponibilidade de umidade no solo.

Outra pesquisa realizada por universidades brasileiras previu uma redução de 34% na vazão dos rios no cerrado até 2050, o que afetará significativamente a agricultura, a geração de energia, a biodiversidade e o abastecimento de água.

Apesar dos desafios impostos pelas mudanças climáticas, os produtores de soja ainda acreditam que os investimentos em tecnologia e capital permitirão contornar essas barreiras, assim como aconteceu no passado com a expansão agrícola no cerrado. No entanto, especialistas como Daniel Silva e Mercedes Bustamante não estão convencidos de que a tecnologia será capaz de lidar com as rápidas mudanças climáticas em curso, especialmente nas áreas mais vulneráveis.

A pesquisa do IPAM mostrou que os choques climáticos já estão levando os agricultores a adotar medidas de adaptação, como ajustes no calendário de colheita, adoção de sistemas de plantio direto e rotação de culturas. No entanto, essas medidas não são suficientes para garantir a sustentabilidade da produção de soja no longo prazo.

Além disso, o aumento da demanda por água devido às altas temperaturas está levando os agricultores a buscar empréstimos para cobrir os custos de irrigação. A escassez de água é vista como o principal risco para o futuro da soja no Brasil, e já causou perdas significativas em safras recentes.

Embora a soja brasileira tenha batido recordes de produção, os pesquisadores alertam que os impactos climáticos de longo prazo, como as mudanças nas condições de temperatura e disponibilidade de água, representam um risco real para a sustentabilidade da produção. É importante que os agricultores e as autoridades reconheçam a importância de medidas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas, além de buscar soluções sustentáveis para garantir a continuidade da produção agrícola no Brasil.

Fonte: Folha

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