Alta no preço do petróleo pode afetar custo de produção de fertilizantes, diesel e fretes, além de envolver países árabes que negociam com o Brasil
A guerra em curso no Oriente Médio entre Israel e o Hamas tem potencial para afetar o setor agropecuário brasileiro de várias maneiras. Embora o impacto inicial não seja imediatamente evidente, os desdobramentos do conflito podem influenciar o custo de produção de insumos agrícolas essenciais, como fertilizantes, diesel e fretes, de acordo com informações da EXAME Agro. Além disso, a possibilidade de envolvimento de países árabes que mantêm relações comerciais com o Brasil representa outro risco.
A análise da Cogo Inteligência em Agronegócio sugere que o conflito provavelmente será prolongado, e isso poderia resultar em aumentos nos preços de algumas commodities se a situação persistir. Carlos Cogo, sócio-diretor da consultoria, destaca essa possibilidade.
No ano anterior, o Brasil exportou produtos agropecuários no valor de US$ 727,43 milhões para Israel, com ênfase em carnes (33,9% do total), soja (27%), cereais, farinhas e preparações (26,2%), produtos florestais (4%), café (3,5%) e sucos (2,3%). Por outro lado, as exportações para a Palestina foram consideravelmente menores, totalizando US$ 29,9 milhões, principalmente compostas por carnes, cacau e outros produtos alimentícios.
Por sua vez, o Brasil importa fertilizantes, defensivos agrícolas e sementes de Israel, com compras no valor de US$ 1,45 bilhão em 2022. O país é responsável por 9% do cloreto de potássio adquirido e 11% do fosfato diamônico (DAP), de acordo com o relatório da consultoria.
Cogo acredita que o confronto não deve impactar significativamente o comércio agrícola entre o Brasil e Israel, nem causar problemas de disponibilidade de fertilizantes israelenses. Ele prevê que as exportações de carne, soja e milho para Israel não serão interrompidas.
No entanto, ele observa que um aumento no preço do petróleo pode afetar o custo de produção de fertilizantes, especialmente considerando que os preços da ureia já estavam em alta antes do início do conflito. A ureia teve um aumento acumulado de 15% em setembro, atingindo a cotação de US$ 400 por tonelada CFR, enquanto os preços de fosfatados e potássicos permaneceram relativamente estáveis.
Outra preocupação é a escalada do conflito no Oriente Médio, já que os países árabes são destinos significativos das exportações do agronegócio brasileiro. Como essa região é um importante produtor de petróleo, um agravamento do conflito poderia resultar em custos energéticos mais elevados. Embora o Brasil seja considerado “neutro” no conflito, poderia haver riscos logísticos, especialmente relacionados aos compradores árabes.
Além disso, o conflito já teve um impacto inicial na cotação do petróleo, que subiu devido às incertezas no Oriente Médio, mesmo que Israel não seja um grande exportador de petróleo. A valorização do petróleo pode afetar diretamente a produção de fertilizantes, diesel e etanol de cana e milho. O petróleo é a matéria-prima principal dos fertilizantes nitrogenados, e um aumento nos preços pode afetar o custo de produção, o que é preocupante quando as cotações de grãos estão em baixa.
Em resumo, a guerra no Oriente Médio tem o potencial de impactar diversos aspectos do setor agropecuário brasileiro, desde a produção de insumos até o comércio de produtos agrícolas, dependendo da duração e da intensificação do conflito.
Fonte: Exame
