Ministério da Agricultura considera apenas 62 casos confirmados, mas estudo da FGV Agro encomendado pela Anffa Sindical estima prejuízos se o cenário piorar
Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-Agro), a pedido do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical), revelou que a disseminação em larga escala da influenza aviária teria um impacto anual negativo de R$ 21,7 bilhões na economia brasileira. De acordo com o estudo, divulgado nesta terça-feira, 11, o agronegócio seria o mais afetado, com prejuízos de R$ 11,8 bilhões e a perda de 26 mil postos de trabalho.
Esses valores consideram a perda total na produção, exportação, renda e salários, além da redução de R$ 1,3 bilhão na arrecadação de impostos e de R$ 3,8 bilhões na renda do brasileiro.
De acordo com a pesquisa, a cada R$ 100 de desvalorização das exportações de carnes aviárias, o setor de comércio perderia R$ 11. Isso significa que o impacto indireto negativo para varejistas e atacadistas seria de 11% do total das perdas na cadeia aviária. Além disso, haveria uma redução de 8% na produção de rações animais, 6% no setor elétrico, 4% no transporte terrestre de cargas, entre outros segmentos.
“Essa estimativa de prejuízos para cada setor da economia é uma situação hipotética apresentada pelo estudo e nos mostra a gravidade do problema caso a defesa agropecuária não atue rapidamente. O Brasil tem capacidade para responder a um eventual surto. Estamos trabalhando em conjunto com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e os auditores agropecuários estaduais para evitar tais efeitos”, afirma Janus Pablo Macedo, presidente do Anffa Sindical.
Segundo o painel sobre gripe aviária do Mapa, até segunda-feira, 10, foram investigados cerca de 1,4 mil casos, sendo que em 319 foi necessário coletar amostras para testes laboratoriais. Dessas amostras, 62 apresentaram resultado positivo para o vírus da influenza aviária de alta patogenicidade, enquanto outros 6 casos estão em análise.
Os motivos do estudo
Talita Priscila Pinto, doutora em Economia Aplicada e pesquisadora da FGV Agro, explica que o estudo foi encomendado há alguns anos, antes do surto de gripe aviária no país em 2023. Além disso, o pedido da Anffa tinha outro objetivo: compreender os prejuízos para o setor no caso de paralisação dos auditores fiscais agropecuários.
“Conversamos com a Anffa e eles nos pediram para tentar medir o impacto que teria ocorrido se a atividade tivesse parado durante a pandemia. Além disso, eles nos solicitaram avaliar cenários alternativos, como o caso de um surto disseminado e descontrolado de influenza aviária no Brasil”, diz Talita.
Com base nos dados gerados pelo estudo, o sindicato dos auditores fiscais agropecuários busca reforçar a importância da realização de mais concursos públicos para o trabalho de inspeção. Isso ocorre porque, em meio a uma das maiores crises de influenza aviária no país, há falta de auditores desde as áreas rurais até os portos e aeroportos. Atualmente, existem 2,4 mil servidores ativos, mas o Anffa considera necessário o acréscimo de mais 2 mil auditores para cobrir todas as atividades.
O estudo também avaliou a quantidade de casos de influenza aviária registrados em países vizinhos ao Brasil. Com base nisso, os pesquisadores definiram os estágios de risco do vírus H5N1, sendo o mais grave compreendido desde o dia em que o vírus entra no país até a data de confirmação do primeiro caso. “É nesse período que estamos completamente expostos e dependemos da eficiência da vigilância agropecuária”, afirma a pesquisadora.
O outro estágio de alto risco do H5N1, segundo a pesquisadora, ocorre desde o momento em que o vírus é detectado até o dia em que ele é contido no território nacional. Nesse aspecto, é possível determinar o período em que as atividades produtivas relacionadas a cada setor da economia precisam ser interrompidas, além das decisões que devem ser tomadas para conter o avanço da doença.
Fonte: Exame