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Trigo: Clima ruim e preço em baixa transformam promessa de safra recorde em incerteza e prejuízo

Desvalorização internacional e perda nas lavouras por causa do excesso de chuva anulam lucro no campo e devem frear recente ascensão do cultivo no Brasil

Apesar de um aumento de 12,1% na área plantada e das expectativas de uma safra recorde, o cenário do trigo brasileiro na atual colheita é marcado pela incerteza e decepção. Problemas climáticos já resultaram em uma redução de 11,6% na produtividade, e essa situação pode se agravar ainda mais com a previsão de chuvas intensas no Sul nas próximas semanas. Essa adversidade no campo se soma à significativa queda nos preços, o que anula os lucros e, em alguns casos, leva a prejuízos para os produtores.

Esse quadro contrasta com o crescimento expressivo da cultura nos últimos cinco anos no país, onde a área plantada de trigo aumentou 69,6%, passando de 2,04 milhões de hectares em 2019 para 3,46 milhões em 2023. A produção do cereal mais que dobrou, saltando de 5,16 milhões de toneladas para 10,55 milhões de toneladas no ano passado, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Esse aumento foi impulsionado pela valorização do mercado internacional, que atraiu os produtores, especialmente no Rio Grande do Sul, onde há mais áreas disponíveis durante o inverno para o cultivo de trigo. No entanto, o desempenho menor nas lavouras é resultado principalmente de quebras de safra no Sul, com a estimativa de colher 530,7 mil toneladas (-5,5%) a menos e uma queda de 12,9% na produtividade. A maior perda é registrada no Rio Grande do Sul, o maior produtor do país, onde a Conab calcula uma produção 16,9% menor, totalizando 4,76 milhões de toneladas.

Dados divulgados pela Conab indicam que, com cerca de 40% das lavouras já colhidas, a previsão é de uma queda na produtividade de 3.420 kg/ha para 3.023 kg/ha e uma produção total de 10,46 milhões de toneladas, uma diminuição de 0,9% em relação à safra anterior.

Lucílio Alves, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), destaca que as perdas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, que podem atingir 1 milhão de toneladas, devem ser compensadas pelo aumento de 13,9% na oferta do Paraná e pelo avanço da produção no Sudeste e no Centro-Oeste. No entanto, a rentabilidade é uma preocupação, uma vez que os preços atuais caíram 40% em relação ao ano anterior, enquanto os custos de produção permaneceram elevados. A ativação do seguro pode ajudar a amenizar os custos, mas as margens de lucro apertadas ou negativas preocupam os produtores em relação à safra atual e às decisões para a temporada de 2024.

Um relatório recente do Cepea mostrou que o preço médio do trigo em setembro no Rio Grande do Sul foi de R$ 1.150,70 por tonelada, o que representa uma queda de 10,3% em relação a agosto de 2023 e 34,1% em relação a setembro de 2022.

Jonathan Pinheiro, gestor de risco de trigo na Stone X, observa que a mudança no cenário internacional em 2023 tornou mais difícil para os produtores cobrirem os custos de produção de trigo, e isso pode fazer com que muitos reconsiderem suas decisões para o próximo ano. No entanto, ele acredita que as áreas que receberam incentivos para plantar em regiões não tão tradicionais, como Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, podem continuar mantendo a produção, já que os moinhos podem obter o trigo de que precisam a preços mais atrativos no mercado interno.

Pinheiro destaca que o mês de outubro é crucial para a safra de trigo, com o início da colheita no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, e cerca de 30% da safra do Paraná ainda por colher. No entanto, a previsão de chuvas intensas nas próximas duas semanas pode causar quebras significativas nas lavouras, especialmente no Sul. Além disso, as chuvas podem afetar a qualidade do trigo colhido, o que é preocupante para os produtores.

A competição por espaço nos armazéns, estradas e portos com soja e milho é outro desafio para o trigo brasileiro. A capacidade portuária é limitada, resultando em uma janela de exportação estreita. A falta de espaço para armazenagem de trigo, devido à prioridade dada a soja e milho, pressiona as vendas e limita a capacidade dos produtores de esperar por preços mais atrativos.

No mercado global de trigo, o Brasil deve continuar sendo um dos maiores importadores do cereal, com um volume que representa quase metade de seu consumo, de acordo com analistas. A manutenção das importações é estratégica para os moinhos, que consideram fatores como crédito, qualidade do trigo internacional e relacionamento com fornecedores. No entanto, a produção nacional atual não é suficiente para atender à demanda do país.

Por outro lado, há otimismo em relação à possibilidade de o Brasil ampliar as exportações de trigo devido à boa qualidade do produto nacional e às necessidades de países do norte da África e do Oriente Médio, que podem redirecionar suas importações devido a fatores externos, como a guerra entre Ucrânia e Rússia.

Quanto às perspectivas para 2024, os analistas reconhecem que a recente queda nos preços teve um impacto significativo, mas consideram que os valores ainda são remunerativos em comparação com anos anteriores. A volatilidade do mercado internacional, influenciada por fatores geopolíticos e climáticos, provavelmente continuará afetando os preços do trigo.

Fonte: Exame

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