A detecção de traços do vírus SARS-Cov-2 em embalagens levou as autoridades do porto de Xangai a travar a liberação de um carregamento de carne bovina do Brasil, em meio à rígida quarentena em vigor atualmente na metrópole chinesa. O vírus foi encontrado numa embalagem externa, e não nos produtos brasileiros. A decisão anunciada no dia 15 pela aduana chinesa aplica-se somente a essa carga específica, e não significa a suspensão dos estabelecimentos de origem — neste caso das empresas Marfrig, JBS e Naturafrig.
Mas indica um aumento adicional no controle sanitário sobre os alimentos que a China importa, indo além do extremo rigor que já vinha sendo aplicado desde o início da pandemia. Depois de vários meses sem registro de ocorrências desse tipo, desde o início do ano ao menos quatorze carregamentos brasileiros de carnes — bovina, suína e de aves — foram suspensos por conterem traços do vírus causador da Covid-19. Vários outros países foram atingidos com punições semelhantes pelo mesmo motivo.
No ano passado o Brasil sofreu três meses de embargo às exportações de carne bovina para a China devido a dois casos atípicos do mal da vaca louca. Embora a suspensão não tenha tido ligação com o coronavírus, segundo fontes ligadas às negociações os problemas do Brasil no controle da pandemia contribuíram para a demora na autorização dos chineses para a retomada das exportações do produto.
Hoje o rigor das inspeções é um obstáculo a mais para os exportadores, que têm enfrentado grandes atrasos em virtude da quarentena no porto de Xangai, o maior do mundo. Embora o porto continue operando — dentro de um cordão sanitário que o isolou do resto da cidade — o descarregamento foi seriamente afetado devido às restrições logísticas causadas pela pandemia, como a drástica redução de caminhões para escoar as mercadorias. O resultado é um congestionamento monstro de navios nas proximidades de Xangai e contêineres se empilhando no porto.
A quarentena em Xangai foi decretada no dia 27 de março, em resposta a uma escalada de casos de Covid. Inicialmente o plano era que a medida durasse apenas nove dias, mas com a alta contínua no número de casos positivos as autoridades decidiram estender a quarentena por tempo indeterminado, mantendo em confinamento absoluto os 25 milhões de habitantes. Além dos problemas logísticos que levaram parte da população a enfrentar escassez de alimentos, as rígidas medidas de controle interromperam a cadeia produtiva, atingindo o transporte de carga e parando fábricas por falta de pessoal.
Não faltam exemplos dos danos causados pelo rigor das medidas, que muitos consideram excessivas. Num deles, toda a carga de um caminhão, avaliada em 2 milhões de yuans (RS $1,4 milhão), foi destruída depois que o motorista testou positivo. Em outro, um importador que pediu ajuda à embaixada brasileira contou que está esperando sua carga ser liberada no porto de Xangai desde janeiro.
Com centenas de navios esperando para serem descarregados, já há sinais de desabastecimento também em algumas embarcações, com suas tripulações enfrentando escassez de alimentos e produtos básicos, contou uma fonte. Prevendo encarar os mesmos problemas, muitos exportadores brasileiros estão evitando enviar cargas a Xangai, principal porta de entrada da carne do país na China continental, já que mesmo quando a quarentena foi levantada, e ainda não há previsão para isso acontecer, levará um tempo até que o porto volte a operar normalmente.
Fonte: O Globo