Cada vez mais independente do financiamento tradicional proporcionado pelo Plano Safra, o agronegócio está desenvolvendo estratégias para diversificar suas fontes de crédito, com o objetivo de aumentar a produtividade. Na segunda-feira, 9 de outubro, representantes do setor produtivo e do sistema financeiro se reuniram em São Paulo para debater como atender às necessidades das propriedades rurais de pequeno, médio e grande porte.
Do ponto de vista dos produtores, foram identificados quatro principais obstáculos: esgotamento do modelo de financiamento do Plano Safra, crise orçamentária, altas taxas de juros e custos bancários. No estado do Mato Grosso, mais de 30% da safra de soja é financiada pelos próprios produtores, de acordo com Azael Pizzolato Neto, presidente da APROSOJA.
Pizzolato afirma: “Precisamos reduzir as taxas de juros, mantendo a responsabilidade fiscal e priorizando a reforma administrativa. Além disso, devemos considerar a diminuição dos Custos Administrativos e Tributários (CAT) cobrados pelos bancos, o fortalecimento das instituições cooperativas e a exploração de novos modelos de financiamento, como a Cédula do Produtor Rural (CPR).”
Ele acrescenta: “Taxas de juros superiores a 7% tornam os recursos governamentais para equalização ineficazes. Além disso, é essencial investir em infraestrutura, logística e armazenagem, além de aumentar o apoio do governo ao financiamento e seguro agrícola, quando comparado aos Estados Unidos.”
Títulos do setor agropecuário
Roberto França, diretor de agronegócio do Bradesco, lembra que o Plano Safra 2023/24 prevê a liberação de R$ 436 bilhões, provenientes principalmente de depósitos à vista dos bancos, poupança rural, Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), fundos institucionais e recursos do BNDES. No entanto, apenas os depósitos à vista, que correspondem aos recursos obrigatórios, totalizam R$ 150 bilhões, e ainda não são suficientes.
“É necessário obter mais financiamento para atender às regiões do Centro-Oeste, Matopiba e Sul. O mercado de crédito para o agronegócio atingiu R$ 843 bilhões em dezembro de 2022, um aumento de 134% nos últimos três anos, impulsionado pelo crescimento dos títulos do setor agropecuário”, afirma França.
Ele observa que a adesão a diversos mecanismos de financiamento está crescendo rapidamente, com a CPR registrando um aumento anual de 57%, seguida pelas Letras de Crédito do Agronegócio (49%), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (28%) e Certificado de Crédito do Agronegócio (23%). Além disso, houve um aumento de 170% na adesão aos Fiagros.
“Os bancos reconhecem a importância do agronegócio para a economia brasileira e precisam desenvolver novas maneiras de financiar o setor. No entanto, vale ressaltar que os bancos não controlam as taxas de juros, mas sim o spread bancário, sendo o spread para o agronegócio um dos menores e mais vantajosos em comparação com outras carteiras”, afirma França.
Cooperativas de crédito
Os especialistas concordam que há uma necessidade premente de direcionar mais recursos para a agropecuária. A participação de diferentes atores, como bancos comerciais, cooperativas, fintechs, além de instrumentos como FDICs e CPRs, contribui para a diversificação das fontes de financiamento.
Nesse contexto, as cooperativas de crédito desempenham um papel discreto, porém fundamental, nas áreas rurais do país. De acordo com a Organização Brasileira de Cooperativas (OCB), existem 728 cooperativas de crédito atendendo a 15,5 milhões de pessoas, o que corresponde a 10% do market share do sistema financeiro nacional. Esse desempenho é impulsionado pelo agronegócio, uma vez que os cooperados atuam tanto como provedores quanto como tomadores de crédito, impulsionando a economia local.
Walmir Segatto, CEO da Sicoob Credicitrus, menciona alternativas, como buscar fundos soberanos para apoiar a agricultura de baixo carbono e oferecer linhas de crédito em moeda estrangeira para proteger os empresários rurais da volatilidade cambial.
Fonte: Exame
